41 - Trabalho em equipe

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Pov Narrador
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Cake acordou com um sacudir e cutucões dolorosos. Havia uma voz insistente chamando:

- Keki! Keki! Keki!

Ela gemeu.

- Bear, você precisa parar de me acordar assim! - suspirou sobre a zero noção de força do garoto - isso dói, sabia? Na verdade, pare de me acordar!

O menino continuou sacudindo a irmã.

- Keki, é dia das mães! - ele tinha um bico chateado porque Cake era sempre muito arisca com ele, sendo que a amava muito.

A pré-adolescente abriu os olhos e encarou o irmão. Já tinha quatro anos, mas era irritante. Pouco falava, mesmo com ajuda de fono, mas isso não o segurava. Cake tinha a teoria de era preguiçoso demais para se comunicar usando boca e sons, porque quando ele queria conseguia dizer algo por vezes com algum sentido.

- Tudo bem - murmurou - você tem razão, é dia de acordar cedo.

Ela se espreguiçou, contendo um bocejo, então se sentou. Bear a encarava com seus assustadores olhos verdes grandes e bem abertos.

- Vamos - o chamou, girando os olhos quando ganhou um sorriso perturbadoramente bonito. Ele caminhou muito perto e teria entrado no banheiro com ela e ficado se não tivesse empurrado para fora e fechado a porta - você fica aí!

Zero noção do que é intimidade.

Quando terminou tudo que tinha para fazer no banheiro e abriu a porta, encontrou o menino deitado, alinhando a marca de poeira que tirou da parte de baixo do tapete.

- Bear, não seja estranho - pediu - vamos logo ou vou te deixar aí.

A ameaça surtiu mais efeito do que se tentasse pedir para largar sua pequena diversão. Não podia julgar o garoto. Por ela, passaria horas brincando com bolhas de sabão durante o banho. Cada um com suas manias esquisitas.

Tomou a dianteira no caminho para a cozinha e não estranhou quando sentiu algo segurando seu pijama. Incomodava, mas Bear simplesmente tinha que se segurar em alguém. Segurar as mãos não era uma ideia atraente.

Havia uma coisa ali e outra aqui que Cake sabia fazer. Uma delas era panquecas. Tinha quase onze anos e as mães a deixavam se arriscar com algumas coisas na cozinha. Permitiu que Bear quebrasse alguns ovos com sua ajuda porque sabia que começaria a chorar se não fizesse nada.

Não deixou que sujasse as mãos com a textura pegajosa, ele não gostava disso. Era estranho, se fosse pensar bem, que até que sabia como lidar com o irmão, o que o agradava e o que irritava.

Questão de sobrevivência.

- Coloque duas colheres disso aqui - indicou para dar alguma tarefa ao menino, que fez exatamente isso, medindo a colher cuidadosamente - Você é meio estranho, sabia?

Ele ergueu os olhos para a irmã e sorriu.

- Como a mamãe - disse.

Cake assentiu.

- É verdade. E como a mama também.

- E você - completou, mexendo o conteúdo da bacia com a colher.

Era uma das poucas vezes que usava o pronome para se referir a irmã, porque isso nem fazia sentido. Cake não era "você", como as outras pessoas. Cake era "Keki", a irmã dele e de ninguém mais. Era grande e algumas vezes chata, um tanto maldosa quando queria, mas muito engraçada. Parecia a mamãe. Mas o mais importante é que era dele.

Queria ser como ela, mas não sabia como agir tão estranho.

Os lábios da menina tremeram, mas um sorrisinho foi inevitável. Por sorte, Bear não viu. Estava concentrado demais no que estava fazendo.

Quando achou o bastante, pegou a bacia e imediatamente substituiu por uma banana e uma colher. Tinha que ser rápida pra ele não perceber a mudança e chorar.

- Corta com a colher em pedacinhos - disse, vendo que simplesmente passou para a outra atividade.

Levou algum tempo enquanto preparavam o café, mas uma das vantagens em trabalhar com Bear era que ele era silencioso demais. Não conversava, não cantarolava, não tagarelava. Ele levou um outro momento quieto fazendo um desenho para colocar na bandeja e isso fez com que os dois não brigassem.

- Acho que está bom - Cake avaliou.

-Hm-Hm - o garoto balbuciou, ficando na ponta dos pés para espiar o conteúdo na bandeja - mama e mamãe vão gostar.

Uma longa sentença para um rapazinho silencioso.

- É verdade - concordou também com a cabeça, ainda que ele não estivesse olhando - vamos levar lá para cima. Eu carrego a bandeja e quando chegar lá você acorda elas, ok? Não puxa meu pijama ou vamos cair.

Cake não esperou uma resposta, apenas pegou a bandeja e garantiu que o irmão estivesse segurando em sua roupa de forma segura antes de sair.

Bear bateu na porta com um ânimo que fez parecer que estava desesperado.

- Acorda-corda-corda-corda-corda! - chamou com seus gritos potentes - Acorda, mama! Acorda, mamãe!

Ele continou chamando e a irmã teve que mandar calar a boca para ouvir se tinham acordado.

- Pode entrar, pirralho! - era Camila, obviamente.

Bear abriu a porta e correu diretamente para a cama e se jogou com a ajuda de Lauren, deixando o resto da tarefa para Cake.

- Feliz dia das mães!

Lauren abriu um largo sorriso e Camila até esboçou algo em seu mau humor de ter sido acordada aos berros. Bear estava sentado entre as duas e tinha um sorriso idêntico ao da mãe.

- Vocês são lindos! - Lauren elogiou.

- É... de vez em quando... - Camila resmungou - traz isso aqui que estou com fome, coisinha.

A menina riu um tanto nervosa e deixou a bandeja no colo da mãe. As duas provaram o café da manhã.

- Isso está delicioso! - Lauren sorriu para a filha antes de pegar um desenho que estava ao lado do prato - isso aqui foi seu?

Olhou para o filho como se não fosse óbvio.

- É o Homem-aranha! - ele exclamou, sorrindo largo.

Cake girou os olhos. Sempre aleatório colocando o Homem-aranha em tudo. Ela detestava o Homem-aranha tanto quanto Camila.

- Obrigada, carinha. Ele com certeza protegeu nosso café da manhã - o tom de Camila era cômico e ela piscou um olho para a filha mais velha.

- Então vocês trabalharam juntos, hm? - Lauren sorriu, satisfeita.

Cake franziu o nariz em uma careta.

- Não quero falar sobre isso - retrucou.

Camila riu de sua postura. Jamais admitiria que gostava do irmão. Era sempre assim, mas elas viam alguns gestos discretos para com ele.

- Um ótimo trabalho em equipe, devo dizer - provocou sua coisinha.

- Hm-Hm. Keki ajudou - foi o que Bear disse, os olhos não saíam da direção da bandeja.

- Muito bem, Keki - Camila zombou - uma ótima ajudante, não é, coisinho?

- Hm-Hm, muito bom - ele ainda não olhava. Parecia meio alheio e por isso a irmã simplesmente decidiu não debater e se juntou aos três, roubando um pedaço da panqueca.

- Eu também faço um bom trabalho em equipe comendo isso aqui - brincou.

Lauren riu baixinho e Camila apertou seu nariz em um gesto muito antigo.

- Interesseirazinha.

Cake riu para o que fizera e apenas seguiu com a comilança. Sim, faziam um bom trabalho em equipe, mas ninguém precisava tomar nota disso.

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Veio aí as coisinhas que a gente ama e que ninguém precisa saber que se amam de acordo com certos personagem.

O Bear é um garoto interessante, hm?

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