20 - Porque ela quer

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Pov Camila

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Lauren descascava uma cenoura enquanto eu cortava outra em palitos. Não sei por que, já que era ruim de qualquer forma.

- Me diz de novo por que estamos fazendo isso - pedi e ouvi Lauren prender um risinho e girar os olhos.

- Porque é saudável - ela disse.

Olhei para o teto e suspirei.

- Lauren, crianças não querem coisas saudáveis, querem pizza, chocolate e sorvete. Se possível tudo junto.

- Mas elas não podem comer tudo isso de doces! - minha esposa teimosa protestou, o braço repousando sobre a barriga de quase 7 meses - cenouras são legais.

- Cenouras são horríveis - apontei para ela com o último palitinho que tinha cortado.

Lauren se aproximou e o comeu. A forma como seu lábio se torceu e seu nariz enrugou provocou tremores em meu estômago.

Não era caganeira, era outra coisa mesmo.

- São deliciosas - me corrigiu.

Cerrei os olhos para ela.

- Por que eu estou achando que isso não é pelas crianças, mas por você? - perguntei, vendo seu lindo rosto corar.

- Não sei do que está falando - falou, mas vi seus dedinhos se agitando tentando conter outro roubo.

Apoiei as mãos na cintura.

- Vamos cancelar as cenouras - fui firme - tem três dias que está viciada nesse negócio, isso não pode ser bom.

Lauren suspirou.

- Cenouras são saudáveis - contestou - até duas por dia. Eu não ultrapassei isso.

Disse a pessoa que trapaceou escolhendo as maiores cenouras possíveis. Uma delas era quase maior que meu antebraço.

- E nem vai - fui firme, pegando as cenouras e guardando.

Ouvi seu suspiro de frustração e a porta da frente se abriu.

- Mama! Mamãe! - ouvimos Cake chamar.

- Licença, trouxe as pestinhas! - era a voz de Harry, o corretor e nosso vizinho.

Espiei pelo balcão.

- E aí? E onde estão os garotos?

Harry cerrou o olhar em minha direção e apoiou uma mão na cintura.

- E eu sou o que? Uma fada? - perguntou.

- SIM! - as pestinhas gritaram, me fazendo rir.

- Viu só - disse a ele.

Harry riu. Dizendo assim soa sonoramente engraçado.

- Os garotos foram para casa - ele disse - Leo não está interessado em ser usado pelas capetinhas.

- Não julgo - pisquei ao lembrar da última vez que tomei de conta dos três e o coitado foi feito de gato e sapato. Literalmente.

Gato, sapato, cachorro, garçom, armário, boneca...

Normalmente quem passava mais tempo com eles era Lauren, que ficava mais em casa. Eu ainda não conseguia sequer distinguir bem os pais deles quando estavam juntos. Algumas vezes nem as crianças.

Dificilmente, porém, estávamos todos juntos.

Agora eles tinham recém chegado de uma volta ao shopping.

- Bom, estão entregues - o homem disse - Hily, seja obediente.

- Está bem, papai - a menina disse e o abraçou, ganhando um beijo sobre a cabeça.

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