Capítulo 14

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A minha mãe não falava e nem olhava para mim, era como se ela estivesse com vergonha do que eu fiz e eu nem sabia o que tinha feito. Eu nunca me importei com o castigo de silêncio que ela me dava, era melhor do que ter que ouvir ela me dando ordens o tempo inteiro.

A hora da janta estava chegando e eu precisava falar com ela porque não havia comido nada desde ontem no almoço.

- O que vamos comer?
- Salada.
- De novo?

Ela ainda estava me ignorando.

- Você me fez passar vergonha ontem.

Ela fala tomando toda a minha atenção.

- Nem tudo é sobre você, mãe.
- Nós não vamos jantar com eles por um bom tempo por sua culpa.
- Isso era pra ser um castigo?
- Eu achei que você gostasse de ir jantar com eles.
- Pra que se você nem me deixa comer?
- Você come que nem uma porca.
- Eu não tenho culpa se você odeia o seu corpo e quer que eu vire uma neurótica que nem você.
- Você está me desrespeitando de novo.
- Você praticamente implorou por isso.
- Você andou vendo ele, não andou?
- O que?
- Eu sei que você viu ele, só ele deixa você assim. Ele faz isso com você sempre.
- O que ele faz?
- Ele faz você me desrespeitar pra que possa ter você só pra ele.
- Eu não estou vendo ninguém.
- Eu sei que ele fala que ama você, mas ele não ama.
- CALA A BOCA. - levanto.
- CALA A BOCA VOCÊ E VAI PARA O SEU QUARTO AGORA.
- Achei que você nunca mandaria. - debocho.

Eu estava vivendo todos os dias sabendo que ele me buscaria à noite. Eu não me importava mais em dormir duas horas por noite, não me importava com mais nada, desde que pudesse ver ele.

Pela minha janela, pude ver o carro chegando de longe. Chaveio a porta do quarto e saio pelo telhado, como no outro dia.

- Você já pode sair? - pergunta me vendo entrar no carro.
- Ela está com muito raiva pra perceber que eu sumi agora.
- Tudo bem. - diz sorrindo.
- Vai logo.

Ordeno e ele acelera o carro no mesmo segundo.

O sorriso em seu rosto só mostrava o quanto ele gostava quando eu enfrentava a minha mãe, mas aquilo não me incomodava nem um pouco.

- Eu vim buscar você ontem.
- Você veio?
- Vim.
- Desculpa, eu não estava em casa.
- Eu vi eles entrarem com você no colo. Aconteceu alguma coisa?
- Quer saber tudo?
- Por favor.
- Minha mãe quer me casar com o filho do amigo do meu pai porque ela acha que isso vai fazer eles virarem sócios.
- O que?

Ele freia o carro e fica me olhando sério.

- E eu estava tão irritada ontem, que nem comi nada.
- Você não pode.
- Comer? Minha mãe me proíbe tanto que eu sinto que já me acostumei com a fome.
- Você não pode casar.
- Eu sei, eu não quero casar com ele. Mas, por que não?
- Porque não.
- Eu não vou.
- Não deixa ela decidir a sua vida por você.
- Eu me sinto tão cansada o tempo inteiro e eles nem ligam pra isso. Eles colocam toda vida deles na minha responsabilidade e eu sou obrigada a agir como se fosse um fantoche.
- Por que você não faz nada?
- Eu não tenho mais ninguém.
- Você tem à mim.
- Você?
- Eu sempre vou estar aqui por você.

Durante a viagem, eu oscilava entre olhar para ele e olhar para as estrelas.

- Onde nós vamos hoje? - pergunto.
- Primeiro, comer alguma coisa. - diz parando o carro em frente à uma lanchonete.
- Eu comi hoje. - digo saindo do carro.
- O que você comeu?
- Salada.
- Ela te deu salada depois de você ficar tanto tempo sem comer.
- Essa é a única coisa que eu como.
- Ela vai matar você assim.
- Eu sei, mas não é como se eu me importasse.

Entramos na lanchonete e ele pede o mesma hambúrguer para nós dois, como se ele soubesse do que eu gosto.

- Por que você está olhando pra mim com esse olhar de pena? - pergunto.
- Não estou com pena de você.
- Você acha que eu sou suicida.
- Eu não falei isso.
- Eu não sou.

Ficamos em silêncio absoluto até as comidas chegarem. Depois disso, trocamos poucas palavras porque eu estava com tanta fome que não conseguia parar de comer para falar qualquer coisa.

- Você gostou? - pergunta me vendo terminar de comer.
- Gostei.

A comida estava boa, mas a culpa bateu tão depressa quanto a velocidade em que eu comi.

- Eu quero levar você pra mais dois lugares.
- Eu só preciso ir ao banheiro antes.
- O que você vai fazer?
- O que se faz no banheiro. - digo saindo da mesa.

Eu estava mentindo e isso era óbvio.

Entrando no banheiro, eu já podia sentir a comida na minha garganta. Eu estava me odiando tanto por ter comido tudo aquilo.

Fico longos minutos me olhando no espelho, até decidir tirar aquilo tudo de dentro de mim. Coloco o dedo na garganta e sinto uma presença atrás de mim.

- Você não vai fazer isso. - sinto ele me puxar.
- O que você está fazendo? Você não pode entrar aqui.
- Eu não dou a mínima. - diz me colocando na parede.
- Sai daqui, por favor.
- Você não vai vomitar o que comeu. - segura o meu rosto me forçando a olhar para ele - Você me ouviu?
- Por que você se importa?
- Eu não vou deixar.
- Minha mãe sempre faz isso, qual é o problema?
- Você não é a sua mãe e eu não vou deixar você fazer isso com você. - me solta - Nós vamos sair daqui agora e você não vai mais fazer essa merda enquanto estiver comigo. Entendeu?

Saio do banheiro com a cabeça baixa e vou assim até um longo tempo da viagem. Eu não estava acostumada com alguém se importando comigo, aquilo me assustava.

- Eu sinto muito por aquilo. Eu sinto tanta vergonha de mim agora. - digo.
- Eu não quero que você se desculpe, só quero que você pare de se machucar desse jeito.

i still couldn't reach your ego 2: depois do fim - Jaden HosslerOnde histórias criam vida. Descubra agora