40 - Já passou

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Imagem clichê, né?

Último recorte da sequência de coisas sérias. Tem conteúdo sensível, tomem cuidado.

Aqui a Camila ainda não sabe o que aconteceu com ela. Tem muita coisa que dói nela aqui.

Vou deixa um alerta para quem quiser pular.

Leu os termos e deseja continuar?

.

POV Camila

.

Ok. Estava tudo bem até que vieram as dores. Era apenas mais um sonho gostoso com bananas dançado Hula antes que a poeira subisse e elas corressem.

Visitei novamente meu sonho habitual. A poeira, Lauren, a criança, a morte.

De repente eu acordei e as coisas se aceleraram. A Lauren de verdade surgiu do nada e segurava minha mão enquanto a luz me cegava. Doía demais.

A pior dor do mundo inteiro. Parecia quebrar todos os meus ossos como naquele filme da garota idiota que engravida de um cara morto e acha que sobreviveria morrendo depois de parir.

É, era isso. Finalmente entendi que também estava parindo. Esse monstrinho me mataria!

Doeu tanto que gritei. Não consegui ser corajosa e não assustar a cara já pálida de susto de Lauren. Ela não parava de me olhar com seus grandes olhos arregalados e a ruguinha de preocupação.

Quis dizer "está tudo bem", mas as palavras se desencontraram e acabei gritando um "eu vou morrer!" ou "Eu não quero morrer!". Não sei ao certo. No fim, acreditei que tinha que ser sincera.

Mamãe surgiu em meu campo de visão e disse que estava só começando, e que eu me acalmasse. Eu só queria que isso acabasse logo. Não podiam me fazer a droga de uma cesariana?

Porque eu não queria nenhuma marca que me lembrasse de um dos piores momentos da minha vida. Era duro entender isso. Cadê a beleza do nascimento e da maternidade?

A culpa era toda minha. Eu tinha me colocado nisso. Eu tinha que sofrer por bagunçar a vida de tanta gente.

Meus próprios gritos provocavam dores em meus ouvidos, mas quem se importa?! Eu estava morrendo! Ninguém entendia que eu estava morrendo?

Se não fosse só meu corpo se partindo, ainda tinha meu coração querendo fugir e parando, porque no fim, ele iria mesmo embora com Lauren e eu não sobreviveria.

Então, por que ninguém acabava com isso logo?

Senti vontade de vomitar. Minha cabeça achou uma ideia excelente me causar tonturas. No fundo do meu cenário de morte, Lauren dizia que tudo ficaria bem. Parecia até aquela música daquela cantora deprimida, mas sim, eu só queria estar morta. Só que eu sabia que Lauren não estaria me esperando do outro lado.

Isso pareceu justo. Ela tinha muito o que viver longe de minhas merdas. Eu não desejaria nada tão ruim assim para Lauren. Era perfeito para nós que ela fosse embora. Morrer e viver, respectivamente.

Flertar com a morte diariamente era engraçado, beijar ela nem tanto.

Sim. Que tirassem aquela coisinha e a levassem para bem longe. Ela seria feliz, ainda que eu jamais fosse respirar novamente. Não era só um bebê que eu não queria, mas minha alma escapando de meu corpo como uma espada que atravessasse meu útero nos separando.

*nota: parágrafo sensível, gatilho*

Pisquei e vi a cena borrada. Era aquele babaca que não sabia usar corretamente uma camisinha. Não entendi seu rosto, mas encontrei seus olhos azuis com os meus ao mesmo tempo em que minhas mãos encontraram seus cabelos loiros e puxaram. Me perguntei por que tinha decidido fazer isso quando tudo apenas rodava. Queria dizer que já tinha cansado do joguinho idiota e ele nem fazia bem, mas ele mudou a posição de minhas pernas e continuou me fodendo e até que foi bom para me distrair, porque logo começaria a pensar no tédio que era essa foda que não terminava logo ao invés dos problemas, mas... Meus músculos ainda não tinham relaxado e minha mente ainda estava nos pesadelos que voltavam para minha infância. Não sei dizer o que doía mais, nem o que era de fato realidade. Minha língua não tinha mais utilidade, então só deixei que acabasse para surtir logo algum efeito automático natural de um corpo pós foda. Reclamei um pouco da forma que consegui quando notei que tinha se livrado da camisinha e sujado minha barriga, mas cansei disso e deixei pra lá, procurando dormir de alguma exaustão que finalmente viesse sem me importar com onde estava e se era um lugar seguro. Talvez acordasse com a cara pintada, mas talvez também esquecesse de tudo isso. Não importa realmente, foi minha ideia idiota. Até ouvi um "ei, gatinha, não dorme não", mas dormi.

LIVRO 5 - EXTRA TRILOGIA - Recortes - Histórias Aleatórias Da TrilogiaOnde histórias criam vida. Descubra agora