| Caio |

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- ELA ME AMA! - gritei entrando na sala de Igor. Ainda era bastante cedo e não tinha muitas pessoas na empresa a essa hora. 

- O QUE?! - perguntou sorrindo e se levantando - Tem certeza? Será que a dose da epinefrina não foi alta demais?

- Cala a boca, porra. A minha mulher me ama! - abracei meu amigo ainda sorrindo. 

- O que está acontecendo aqui? - Stefano perguntou entrando na sala - Vocês estão se assumindo? É isso? Bem que eu suspeitei. 

- Cala a boca, caralho - falei e sorri - Antonella me ama!

- A epinefrina deve ter sido alta, não é? - perguntou a Igor e depois sorriu me abraçando - Felicidades, meu amigo!

Depois de contar como aconteceu, porque eles são fofoqueiros, avisei que elas estavam se encontrando com o advogado naquele momento. 

- Beth também foi com elas - Igor falou se sentando em sua cadeira - Só preciso que Carina assine os papéis da demissão e contratação no setor de contabilidade para que tudo se acerte. 

- Como alguém pode querer tirar a filha de uma mãe? - Stefano perguntou de pé com as mãos no bolso - Miserabile. (Desgraçada).

- Isso não se faz - falei - Pelo que vi, Carina dá duro pra dar conta e garantir os sorrisos da minha pequena. 

- Vamos esperar pelas instruções do advogado - Igor comentou - É o melhor a se fazer. 

Stefano se despediu, saindo da sala, e segui Igor para a sala de reuniões ao lado. 

Alguns clientes novos estavam em processo de fechar contrato e precisávamos revisar os últimos papéis antes de começarmos. Três longas reuniões e quatro longas horas depois, estávamos terminando a última da manhã.

- Como vai Antonella? - Rafael González perguntou pausadamente em um português arrastado. Não gostei nem um pouco da pergunta - Não a vi por aqui. 

O rico espanhol devia ter a minha idade, ou algo parecido, e estava de mudança para o Brasil. Fechou contrato conosco para a construção de sua casa em um condomínio de luxo e da sede da sua empresa que estaria sendo transferida pra cá. 

- A minha mulher vai muito bem - respondi encarando-o e o desgraçado teve a ousadia de sorrir. 

- Ah, vejo - falou ainda sorrindo - Tu señora es muy hermosa. No debería estar sin un anillo en tu dedo. (Sua senhora é muito bonita. Não deveria estar sem uma aliança em seu dedo). 

- Já está sendo providenciado - falei encarando-o. Eu não falava espanhol muito bem, mas entendi o que ele disse. Levantei dando a reunião por encerrada.

- Dile que te mando un beso - falou sorrindo e saindo da sala acompanhado de seus assistentes. (Diga-a que mandei um beijo).

Igor estava rindo e me segurando dentro da sala pra não ir atrás do idiota e quebrar seus dentes.

- Agora você sabe como é ter uma gostosa - falou ainda rindo - Respira que o contrato já foi fechado e ele não vai mais vê-la. 

- Como assim 'não vai mais'? - perguntei curioso - Conta logo!

- Antonella fala espanhol - deu de ombros sorrindo - Quem você acha que fez a mediação?

- Droga de mulher inteligente - Respirei fundo. Porra, como eu vou fazer pra não matar cada babaca dessa cidade?

Saímos da sala de reuniões e me despedi de Igor. Já estava perto da hora que ela chegaria e esperaria lá fora. Vi Carina caminhando em direção a frente da empresa e parecia menos triste.

- Como foi? - perguntei curioso e estendi a mão que ela aceitou - Deu tudo certo?

- Doutor Santoro é incrível - respondeu sorrindo levemente - Ele disse que Marina não pode tirar a guarda da minha filha de mim. 

- Graças a Deus - falei aliviado. 

- Deixei Antonella no médico dela faz umas horas - apontou para um dos edifícios empresariais atrás dela - Já deve estar saindo. Preciso ir falar com Igor. Até mais tarde.

- Até mais tarde - acenei. 

