75 - Não está tudo bem, mas tudo bem

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Lencinhos.

.

Camila

.

Em vez de levantar, me arrumar e ir para a aula, desliguei o alarme e me encolhi em minha cama.

Sei lá, mas uma sensação horrível se apossou de mim quando despertei. Algo além de um desejo de morte e vida conflituoso. Algo diferente de... de tudo que eu conhecia.

Não dormi bem. Primeiro porque tive pesadelos desde os mais bobos em que eu descobria que ficaria grávida para sempre até os que todo mundo que eu amava morria por minha causa, ou recebiam a notícia de minha morte e eu assistia sem poder dizer nada e sem nem mesmo saber o que falar. Depois, porque minha barriga de grávida não me deixava ter uma posição confortável. Por fim, fiquei pensando em Lauren.

Não que seja ruim pensar nela, afinal era uma mulher maravilhosa, mas...

E meio que de repente, eu estava chorando. Estava assim nesses dias, chorando e sentindo essa tristeza enorme me sufocando. Gostava de ficar sozinha. Ou não. Em geral eu dizia para Ally que estava indisposta e isso resolvia.

Não era mentira.

Ouvi dois toques na porta.

- Camila? - Ally vinha garantir que eu tinha acordado porque meu sono às vezes estava mais pesado que o normal.

- Não vou hoje, me sinto indisposta - dei a desculpa de sempre torcendo para que o tremor em minha voz não me denunciasse.

Houve um segundo longo demais de silêncio.

- Quer que eu fique com você? - ofereceu - eu não tenho problema em faltar por você. É minha melhor amiga e estou contigo, sabe disso, não é?

Contive o impulso de fungar pelo choro. Ela era incrível. Quando eu bati o martelo sobre a adoção, antes mesmo de Dinah trazer Lauren para minha vida, Ally sentou junto a mim, segurou minha mão e disse "sabe que não precisa fazer isso, não é? Passar por todo o processo de estar grávida..." quando a lembrei de como reagiu sobre abortar, ela baixou o rosto e suspirou antes de dizer "Camila, você sabe o meio em que cresci, mas eu não posso ver você sofrer".

Eu suspirei.

- Eu só estou enjoada. Vou ficar bem - menti.

Me senti louca para estar sozinha e chorar para valer. Enquanto isso, houve mais um longo momento de silêncio.

- Tudo bem - finalmente disse - se precisar, me liga.

- Obrigada, Ally B... - foi tudo o que consegui dizer.

Não ouvi ela se afastar.

- Eu te amo, Camila. Você é como uma irmã para mim - Ally disse e finalmente ouvi seus passos para longe do meu quarto.

Suas palavras só me fizeram chorar mais. Não sei porquê, juro que não. Eu apenas... é tão doloroso!

Me encolhi mais, ainda que não tivesse sido muito por causa da barriga. A coisinha estava quietinha como se não quisesse me causar mais dor do que sua simples presença me causava.

- Não é culpa sua... - murmurei para ela, mas não era verdade.

Não tinha certeza se palavras a consolariam ou se ela sentia tudo o que eu sentia o bastante para nada fazer a diferença.

- Desculpa... - pedi porque comecei a chorar ainda mais - eu estou tentando fazer tudo certo, juro que sim...

Um soluço me interrompeu, sendo sequencial a ponto de que eu não consegui pronunciar nenhuma palavras.

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