LIVRO 5 - EXTRA TRILOGIA - Recortes - Histórias Aleatórias Da Trilogia

52 - Ignorante demais

Esse capítulo se passa na terapia que Camila foi após o último encontro com John de quando ela ficou sabendo o que ele fez.

Eu acho esse muito importante até para como veem a personagem e que até muda um pouco como a história dela é vista pelos leitores desde o primeiro capítulo da primeira temporada.

Sabendo o que o babaca fez, podem entender que é um capítulo pesado. Fica o aviso.

.

Camila

.

Me recostei contra a poltrona e fechei os olhos. Fátima nem chegou a perguntar como eu estava e já me encontrava chorando.

A verdade, sem colocar nem tirar, era que meu encontro com John me destruiu como nada antes me tocou. Era além do meu pavor sobre a terra, era íntimo e me rasgava tanto por dentro quanto por fora.

Me sinto enojada só em lembrar que ele um dia me tocou, que isso tinha sido real.

Fátima me empurrou os lenços de papel e me deixou em meu silêncio, tomando meu tempo para tentar dizer o que eu sentia e o que tinha acontecido em minha semana que me deixava afogada em lágrimas.

Não me importei exatamente em começar a soluçar e sentir meu corpo se debater. Ela já me viu assim. Já me viu apavorada em meus medos e mergulhada em dúvidas e agonias.

Funguei. Procurei pelo ar e soube que estava tendo uma crise de ansiedade quando a senti segurar meus pulsos e guiar minha respiração. Fátima conduziu meus sentidos até que eu voltasse ao mundo real e doloroso.

- Eu... - finalmente gaguejei, respirando fundo - sinceramente, não sei por que me sinto assim, já que não me lembro.

Engoli em seco.

- Não se lembrar não significa que não tenha importância, Camila. Não lembrar pode doer mais do que ter detalhes para superar. A ignorância nem sempre é uma benção.

Fiquei em silêncio novamente degustando suas palavras.

- Ele voltou - sussurrei - aquele que fez minha filha em mim.

Vi Fátima se inclinar e voltar a segurar meus pulsos quando resgatei um hábito antigo, escondido e constrangedor torcê-los e de enterrar as unhas neles, diretamente contra minhas veias pulsantes, sem sequer me importar que pudesse me machucar - e que machucaria.

Eu usava pulseiras e blusas longas, mas fazia muito tempo desde que me comportei assim na última vez. Não gostava de pensar nisso. Lauren se comportava da mesma maneira que Fátima, mas ela beijava minhas mãos e pulsos e isso era algo que só minha doce Lauren conseguiria alcançar.

- Ele me contou - pausei novamente porque minha garganta parecia feita de papelão - ele me... não sei se consigo falar.

Meu sussurro doeu mais que meus pensamentos e eu achava que isso era impossível. Eu era ignorante demais até para saber que seria assim. A dor física nunca foi meu forte porque raramente a expus ao mundo. Uma das piores vezes fora quando meu medo e o peso de minhas decisões se misturaram a dor do parto e eu não sei dizer o que era pior.

Às vezes pensava que havia demorado tanto pra parir porque antes da dor do parto ser suficiente para indicar o início, havia a dor de meus sentimentos se misturando. No fim tudo era apenas dor e não importava.

Todas as coisas doeram por muito tempo até que as engoli e tentei deixar o mais longe de mim possível.

- Eu não sei por que isso importa agora porque... eu não me lembro, entende? Eu estava tão bêbada que simplesmente...