| Antonella |

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Dava pra ouvir os sapatos dos homens pelo corredor e respirei fundo tentando me acalmar. 

- Ficará tudo bem - Caio falou ao meu lado.

Estávamos sentados no sofá desde que as meninas e Igor foram para o quarto. Eu não iria levantar e me esforçar mais do que o necessário, meus bebês estavam seguros dentro de mim e assim ficariam. 

- Boa tarde - o delegado falou se aproximando e estendendo a mão - Sou delegado Paulo Abraão. 

- Boa tarde - cumprimentei de volta e acenei para o promotor e dois policiais que estavam com ele. Tinha um terceiro com uma farda preta.

- Boa tarde - Caio o cumprimentou também. 

- Antonella, você tem o direito de ter um advogado com você para prestar depoimento - o promotor falou. 

- Não precisa - rebati - Só quero que isso acabe logo. 

- Vocês podem nos dar licença? - o delegado pediu apontando para Caio e Stefano.

- Não - respondi - Eles ficam aqui. 

- O julgamento de Marcos e Pedro toca em assuntos sigilosos, senhorita - voltou a falar - Não é possível que civis saibam sobre isso. 

- Um comandante federal estava recebendo dinheiro do meu primo - rebati - Realmente acha que estou me sentindo segura ao redor da polícia?

Isso fez com que ele abaixasse a cabeça e respirasse fundo antes de encarar de volta. 

- Tudo bem - concordou. 

Caio se levantou e pegou uma de suas cadeiras colocando-a na sala perto da televisão e de frente pra mim. 

- Fiquem a vontade - falou sentando-se ao meu lado.

O delegado se sentou na cadeira, o promotor na outra extremidade do sofá, Stefano ficou de pé no corredor com o fardado de preto e os policiais ao seu lado. 

- Temos as imagens do momento do seu sequestro e o depoimento dos policiais que a seguiram, bem como o depoimento do senhor Guerra - começou - A senhorita consegue nos contar o que aconteceu quando saiu do consultório e foi colocada dentro da van?

- Sim - respondi respirando fundo - Lembro que vi Pedro do lado de fora do consultório quando fui joga sobre o ombro do sequestrador. 

- Pegamos uma imagem parcial dele - falou enquanto fazia anotações em um caderninho - O que aconteceu quando foi colocada na van?

- Eles apontaram armas pra mim - respondi sentindo Caio ficar tenso e vendo-o abrir e fechar os punhos - Depois injetaram algo no meu braço, tentei reagir, mas eram muitos. 

- Benzodiazepina - falou - O hospital nos enviou uma cópia dos resultados dos seus exames. O que aconteceu depois?

- Acordei em um quarto mofado. Estava escuro e uma luz fraca vinha de fora de uma pequena janela - respondi - Era por volta da meia-noite, eu acho. Pedro entrou no quarto logo depois. 

- O que ele queria? - perguntou. 

- O de sempre - respondi respirando fundo porque isso não seria fácil - Pedro sempre gostou da tortura psicológica. Então, fez o mesmo de antes. 

- Preciso que você seja específica - falou olhando pra mim e parando de escrever - Podemos parar por alguns minutos se preferir.

- Ele me deu um tapa e falou que não precisava de mim viva, como o pai queria - respondi - Logo depois saiu e ligou o som fazendo as paredes tremerem e eu desejar arrancar minhas próprias orelhas. 

[Série: Rendidos 01] SubestimadaOnde histórias criam vida. Descubra agora