Deixei os papéis das reuniões dentro do meu carro e retirei o paletó guardando-o no veiculo. Afrouxei a gravata me recostando no carro e observei a rua esperando por ela. Eu sabia que Antonella não queria filhos agora, não com a situação perigosa. E respeitava isso. Estava do lado dela. Eu precisava ser mais cuidadoso. 

Ela não havia notado os seguranças que a seguiam e dei graças a Deus por isso. As minhas bolas permaneceriam intactas por algum tempo. 

Longos minutos depois, vi a minha mulher descer as escadas do prédio ao longe. Meu coração parecia dar ainda mais cambalhotas dentro do peito. Droga, eu parecia um moleque apaixonado. Dane-se, eu estava apaixonado. Cadê a porra do gesso? Por que ela não me disse que estava indo retira-lo? 

Caminhei em sua direção para encurtar o nosso espaço, mas ela ainda estava longe. Não tinha atravessado a rua completamente quando uma van preta parou bruscamente ao seu lado e Antonella correu na direção oposta. Homens armados saltaram do veículo correndo atrás dela e a descarga de adrenalina que senti fez com que eu corresse atrás deles. 

- ANTONELLA! - gritei seu nome enquanto corria. Um homem mascarado a puxou pelos cabelos e em segundos a jogou sobre o ombro enquanto corria de volta para a van. Eles dispararam rajadas de balas em minha direção e dois carros iguais pararam na minha frente cortando o meu caminho. 

- ABAIXA! ABAIXA! - gritou um homem de preto descendo do carro e empunhando a arma na direção da van. Um outro homem me empurrou para o chão enquanto usava o carro de escudo contra os tiros que estavam sendo disparados em nossa direção - Solicito reforços imediatamente. Tiros disparados contra a polícia. Tiros disparados contra a polícia. Temos um sequestro em andamento!

Ouvi pneus cantando e mais tiros disparados. Entrei no banco de trás do carro quando eles também entraram. Nem a pau que vou ficar longe

- Era só a van? - o policial que estava no banco do passageiro perguntou. O outro continuava latindo ordens no rádio - Tinha algum outro veículo. 

- Só a van - confirmei - Seis homens desceram, o motorista continuou dentro. 

A van estava fazendo curvas em alta velocidade para despistar a polícia e tentar se livrar do tráfego do meio-dia. Os carros de polícia estavam com as sirenes ligadas e os perseguindo em alta velocidade, mas não estávamos perto o suficiente. A van seguia indo em direção ao norte, cortando as avenidas principais com alto fluxo de carros, e pegando as ruas secundárias. 

As portas de trás da van foram abertas abruptamente e começaram a atirar em nossa direção. O motorista tentava desviar fazendo ziguezague, mas alguns tiros ainda atravessaram o carro. O policial que havia falado comigo foi atingido no ombro e gritava para o motorista continuar. Retirei a gravata que ainda estava pendurada em meu pescoço e a enrolei em cima do ferimento. 

Foi quando olhei pra frente e gelei. Os sequestradores ainda estavam atirando em nós, a polícia ainda tentava desviar, mas dentro da van dava pra ver três deles tentando conter Antonella que se debatia. Um outro estava com uma seringa na mão e a espetou no braço da minha mulher, que caiu mole quase que instantaneamente. 

Um tiro pegou no pneu da viatura fazendo com que perdesse velocidade, mas sem parar. A segunda viatura que vinha atrás de nós, passou a nossa frente e capotou poucos metros depois quando sofreu o ataque mais intenso dos disparos.

O carro em que estava parou bruscamente atrás do que havia capotado e desci correndo. Corri atrás da van que se distanciava cada vez mais levando a minha mulher embora. 

-ANTONELLA! -gritei seu nome sentindo meus pulmões explodirem, mas não parei de correr. Corri atrás do amor da minha vida e vi meu mundo ruir quando a maldita van desapareceu das minhas vistas - NÃO!

NÃO!




[Série: Rendidos 01] SubestimadaOnde histórias criam vida. Descubra agora