37 - Vergonha

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Oieee. Faz tempo, em! Tava tentando terminar esse tem um tempinho, mas não tava rolando e só consegui quando escrevi o próximo.

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POV Cake

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Prendi a respiração quando vi a mama correr pelo quarto perguntando para a mamãe onde estava a caixa.

Eu sabia que caixa era essa e isso me fez dar um gemido de agonia.

— Mama, não é necessário! — tentei contornar a situação — é só mais um almoço...

Mamãe soltou uma risada.

— Não é só um almoço. Você vai nos apresentar a namoradinha — lembrou.

Seus olhos brilhavam de maldade, mas essa era a mamãe, afinal.

— Não vou apresentar ninguém — a lembrei — a Hily vem aqui todos os dias.

— Não como sua namorada — ela cutucou.

Respirei fundo.

— Vocês não precisam me envergonhar, sabiam? — tentei de novo.

Elas estavam me deixando nervosa. Mais nervosa do que quando fui contar para a engraçadinha (ô, merda, mamãe me contaminou definitivamente com o apelido) que estava apaixonada.

— Claro que precisamos — mamãe girou os olhos.

— Isso vale por metade dos anos em que você me envergonhou na rua com suas birras — mama brincou.

— Isso! — Mamãe concordou.

Franzi o cenho pra ela.

— Eu nunca te envergonhei — a lembrei — você chegou eu já estava grandinha. Pegou o bonde andando, dona Camila Cabello. Mama já tinha transformado a pequena selvagem que seu sangue me fazia ser em uma mini humana decente.

Ela fez uma cara artisticamente ofendida.

— A gente carrega por nove meses e passa mais de vinte e quatro horas em trabalho de parto pra pôr esse cabeção pra fora sendo rasgada de dentro pra fora para ser tratada assim? Meu perineo nunca mais foi o mesmo, sabia? — dramatizou, mas riu quando ergui uma sobrancelha para ela, apertando meu nariz — aprendeu comigo.

Isso me fez rir. Mamãe tinha um tipo de orgulho estranho.

— Vocês são muito esquisitas, sabem disso, não é? — mama disse com uma seriedade sombria — onde está a caixa, Camila?

— Na parte de cima do armário perto do... — ela me olhou de uma forma nervosa e não conseguiu terminar a frase.

Por algum motivo, senti meu rosto corar.

Mama se virou pra mamãe.

— Na parte de cima perto de...? — em seguida os olhos se arregalaram — oh!

Ela ficou igual a um tomate e senti meu rosto se espelhando ao dela.

— Oh, não — balancei a cabeça, ma afastando — me nego a pensar no que estão querendo que eu não pense.

— Cake...

— Deixa de bobeira, coisinha. Você sabe que suas mães são duas adultas apaixonadas que...

— Mãe! — ela riu do meu protesto e o barulho na porta de entrada me salvou.

Saí apressada.

— Não corra nas escadas, Dahlia Jauregui! — mama gritou e diminuí o ritmo porque sabia que iria cair só porque ela tinha me proibido de correr.

Prendi a respiração quando girei a maçaneta e abri a porta. Hilary estava com cara de bunda (uma linda bunda, pelo menos). Leo, do outro lado, tinha uma expressão de morte. Olhei para os pais deles e havia em mãos um álbum de fotos.

Oh, os quatro decidiram que era a hora do álbum da vergonha!

Me senti constrangida não só por mim, mas por eles também.

— Uh... — não soube o que dizer então só abri espaço e deixei que entrassem.

— Hey! — nossos pais se cumprimentaram com um ânimo exagerado.

Nos aproximamos. Nossos pais estavam sentados no sofá maior, tagarelando sobre qualquer coisa. Leo sentou numa poltrona ao lado de Bear, ambos com desânimo e Hilary sentou comigo no sofá menor. Segurei sua mão e o irmão dela fez som de vômito.

Mostrei o dedo do meio com a mão livre.

— Eu vi isso, Dahlia Jauregui! — mama repreendeu, embora não tivesse nem girado os olhos em nossa direção.

— Fala sério, por que tenho que passar por isso também? — Leo perguntou com um resmungo.

— Porque vocês são gêmeos! — Papa Louis o lembrou com certa alegria — limpamos a bunda de vocês dois juntos e agora vamos envergonhar os dois juntos.

— E vamos repetir quando você arranjar um namorado, uma namorada ou... como chama aqueles? Namorade? Bom... e se você arranjar um cachorro também — Papa Harry acrescentou no mesmo tom alegre — olhe aqui. Esses são eles ainda no hospital.

Inconscientemente me inclinei para olhar a foto.

— Parecem dois alienzinhos enrolados e com toucas — deixei escapar e levei um tapa da minha então namorada.

— D! — exclamou.

— Não se preocupe, querida — mama disse, esticando para mostrar a foto — olhe, essa aqui era ela na banheira. Não queria tomar banho.

Eu estava com expressão de desespero e os pés em cada lado da banheira como quem tentava evitar tocar na água.

— Parece uma pererequinha, não é?

— Mãe! — fiz uma careta para ela, que riu junto a Hilary.

— Pior que sim... — murmurou completamente tímida.

— Pelo menos eu não estou parecendo um ET — resmunguei.

O olhar claro de Hilary encontrou o meu. Ela parecia muito feliz, a cara de bunda bonita a tinha deixado e ficara apenas suas expressões fofas. Quis imediatamente morder suas bochechas. Não consegui parar de olhar.

— Vocês me dão enjoo — ouvi Leo resmungar.

— Eu acho bonito — a coisa boba que me obrigaram a ser irmã comentou — como dois algodões-doces.

Ri de nervoso. A comparação era estranha como o próprio Bear, mas, caramba, foi fofo!

Hilary brincou com meus dedos, me olhando com intensidade. No fundo da cena nossos pais discutiam sobre nossas histórias. Quando os gêmeos arrancaram os dentes de leite um do outro com um murro e uma porta. Quando eu grudei chiclete no meu próprio cabelo porque estava comendo encondida e a mama chegara. O dia em que Hilary largou a fralda e correu pelada na rua. Minha foto chupando dedo na ultrassonografia...

E nada disso, na verdade, importava. Leo estava morrendo de vergonha e Bear não estava interessado como era assim para a maioria das coisas no mundo que não tivessem relação com o Homem-aranha, bolas ou catapultas (garoto estranho).

Quanto a mim, eu podia aguentar um longo dia de histórias vergonhosas trocadas se pudesse ficar apenas olhando para Hilary sorrindo timidamente para mim, seus dedos quentes nos meus e seu olhar divertido me desafiando a não achar algo sobre nossas vidas terrivelmente fofo.

— GAYS! — ouvi mamãe gritar e tive uma crise de riso.

Não dava para ficar séria. Não dava nem para ter vergonha por tempo suficiente. Esse era o tipo de família estranha em que eu queria inserir pessoas que realmente eram importantes para mim, como Hilary.

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Muito gay essa menina. Aprendeu com quem?

O próximo tem mais Cake, mas é bem mais sério. Até lá.

LIVRO 5 - EXTRA TRILOGIA - Recortes - Histórias Aleatórias Da TrilogiaOnde histórias criam vida. Descubra agora