21 - Pezinhos de Cinderelo

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Pov Camila

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Eu era uma banana.

Acho que isso soaria estranho para qualquer um, mas não para mim.

Sei que eu estava em um palco e eu dançava com Dinah e Ally, que também eram bananas.

Nunca me dei tão bem assim com Dinah a ponto de ser uma banana com ela, mas nosso número estava lindo. Nossas pernas eram visíveis debaixo da casca, eu estava madurinha e devia estar uma delícia. Parecíamos um desenho infantil do pica-pau, mas mais gostosas.

E então ele veio.

UM PÉ GIGANTESCO BEM NA MINHA CARA.

Seu dedão gordo entrou na minha boca e engasguei, o que era irônico já que eu era uma babana e podia engasgar alguém sendo comida.... de preferência Lauren, mas não deve ser legal da minha parte desejar isso para ela.

Só aí percebi que estava de olhos fechados e me forcei a abri-los, descobrindo algumas coisas.

Fato número 1 e mais estranho: eu não era uma banana.

Fato número 2: tinha mesmo um pé na minha boca.

Isso não é tão estranho vindo de um ser humano que vive na mesma casa que eu. Inúmeras vezes eu acordei com o pé de Lauren em minha cara porque de alguma forma ela conseguiu se virar para isso. É doida e inquieta. Mesmo a elétrica Coisinha número 1 não conseguia ser mais inquieta que Lauren em seus sonhos.

Talvez apenas por isso não estranhei quando abri os olhos e o pé que estava em minha boca era de Bear. Só alguém que surgiu de Lauren conseguiria isso.

Ainda assim, afastei o pé de meus lábios e o encarei. Tínhamos dormido de cansaço, porque era só assim para que ele parasse. E seu pé era tão pequeno...

Era o menor pé de todos os pés do mundo. O mais gordinho. Seus dedinhos se encolhiam com o clima. Suas unhas eram curtinhas, limpinhas e fininhas.

- Está tudo bem, Camz? - estranhamente, sua presença não me surpreendeu.

- Sim... onde está a coisinha? - perguntei sem tirar os olhos do pé do coisinho.

Parecia um pãozinho cru. Uma massa de pão fermentada.

- No quarto de brinquedo com os gêmeos. Algum problema?

Seu rosto surgiu no fundo da imagem do pãozinho cru.

Neguei com a cabeça.

- Já viu esse pezinho? - fiz uma careta ao perceber a pergunta idiota - bom, é claro que já viu, ele saiu da sua vagina... mas é que... olha o tamanho desse pé!

Lauren riu baixinho e sentou no chão ao meu lado.

- Ele é mesmo tão fofo, não é? - sussurrou - não é incrível que nosso corpo consiga fazer algo assim? Um ser humano inteirinho...

Fiz uma careta involuntariamente. Não importava quanto tempo tinha passado, eu ainda era contra a maternidade (a minha). Ter um bebê dentro de mim ainda era aterrorizante.

Era incrível? Era estranho, isso sim.

- Mas olha esse pezinho, Lauren - voltei ao ponto - tão pequeno. Quando eu era menor, meu pai pegava meus pés e chamava de pezinhos de Cinderela.

- Isso é fofo - ela disse e concordei sem ainda tirar o olhar do pãozinho.

- Tem até um vídeo de quando era bebê em que ele diz - contei - Pezinhos de Cinderela...

Lauren não disse nada. Apenas me assistiu no meu momento com nossa bolinha de coco com cocô. Meus dedos percorreram pelo formato de seus pés, seus traços tão infantis.

Um bebezinho.

Não era estranho ter um bebezinho?

Ele dependia totalmente de mim e Lauren. Sem nós ele morreria. Nós cuidavamos para que seu pezinho gordinho entrasse em nossas bocas enquanto dormíamos.

- Camz, está mesmo tudo bem? - ela perguntou em tom preocupado.

Assenti.

- Só estou pensando - sussurrei - pensando em como pode algo tão pequeno existir? Eu vi essa coisinha no primeiro segundo que saiu de dentro de ti, mas ainda é inacreditável como algo tão quebrável existe. É tão pequeno e indefeso como... como Cinderela nas mãos das irmãs e madrasta.

Pela primeira vez olhei para Lauren. Ela sorria como boba.

- Sim - ela concordou - é estranho, mas de uma forma bonita. E ao menos ele tem a nós, que o amamos.

Confirmei com a cabeça. Ela estava certa.

- Nosso pezinho de Cinderelo.

Lauren riu. Isso fez o bebê se mexer, tirando minha concentração de seu pé para ele todo, uma massa de pão fermentada esperando para ser assada.

- Lern, acha que dá tempo de mudar o nome dele?

Minha mulher me olhou com estranheza.

- Está arrependida?

Assenti.

- Devíamos ter chamado ele de Pãozinho. Little Bread.

Lauren riu.

- Combina mesmo com ele - concordou, mostrando como era maluca.

Só sendo doida para concordar comigo.

Às vezes era por isso que tinha se casado comigo.

- Só precisamos assar - emendei - acho que saiu do forno cedo demais. O tempo que ficou aí dentro só deu para crescer com fermento. A abertura ainda existe. Na verdade sei que é bem elástica. Tem como colocar de volta?

- Amém que não!

Ela levou a mão para a boca enquanto ria, mas soltei uma que tinha no trequinho e descobri.

- Linda demais para se cobrir - as bochechas de Lauren coraram - meu xuxuzinho temperado.

Ela gargalhou.

- Eu te amo - Lauren declarou segurando minha mão - mesmo querendo enfiar uma criança desse tamanho dentro de mim.

Sorri para Lauren, me inclinando para beijar seus lábios.

- Eu te amo, meu pãozinho doce que faz docinhos e bebê pãozinho. Minha rosquinha de leite.

Lauren riu novamente contra meus lábios. Não era um pezinho de Cinderelo, mas era tão incrível quanto.

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Sério. Os pensamentos da Camila... não tem como kkk

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