| Caio |

558 86 10
                                    

"Por que ela me afeta tanto assim?", Pensei enquanto esperava a enfermeira ajudá-la a trocar de roupa. Eu deveria ter me afastado, mas acabava sempre mais próximo. Tentei sair do hospital ou ligar para Igor mandar alguém ficar com ela, mas eu nem se quer consegui me mexer. Fiquei sentado na maldita cadeira desconfortável da sala de espera por horas. 

A porta se abriu atrás de mim, me tirando dos meus pensamentos e a enfermeira saiu. Entrei no quarto e lá estava ela. Linda. Mesmo com o vestido verde água um pouco manchado de sangue no seu ombro esquerdo e a testa com um pequeno curativo.

Parei ao seu lado e dei o braço para que ela usasse como apoio. Saímos do hospital e pedi um táxi, já que meu carro havia ficado na empresa. Dei meu endereço e já podia sentir as engrenagens rodando em sua cabeça.

- Você ficará comigo. Ordens médicas - falei olhando pra ela.

- Por que você está fazendo isso? - questionou.

- Ouviu o médico. Você não pode dormir pelas próximas 24h e irei garantir que isso aconteça. Você sabe, não quero receber um processo por negligência - respondi.

- Eu posso muito bem ficar com um amigo - retrucou e pude perceber uma pontada de birra em seu tom de voz.

- Você vai ficar comigo e ponto final - falei encerrando o assunto e sentindo a tensão se espalhar dentro de mim com a menção de um amigo. Antonella tinha namorado? não, Igor teria mencionado. Tentei relaxar e fiquei observando-a olhar pela janela do táxi. 

O taxista nos deixou em meu endereço 40 minutos depois. Ajudei Antonella a sair e entramos no hall do edifício moderno a nossa frente. O porteiro me reconheceu e liberou nossa entrada.

Estava caminhando para as portas do elevador ainda segurando Antonella ao meu lado quando ela parou abruptamente.

- O que foi? Você está sentindo algo? - perguntei preocupado tentando avaliar qualquer sinal de que ela não estivesse bem.

- Você mora em que andar? - perguntou em um fio de voz.

- Na cobertura. Vamos - falei voltando para os elevadores. Ela não se moveu um centímetro.

- Eu... Eu não... Não posso entrar... Elevadores são... pequenos... E... Eu não posso - ela falava com um pânico claro em sua voz e dava pequenos passos para trás.

- São vinte andares. A única forma de subirmos para a cobertura rapidamente é pelos elevadores - pontuei.

- Escadas? - perguntou.

- Vinte andares de escada - respondi - Você é claustrofóbica? 

Suas pupilas estavam dilatadas. A respiração estava ofegante e podia ver facilmente a veia pulsar em seu pescoço, assim como pequenas gotículas de suor em suas têmporas. Essa mulher tinha um pânico claro em relação aos elevadores.

- Tudo bem, vamos de escada - falei e a levei para as escadas ao lado dos elevadores.

- Por que você não sobe de elevador? Eu posso subir sozinha pelas escadas - me perguntou.

- Você não vai sair da minha vista - respondi.

Passei meu braço direito rodeando sua cintura e segurei sua mão esquerda para apoiá-la. Com aqueles saltos, sua cabeça chegava ao meu ombro e consegui sentir o cheiro suave dos seus cabelos. Seu corpo suave encaixavam perfeitamente ao meu.

"Merda". Meu pau pesava entre as minhas pernas exigindo atenção. Ignorando-o, começamos a subir a escada e diminuí o ritmo para que ela não tropeçasse com aqueles saltos.

O vestido que ela usava chegava a poucos centímetros acima dos joelhos e balançava suavemente entre suas pernas a medida que subíamos os degraus que pareciam intermináveis. 

Soltei sua mão esquerda para pegar as chaves que estavam em meu bolso e abrir a porta, quando chegamos ao último lance e paramos em frente a porta de segurança. Diferente do elevador que já nos deixaria na sala de estar, precisávamos passar por duas portas para chegarmos a cozinha.

- Uau, é... É incrível - Antonella falou enquanto entrava na cozinha. A perda de sua proximidade ao meu corpo causou uma sensação de frio.

Ela circulou em trezentos e sessenta graus toda a cozinha admirada com o lugar.

- Obrigado - agradeci. A cozinha era ampla. Havia uma ilha de mármore escuro com banquetas para as refeições. Ao lado da geladeira, a bancada seguia em L separando o forno elétrico, micro-ondas e a pia. O restante do espaço era composto por armários para armazenar condimentos, panelas e louças.

Tudo em preto carvão. E agora não parava de imaginar comendo-a apoiada na ilha. "Merda".

- Vou ligar e pedir algo para comermos - falei enquanto me virava para a porta da geladeira onde eu grudava os cartões de alguns restaurantes que gostava - Não comemos nada desde o almoço.

- Café - falou enquanto se sentava em uma das banquetas na ilha - Eu não almocei.

- Por que você não almoçou? - perguntei preocupado e mandei mensagem rápida pedindo pizza e sushi. Voltei minha atenção para ela. 

- Érico, do décimo segundo andar, estava se atrapalhando com o novo sistema e fui ajudá-lo - respondeu - Quando terminei, já havia passado da minha hora de almoço e Igor havia pedido os arquivos dos Alianças e, bom, você sabe o resto.

Antes que eu falasse qualquer coisa, meu celular tocou e o atendi sem olhar a tela. 

- Esqueceu que eu pedi notícias sobre Antonella? Beth está histérica achando que ela perdeu a memória ou algo assim - era Igor preocupado ao telefone. Revirei os olhos para o seu drama sem tamanho. 

- Ela está bem. Estamos na minha casa. O médico pediu que ela ficasse 24h sem dormir e já estava tarde para ir para a casa de alguma outra pessoa. E ela não pode ficar sozinha - dei a desculpa mais esfarrapada que achei.

- Avise-a que a bolsa dela está comigo e passo para deixar aí amanhã e ver se ela está viva com meus próprios olhos - falou.

Antonella me olhava atônita através da ilha. Dei de ombros e terminei a ligação sem falar mais nada.

- Ele disse que sua bolsa está com ele e vai passar amanhã cedo para deixá-la e ver como você está - comentei me aproximando dela.

- Por que eu estou aqui? Nós nunca se quer trocamos meia dúzia de palavras, ou ficamos mais do que cinco minutos no mesmo lugar - questionou se levantando e fazendo uma careta de dor quando apoiou o peso no braço engessado.

- Porque eu não consigo parar de pensar em você! - tentei me segurar, mas só senti todo o meu controle se esvair.

A confusão e o choque em seus olhos estavam se tornando familiares para mim. 

Desviei meus olhos do seu e olhei para sua boca. Tentadora. Cheia. Vermelha e sem resquícios do batom cor de rosa que ela costumava usar.

Um beijo e quem sabe toda essa obsessão pararia. sim, só um beijo. Só precisava sentir seus lábios nos meus e provar se eram tão macios quanto aparentavam.

Aproximei cada vez mais perto dela. Suas pupilas estavam dilatadas e seus seios presos pareciam quererem saltar do decote simples do vestido. Ela poderia se afastar a qualquer momento. E então aconteceu.

O encontro de nossas bocas provocou uma descarga elétrica em meu corpo que eu nunca senti antes. Sua boca era macia, doce, suave contra a minha. "Tão responsiva", pensei enquanto segura sua cabeça com a mão direita e a puxava para mais perto de encontro ao meu corpo.

Minha perdição.



[Série: Rendidos 01] SubestimadaOnde histórias criam vida. Descubra agora