44 - Ciumenta

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Mais dessa família estranhamente linda para vocês.

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Pov Lauren

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Nossa missão era bem simples: caminhar com nossos filhos no parque.

Estaria tudo bem se os dois não quisessem ir para lados opostos enquanto Camila e eu queríamos ser a família unida que se ama.

Nós éramos a família unida que se ama!

Suspirei quando vi Cake puxando minha mão para o outro lado, mais especificamente o que Bear não queria ir.

- Cake, podemos passar por aqui na volta. Seu irmão é pequeno, vamos pelo caminho dele agora, pode ser? - tentei negociar, mas a garota fechou a cara.

- Não! Eu cheguei primeiro! - seu tom era impositivo.

Senti o olhar de Camila dizendo que sim, ela tinha razão. Ela chegou primeiro. Foi algo muito rápido porque ela tentava controlar nosso filho.

Bear era seu desafio pessoal. Cake tinha se ligado a ela e sido bem receptiva e amorosa desde o início, mas ela não sabia muito bem o que fazer com Teddy, sobretudo quando ele parecia não se importar com quem Camila era.

Minha esposa vez ou outra resmungava "sim, sem leite, sem créditos...", mas era ciúmes. Ela jamais admitiria, claro.

- Amor, por que não podemos colocar ele na coleira? Minha coluna vai dobrar definitivamente. Nunca mais vou ser a mesma - ela resmungou enquanto se dobrava para segurar melhor o pulso do baixinho, que tentava correr e quase caía a cada dois passos.

Parei de caminhar, considerando o que ela disse. Camila parou também, assim como Cake. As duas me encararam enquanto Bear tentava fugir.

- Não está considerando isso, está? - Camila perguntou, parecendo chocada.

- Na verdade, estou sim - confirmei e ela piscou com força, desacreditada - não faça essa cara, existe mesmo coleira para crianças. Fica numa mochilinha e elas podem andar livremente sem correr risco de saírem de vista e se perderem ou sofrer acidentes. Liberdade e praticidade para pais e filhos e, na verdade, acho uma boa ideia para Bear.

- Lauren! Nosso filho não é um selvagem! - exclamou antes de fazer uma careta quando Bear tentou se livrar de seu aperto - talvez um pouco...

- Bear é selvagem - Cake concordou com a tese que eu não dei.

Ela era sempre contra Bear e isso me fez suspirar de cansaço.

- Bear não é selvagem - fui firme em dizer - mas acho que não gosta de ser segurado, parece que vai chorar.

Nós três encaramos Bear, que tinha um bico nos lábios e olhos cheios de lágrimas. Cake soltou um de seus muxoxos. Segurei Bear com uma mão sobre a blusa e fiz Camila segurar ele pelo colarinho.

Imediatamente ficou feliz e quis correr.

- Certo, nosso filho é esquisito - Camila concordou também com a cabeça - onde fica o pet shop dos filhos? Sei lá, um kids shop??

Girei os olhos, mas sorri por meio segundo antes de ouvir um suspiro impaciente de Cake. A soltei.

- Fique onde eu possa te ver - mandei e ela ficou satisfeita, andando poucos passos a frente.

Família descoordenada e desunida.

A mão livre de Camila apertou a minha.

- Não fique assim - disse com a voz séria e baixa.

- Sério, me sinto burra. Como pensei que isso fosse dar certo? Ela tem tanta aversão a maternidade quanto você, e ela nem é mãe! Como pode uma criança detestar tanto um bebê? Ela nem foi deixada de lado, foi?

Camila riu baixinho.

- Lern, ela só não sabe como agir tanto quanto eu. Pode ter certeza que ela gosta de Bear do jeitinho azedo dela mesmo. Além disso, o que poderia fazer? Você mesma disse que sempre quis gestar um bebê. Ia deixar de realizar isso por causa de uma criança que nunca soube o que é ter um irmão até agora? Ela é ciumenta.

Paramos de andar. Encarei Camila.

- Ciumenta? - senti minhas sobrancelhas se erguerem.

- Ciumenta - confirmou - quer ver?

Assenti. Não fui capaz de formular uma frase.

- Coisinha! - Camila chegou em sua forma típica, ganhando a atenção da pestinha - chegamos a conclusão de que Bear dá trabalho demais.

- Eu concordo - nossa pestinha assentiu.

- Vamos entregar ele para aquela mulher ali, o que acha?

Apontou para a mulher falando com o sorveteiro.

Cake parou, avaliou bem e torceu o lábio. Para minha surpresa, balançou a cabeça.

- Ela vai dar sorvete para ele. Bear é pequeno para comer sorvete de carrinho - disse muito objetivamente, se afastando e voltando para seu caminho.

- Não sei, vamos dar uma olhada de perto - Camila insistiu no ponto e mudou nosso caminho.

Passamos pela mulher, que acenou para Bear com um "oi, fofinho!" e o super simpático acenou de volta.

Me chocando ainda mais, Cake desviou de seu caminho e se colocou entre os dois, afastando o irmão e fazendo ele continuar caminhando para longe da mulher, as mãos em seus ombros.

Seu rosto tinha uma expressão séria e inflexível.

- Definitivamente não - decidiu por nós.

Camila piscou para mim.

- Ciumenta - sussurrou - se ela não gosta dele, não sei o que é gostar.

Inevitavelmente sorri. Elas eram IDÊNTICAS. O mesmo jeito torto de gostar de crianças, ou pelo menos as que tinham vínculo íntimo. Pelo menos me senti mais tranquila.

Cake se manteve afastando o irmão do caminho de estranhos. Bear ficou feliz em segurar sua roupa. Andamos juntos. Uma família descoordenada, mas estranhamente unida.

LIVRO 5 - EXTRA TRILOGIA - Recortes - Histórias Aleatórias Da TrilogiaOnde histórias criam vida. Descubra agora