03 - Abandonada

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Eu não tenho ideia se o Wattpad está notificando vocês...

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Pov: Camila.
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Era engraçado como Marie e Cake se davam bem. Não que eu gostasse disso o tempo todo, porque a mais velha tinha costume de ensinar o que não devia, mas era de se admirar.

Marie foi a primeira criança que realmente ganhou minha pestinha.

— Não é engraçado como as duas se dão bem? — perguntei a Normani, empurrando o carrinho do melequentinho.

Olhei ao longe e Lauren caminhava com Dinah enquanto vigiavam as meninas mais de perto.

Normani abriu um sorriso cheio de afeto. Eu nunca entendi como as pessoas podiam ficar tão bobas ao verem crianças.

Quer dizer, elas são tão estranhas! E por falar em estranhas, o maluco do garoto que eu chamava de filho jogou o brinquedo que o distraía bem em mim e riu.

Aparentemente era mais divertido jogar as coisas em mim do que brincar com elas.

— Ô garoto, eu sou tua mãe, me respeita! — ralhei com ele, experimentando fechar a cara e por a mão na cintura como Lauren.

Ele riu. Feladaputinha.

E digo assim que é pra não xingar nem a mim nem a Lauren, ainda que ser puta algumas vezes não fosse algo necessariamente ruim.

O mini Lauren esticou os braços e o peguei, parando com Normani e sentando em um banco porque ele era realmente pesado.

— Sim... — Normani disse do absoluto nada — lembro de quando se conheceram... o pânico que Cake sentiu.

Ela riu um pouco e até abri um sorriso porque naquela noite foi a primeira vez que a pirralhinha demonstrou como queria que eu fosse sua mãe.

— Mas como está você sobre o Bear? — ela perguntou, voltando-se para mim.

Dei de ombros.

— Ah, Mani... continua difícil. Sou muito ruim em dizer que não nasci pra ser mãe? Quero dizer, eu definitivamente amo meus filhos, mas não levo jeito para isso — fiz uma careta — não é como se eu fosse eliminar os dois da minha vida se pudesse, apenas me sinto um tanto estranha tentando manter dois seres humanos vivos quando eu mal consigo viver sem acidentes.

Normani riu por como eu falei.

— Do que estão rindo? — perguntou Lauren, se aproximando e me deixando um beijinho nos lábios e outro sobre os cabelos do nosso filho.

— Do desastre de mãe que eu sou — contei a Lauren, que riu e negou com a cabeça — oh, não negue! Você sabe bem...

Mas ela ainda ria e negava.

— Você não é tão ruim assim — ela disse em tom de consolo.

— Ah, claro. Só um tanto ruim — assenti com a cabeça e recebi só um sorriso apaixonado.

— Não matando as crianças já está bom — falou Dinah, esticando os braços para Bear e o recebendo de bom grado — é minha política dentro de casa.

— Sim! É disso que se trata! — concordei também com a cabeça.

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Pov narrador
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Cake corria atrás de Marie e nada percebeu. A menina se pendurava nas estruturas do parquinho e tinha como companheira a menorzinha.

Havia mesmo um companheirismo entre as duas. Marie esticava as mãos e a ajudava a subir da forma em que estava.

Até abriu um sorrisinho quando a viu gritar:

— Mamãe, mama! Olhe o que eu consegui fazer!

Achava graça no sorriso orgulhoso e na enorme confiança que tinha em si. Ainda que não fosse mais tão criança quanto ela, gostava de ensinar o que já sabia.

— Ih, olha lá. Ela tem duas mães — as duas se voltaram para a voz que se aproximava e notaram dois garotos.

Marie torceu o nariz assim que notou o problema. Tinha morado por bons anos em um abrigo, conhecia crianças encrenqueiras.

Ela ajudou Cake a descer e tinha planos de brincar em outro lugar quando a menina questionou:

— Qual é o problema em ter duas mamães?

O tom era tão ingênuo que Marie suspirou. Tinha certa aversão a como ela era absurdamente bobinha sobre as coisas. Sabia que ninguém poupava ninguém só por ser inocente.

— Isso é errado — um dos garotos disse com tom de obviedade.

— Por quê? — Cake perguntou e Marie passou os braços pelos ombros dela.

— Vamos, Cake. Melhor brincar em outro lugar — chamou, mas a menina não se mexeu.

— Mulheres não podem casar com mulheres — o garoto continuou — muito menos ter filhos.

— O certo é o homem e a mulher. Então ela engravida e os dois tem bebês — o outro emendou.

Marie não estava gostando desse assunto.

— Mas a minha mamãe engravidou de mim. E a mama teve o Bear — Cake contestou, não vendo a mais velha negar com a cabeça.

— Isso não é possível — o menino que parecia o líder — elas devem ter roubado você ou te achado no lixo...

Marie não viu os olhos claros de Cake se arregalarem e encherem de lágrimas. Estava com raiva demais. Afastou a menina a empurrando para trás e avançou nos garotos, batendo neles como podia.

Foi a coisa mais assustadora que Cake viu em toda sua vida até aquele momento e também a mais impressionante.

A menina xingava, arranhava e batia como podia nos dois garotos.

— Vocês não vão mexer com ela! — conseguiu entender entre os grunhidos e as lágrimas em seus olhos congelaram quando algo engraçado se agitou em seu estômago e esquentou seu rosto.

— Marie! MARIE! Meu deus, o que é isso?! — Normani chamou enquanto Dinah e Camila separavam as crianças.

Uma mão quente pousou sobre o ombro da assustada Cake. Era Lauren com Bear nos braços porque Camila o empurrou para ela para que pudesse separar a briga.

— O que está acontecendo aqui? — perguntou Normani enquanto Dinah segurava a filha no lugar.

— Vocês são maus e estão errados! — Marie gritou — eu tive um pai e uma mãe e aí eles me jogaram no lixo! E-e-eles me abandonaram! E agora eu tenho duas mães que me amam e não tem nada de errado nisso!

Camila engoliu em seco. Aquele tema de abandono era de revirar o estômago. Ela apertou o toque que segurava os garotos e seu tom foi cortante.

— Deem o fora daqui!

Não foi preciso muito para que partissem e Dinah e Normani agarrassem a filha em um abraço apertado.

— Você está certa! Está muito certa... a gente ama você!

— A gente ama muito você — podiam ouvir em meio ao aperto.

Camila desviou o olhar da cena para a filha emudecida. Alguma coisa acontecia dentro dela, mas não sabia dizer o que até observar com mais atenção.

Cake ainda se mantinha em silêncio e com ar surpreso. As sobrancelhas erguidas e a boca ligeiramente aberta. Podia estar olhando para uma estátua de cera, mas segundos depois a menina corou e baixou o rosto, olhando para os próprios pés.

Algo se movia incansavelmente em seu estômago e isso se refletia em seu peito. Não sabia dizer o que era, mas não quis falar sobre aquilo. Permaneceu alheia em seu interior e apenas respondeu que sim quando perguntaram se estava bem. Notaram que ela estava agindo estranho e supuseram que foi devido ao susto, principalmente quando ela pareceu ter voltado ao normal após um tempo.

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