22 - Isso não é uma disputa

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Pov Lauren

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Eu realmente gostava de como Cake tinha todas as atenções, mas não achava que fosse tão saudável.

Quero dizer, isso podia ser um problema se um dia eu tivesse outro filho, e digo isso porque tenho vontade de ter mais filhos. Gerar uma vida me encantava, mas a adoção de uma criança mais velha também. Eu não sabia dizer o que era mais forte, porque o simples desejo de ser mãe me consumia.

Cake ainda era muito pequena, mas ser a única criança a fazia ganhar muito mimo e a deixava confiante como uma princesa em seu reinado.

Não gostava tanto dessa confiança quando olhava o ponto de vista em que ela poderia ser bem esnobe. Ela era uma criança rica com todas as atenções.

E ainda assim era gostoso ver o amor de minha família por ela.

Estava sentada a mesa naquela véspera de Natal e observava Cake e mamãe abrindo e descascando frutas para o café da manhã.

- Eu gosto disso - minha menina disse para uma toranja.

- É mesmo? - Mamãe perguntou.

- Sim, parece vermelho. Eu gosto de vermelho - ela disse - Mama deixa eu comer vermelho.

Minha mãe riu.

- Comer vermelho pode ser bom - ela disse - amanhã vamos fazer biscoitos vermelhos e uma torta de morango para a sobremesa do almoço.

- Eu não sei se a mama vai deixar.

- Por quê?

- Ela disse que vamos comer com Camila - contou.

Minha mãe se voltou para mim, sua expressão se fechando. Senti um frio no estômago. Eu não devia temer a ela, e sinceramente era mais confiante sobre o lugar dela, mas ainda era inevitável que tremesse. Seu olhar bravo me lembrava meus piores momentos.

Desviei o olhar, ainda podendo ver com a visão periférica.

Ela olhou para Cake mais uma vez e entregou uma colher.

- Coma sua toranja, tenho que perguntar para sua mãe o que ela quer comer no café.

Senti mamãe se aproximar e olhei para minhas mãos, pensando no que sairia dali. Se ela não se distanciou de Cake, era sinal que não gritaria, mas isso não significava nada. Seus sussurros em meus ouvidos podiam ser assustadores.

Eu gostaria que papai e meus irmãos não tivessem saído cedo para comprar coisas de última hora.

- Lauren... - a encarei - por que está fazendo isso?

Suspirei.

- Nós somos namoradas, é mais do que natural que nossas vidas se misturem - tentei me manter calma - combinei com a mãe de Camila que iríamos passar o almoço de Natal com ela. Sinuhe gosta muito de Cake e é recíproco. Além disso, acho que está na hora do pai e irmã de Camila conhecerem ela.

O lábio inferior de mamãe tremeu. Ela o apertou contra o superior deixando-os em linha reta. Depois suas mãos tremeram. Ela as apertou contra a mesa para conter.

- Não acho que deveria fazer isso - vi o esforço em não me criticar diretamente - vocês não deveriam ter contato. E se eles perceberem o que fizeram e mudarem de ideia? E se quiserem tomar a menina de você, de nós...?

Franzi o cenho.

- Isso nem faz sentido, mãe - sacudi a cabeça - está fazendo péssimo juízo de pessoas que não conhece.

Mamãe apontou o indicador para mim e o sacudiu.

- Você é muito ingênua - criticou - Dahlia é nossa, mas isso não impede que esses estranhos acreditem no contrário. Você não vai querer entrar em uma disputa judicial contra a família biológica a menina, pode acreditar nisso.

Suspirei.

- Pare de tratar como se ela fosse um objeto - retruquei - e pare de enxergar problemas onde não tem. Cake é minha filha e a família de Camila é a família de minha namorada. Nossas vidas estão se misturando, é inevitável. É disso que se trata.

Mamãe apertou os lábios mais firmemente.

- Você sabe que não aprovo isso - disse com delicadeza - tenho medo da influência dessa mulher sobre você. Sei que não é criança, Lauren, e sei que não posso te impedir de nada, mas isso não me faz não me preocupar.

Levei uma mão a seu braço e a apertei.

- Eu sei, mãe. Entendo que o passado atrapalhe tudo, e que teme por mim. Você precisa entender que Camila está me apoiando muito. Nosso relacionamento é sério. Acho que temos que nos aproximar e nos conhecer. Todos nós. Queria que passassem o ano novo aqui conosco.

Ela não disse nada. Nesse momento minha atenção se voltou para Cake comendo a toranja com uma colher em mãos.

- Ela a chama de "minha Camila" - comentei - e diz que Camila vai ser a mãe dela um dia. Camila está ciente disso e não acha ruim. Ela a vê como uma enteada. Camila não é do tipo maternal, é mais provável ela comer cimento a querer tomar Cake de minha guarda.

- Não me admiro, afinal ela entregou a menina - criticou - mas me preocupo se não está tendo uma visão inocente demais sobre ela e a família. As pessoas mudam e os pais podem ser muito diferentes dos filhos.

Voltei a olhar nos olhos de minha mãe.

- O que você precisa lembrar, mãe, é que Cake está em primeiro lugar. Eu sou a mãe dela. Eu vou levar minha filha para onde achar que deve ir, para onde ela quiser e for bem-vinda, isso inclui as pessoas que precisa conhecer. Tudo se torna mil vezes um milhão mais sensível quando se trata dela e mesmo se quisesse não seria capaz de deixar isso de lado. Eu sei o que estou fazendo.

Ela meneou com a cabeça após um segundo, considerando o que tinha dito.

Se fosse um tempo atrás, isso não aconteceria. Fiquei mais tranquila.

- Ela é nossa - disse de forma rígida e ciumenta.

- Isso não é uma disputa - repeti - cada pessoa tem um lugar diferente em nossas vidas. Ter novas pessoas entrando não significa que irão colocar vocês para fora, mas que tudo está se ampliando. Camila e sua família um dia poderão fazer parte da nossa vida, da vida de Cake. No fim acho que ela só pertence a ela mesma.

Indiquei Cake com o queixo e mamãe olhou. Minha filha agia de forma independente em selecionar e comer seu café da manhã. Estava concentrada em descobrir o que e como poderia comer com a colher que recebeu da avó. Ela se movia de acordo com os próprios gostos de forma inabalável.

Não havia mesmo disputa quando se tratava de Cake, ela estava sempre em primeiro lugar.

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Lauren é muito ricofóbica. Uma hiproquisia, como diria Cake.

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