24 - Pedacinho

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POV Lauren

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Tão lindo. E era engraçado que, apesar de nascer de mim, eu só conseguia ver as expressões de Camila quando o olhava.

Eu não conseguia, tampouco, tirar ele do meu colo.

- Lern, você precisa descansar - ouvi a voz de Camila cheia de sono - você está há horas com o coisinho nos braços. Acho que ele não vai acordar se sair daí, muito menos fugir.

Apenas assenti. Não era sobre isso, mas tinha vergonha de dizer. O coisinho era lindo. Absurdamente lindo.

Ele tinha meus traços, mas se não fosse isso, não acreditaria que era meu.

Me senti culpada por isso. Já tinha sido estranhamente frustrante dar de mamar a primeira vez.

- Olha para mim - Camila pediu e eu sabia que ela já tinha detectado que tinha algo errado, mas olhei mesmo assim - o que está se passando por sua cabeça?

Suspirei. Eu sabia que se tinha uma pessoa que entenderia o que eu estava sentindo, essa pessoa seria Camila. Ao mesmo tempo, me senti envergonhada e com aquela sensação de "eu te avisei" apontando em minha direção.

A maternidade era diferente para cada pessoa e para cada gestação. Gestar e parir era estranho e difícil, ainda que tenha sido um processo incrível e de puro amor por mim para aquele negocinho em meus braços.

Olhei nosso bebê novamente. Suas mãozinhas eram a coisa mais pequenininha. As de Cake eram ainda menores, mas era diferente porque Bear havia saído de dentro de mim.

Eu havia gestado ele por 40 semanas e então ele estava ali, em meus braços.

Não era esquisito?

- Ah! - fez Camila como se algo tivesse sido desbloqueado em sua mente - eu sei. É estranho pensar que um ser humano de verdade estava dentro de você...

- E agora está aqui fora - completei - é...

- Mas em compensação, você especificamente o amou e o desejou desde o primeiro segundo. É a realização de um sonho, não?

A encarei. Provavelmente eu teria corado se não estivesse tão fraca, mas devo ter empalidecido. Senti o sangue fugir de minha cabeça.

- Ok, qual é o problema? - Camila perguntou - você sabe que vou te entender.

Mordi o lábio tentando me conter, mas não consegui. Minha vergonha se derramou friamente por minha boca.

- Eu achei que... não sei... fosse sentir uma ligação materna mágica e diferente assim que o visse. Eu me senti ligada a Cake assim que a vi, mas é diferente com ele - confessei.

Me senti constrangida. Não consegui olhar nem para Camila nem para o bebê, mas ela segurou meu queixo e me olhou com compaixão.

- Amor, não acredito nessa "ligação materna mágica", você sabe - ela desenhou aspas no ar - acredito que quando a gente tem um bebê, por querer sabe, sente uma ligação de proteção instintiva por ser uma coisinha indefesa e fofinha. A fofura e indefesa comove a maioria das pessoas. Mas se você olha bem, você tem que criar um amor instantâneo com um ser que não conhece e foi jogado em seus braços de repente. Isso não parece ser possível.

A encarei. Não consegui dizer nada. Talvez eu estivesse há tanto tempo envolvida com ela que sua forma de ler a vida fazia total sentido para mim.

Ao mesmo tempo, senti um desespero silencioso por tudo isso. Eu via e sentia a maternidade de uma forma diferente de Camila, estar nisso era confuso.

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