59 - Amor, você está doida de novo

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Acho que todos conhecemos como estava o momento desse rostinho.

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Camila

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Ela tinha começado de novo. Ou melhor, Ele. Eu sabia que era Ele. Lauren não percebia, mas sempre que Ele voltava era assim. Talvez eu devesse falar com ela. Ao que tudo indicava, isso não era conversado e tratado.

Foi essa coisa que me fez pesquisar e ver que eu estava certa. O pior era o quanto afetava a nossa vida, principalmente a das crianças.

- Mas que droga! - ela sussurrava enquanto olhava a geladeira e a dispensa - que droga! Que droga!

- Qual é o problema, Lern? - perguntei depois de ouvir o trigésimo terceiro xingamento.

Todos sabem que Lauren só xingava na cama, mas ninguém sabe tanto quanto eu que isso não era uma seleção restrita, mas uma expressão ligada ao seu descontrole. Foram anos notando isso na mulher que eu amo.

- Não tem nada para fazer o lanche das crianças! - ela remexeu as coisas da dispensa e andou de um lado para o outro, repetindo o que parecia ser um ritual - não tem como fazer pão. Eles deveriam comer sanduiches hoje!

- Amor, podemos comprar pão na padaria - eu sugeri já conhecendo sua reação.

- Não vamos colocar essas massas nos estômagos de nossos filhos, Camila! Eles precisam de uma alimentação saudável.

- Lern, eles não vão morrer se comerem um pão normal um dia - ela me olhou com desespero, os olhos marejados - ok, então por que não damos outra coisa hoje?

Ela balançou a cabeça negativamente.

- Isso vai desequilibrar tudo, não é bom...

Lauren pegou o pote de cookies que ela mesma fazia e eram consumidos com muito cuidado e começou a comer um atrás do outro. Acho que nem percebia o que estava comendo.

Era Ele voltando.

Saí do balcão e entrei na dispensa com ela, fechando a porta e tirando o pote de suas mãos.

- Camila!

A beijei. Era a melhor forma de acalmar Lauren o bastante para realmente me ouvir, ainda que eu não pudesse fazer muita coisa quanto ao resto.

Ela suspirou em meus lábios e relaxou um pouco apoiando as mãos sobre meus ombros.

Lauren se preocupava muito em manter uma alimentação saudável e exercícios físicos em dia. 

De repente ela ficava paranoica sobre estar fazendo exercícios físicos suficiente e controladora sobre o que nós e as crianças deveríamos comer para nos mantermos saudáveis.

Então ela ficava tão rigorosa que começava a restringir o que comia e a fugir de espelhos. 

Depois Lauren ficava tão ansiosa que comia compulsivamente, se sentia mal e vomitava.

Era assim o ciclo dos distúrbios alimentares de Lauren. O tempo entre as fases podia ser longo ou curto, assim como a pausa entre o tratamento funcionar e de repente desandar.

Eu fazia de tudo por Lauren, mas algumas coisas eu só podia amenizar porque ela ficava nervosa e irritada se insinuassem que estivesse fora de controle. Ela tinha uma certeza de estar fazendo a coisa certa e se cuidando que era difícil de ver. Nunca pensei que uma pessoa podia ter uma noção tão distorcida sobre ela mesma da forma como Lauren se via.

Como discutir com uma pessoa rigorosa sobre seus hábitos aparentemente saudáveis e tentar convencer ela que não, exercícios e alimentação restrita ao ridiculamente saudável (como fazer o próprio pão que comer o da padaria um dia por uns míseros detalhes) não era normal e bom?

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