| Caio |

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- Você é forte para enfrentá-lo, Tonton - o homem, que agora eu sabia se chamar Bento, falou puxando a letra 'R' - Seus pais a criaram bem. 

Antonella tinha ficado tensa quando entramos na mansão. As memórias do que sofreu nas mãos de Pedro e Marcos se sobressaiam das que tinha com sua família. Antes ela olhava para tudo com medo, mas agora estava diferente. Antonella estava saudosa, e Bento fazia bem a ela. 

Após percebermos que o senhor de idade não demonstrava qualquer tipo de perigo para Antonella, fiquei mais calmo. Stefano retirou os cartuchos da espingarda e a colocou sob sua vista. O comandante digitava algo no celular e, pela troca de olhares com Stefano, estavam passando o pente fino em Bento. 

- Estou com tanta saudade deles - falou, mas ao invés de lágrimas, ela sorriu tristemente para Bento. 

Estávamos sentados na ilha da cozinha. Bento havia retirado uma cesta farta de comida da caminhonete e distribuído os alimentos para todos. Antonella, que tinha enjoado de tudo no café da manhã, comeu quase que metade do bolo de milho sozinha. 

- A dor não passa rápido, Tonton - falou pegando a mão de Antonella - Ela nos atormenta por um tempo, mas diminui quando a tratamos com respeito. Tenha as boas lembranças do passado e faça novas com sua nova família. 

Antonella olhou em minha direção e sorriu com os olhos marejados antes de voltar-se para Bento. 

- Sempre com sábias palavras - falou sorrindo - Nem parece que puxava minhas orelhas quando eu descia a montanha. 

- Nossa senhora, nem me lembre disso - Bento passou a mão sobre o rosto e riu - Você era ainda mais danada que seus irmãos. Oh, trio baderneiro.

- Conta mais, Bento - Stefano pediu rindo e sentando-se do outro lado de Antonella e de frente pra Bento - Não consigo imaginar sorella aprontando. 

- Essa aqui era desgovernada - falou rindo apontando para Antonella - Marcelo mandava ela ir pela direita, e a menina ia pela esquerda. Nadine manda subir, e ela descia. Quando se juntava com Tony e Rey, as paredes dessa mansão tremiam. 

- Sorella, você será um exemplo épico para as gêmeas - Stefano comentou rindo e olhou para mim, em pé atrás de Antonella - Fratello, você está fodido. 

Revirei os olhos sorrindo e afaguei os ombros de Antonella. Bento olhou em minha direção como se estivesse me avaliando antes de falar. 

- Lembro do dia em que você trouxe um namorado para cá - congelei minhas mãos e Antonella escondeu o rosto, gemendo entre as mãos - Marcelo colocou o pobre menino pra correr ladeira abaixo. 

- Coitado do João - Antonella falou rindo - Eu era apaixonada por ele. 

- Bom saber - murmurei não gostando nada do rumo dessa conversa.

- Um homem que sabe e que valoriza o que tem - Bento falou olhando pra mim com uma expressão que passou de neutra para uma que dizia para eu ter cuidado - O pai e os irmãos dela podem não estar aqui, mas eu estou. 

O aviso foi claro.

O celular dele tocou e logo o atendeu. Antonella recolheu o que tinha sobrado sobre a mesa e devolveu tudo para a cesta. Coloquei a louça suja na lava-louça e saímos da casa encontrando com Bento do lado de fora. 

A tarde já estava chegando ao fim. O horizonte mostrava o céu alaranjando dando lugar a uma noite azul e a vista que presenciamos era fenomenal. 

- Precisamos ir, Bento. Mas prometo que volto e quero que você vá me visitar também - Antonella falou abraçando o senhor que retribuía o gesto com um carinho paternal. 

[Série: Rendidos 01] SubestimadaOnde histórias criam vida. Descubra agora