| Bônus: Stefano + Carina |

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Carina

Stefano estacionou seu carro na vaga de Antonella e logo desceu abrindo a porta de trás para retirar uma Bia adormecida da cadeirinha. Ela havia tomado banho na casa de Beth, antes de sairmos, e logo dormiu após começarmos a fazer o caminho de casa. 

Ele tentou manter uma conversa comigo durante o longo caminho, mas eu estava nervosa demais por entregar o presente que havia comprado pra ele, e acho que o mesmo se chateou pelas minhas respostas monossilábicas. 

Desci do carro e peguei a mochila da minha filha junto com a minha bolsa. Abri a porta de trás para pegar as inúmeras sacolas de presentes, mas elas já não estavam ali. Fechei a porta sem entender e olhei para Stefano que tinha Bia agarrada ao seu pescoço e protetoramente segura em seu braço, e as sacolas em sua outra mão. 

- Eu a levo - falei me aproximando e estendendo os braços para pegá-la do seu colo, mas Stefano se virou e apontou para a entrada do bloco. 

- Seguirei atrás de você - falou em um tom calmo, mas que não admitia contradições.

- Então me dê as sacolas - fiz menção em pegá-las e ele se virou novamente. 

- Levarei tudo pra cima, agora suba - semicerrei os olhos em sua direção não gostando da ordem, mas ele conseguia ser ainda mais persistente do que eu. 

Revirei os olhos e segui na frente. Não passou despercebido agora, ou nem nas outras milhões de vezes em que ele estava por perto, seu olhar varrendo todo o lugar. Abri a porta do bloco e esperei que ele passasse antes de soltá-la. A trava automática impedia sua abertura sem uma tag codificada.

Subi os degraus e eu sabia que seus olhos estavam na minha bunda. Apressei meu passo já com as chaves na mão e abri minha porta. Stefano colocou as sacolas em cima do sofá e abri as portas da varanda para que o ar agradável da noite circulasse pelo ambiente. 

- Já fez as malas para o fim de semana? - perguntou e me virei pra ele. Suas mãos ninavam Bia enquanto ele se movia suavemente com ela aconchegada em seu peito.

- Ainda não - respondi retirando os saltos que usava e os colocando ao lado do sofá - Precisava de algumas coisas que comprei hoje, mas amanhã eu faço. 

Parei na sua frente e retirei as sandálias dos pés de Bia, assim como a pulseira que havia ganhado do pai de Caio, que agora ela chamava de vovô Davi. Antonella insistiu em dizer que a peça não tinha sido cara, mas eu conhecia minha amiga demais pra saber que ela só disse isso por medo que eu devolvesse. Até tentei.

- Já fez a sua? - perguntei me sentindo menos nervosa e apontei para o corredor. 

- Sim, não é preciso muita coisa - respondeu entrando no quarto - Um final de semana em um resort. 

- Disse isso a Beth? - perguntei sorrindo e afastando as cobertas da cama. Liguei o ar-condicionado na temperatura fraca com o timer para se autodesligar em algumas horas após esfriar o ambiente.

- Como alguém leva quatro malas para um final de semana? - perguntou incrédulo e depositou a pequena na cama. 

Bia se remexeu na cama procurando sua posição confortável e Stefano a cobriu com as cobertas antes de beijar sua testa e desejar 'Buona notte' em seu ouvido. (boa noite).

Pisquei meus olhos rapidamente afastando as lágrimas que se formaram. Esse era o pai que a minha filha merecia e que deveria ter tido, se eu não tivesse sido tão ingênua. Saí do quarto e senti Stefano em minhas costas fechando a porta atrás de si. 

- Você está bem? - dava pra sentir uma nota de preocupação em sua voz e respirei fundo ante de virar pra ele. 

- Sim, não é nada - respondi sorrindo - Só o cansaço da semana batendo. 

- Descanse um pouco - falou colocando as mãos no bolso. O movimento fez o tecido da blusa social preta que usava se esticar, eu me perguntava como não rasgava - Vou indo. 

- An... antes de você ir - falei quando já tinha passado por mim em direção a porta - Eu queria te dar algo. 

Stefano se virou e seus olhos verdes brilhavam conforme sua íris se dilatava. Peguei minha bolsa no sofá e retirei de dentro a sacola pequena de papel preta com a marca da loja em letras pequenas douradas. 

- Pra mim? - perguntou um pouco surpreso e um sorriso brincava em seus lábios cheios - Não precisava, amore mio. (meu amor).

Eu entendia os termos carinhosos que ele usava com frequência, como realmente termos carinhosos. Pensar de outro jeito seria tão...

Stefano abriu a embalagem e retirou um saquinho de pelúcia preto. Abriu-o e retirou a caixinha também preta. Dentro havia uma correntinha de ouro com o pingente de São Jorge, o protetor dos soldados, dos lutadores e guerreiros. Era assim que eu via Stefano: como um guerreiro. 

- Grazie, bellísima - agradeceu, deu um passo a frente entrando em meu espaço pessoal, e me abraçou. (obrigado, linda).

O corpo de Stefano era quente, firme e tão masculino que estava elevando a minha própria temperatura. Ele se afastou ainda sorrindo e segurou meu rosto em suas mãos. As minhas foram por instinto para os seus pulsos, e ele desceu sua boca sobre a minha. 

Não foi um beijo de língua ou um beijo de novela. Apenas um encostar de lábios demorados que me tiraram o fôlego. 

- Tranque a porta quando eu sair - mandou e caminhou até a porta fechando-a, mas ainda dava pra ver que ele estava atrás dela - A porta, amore mio. 

Caminhei até a porta e segurei o trinco. A minha vontade era de abri-la, mas fiz como ele mandou e a tranquei. Escorei minhas costas nela e desci até sentar no chão. Toquei levemente os meus lábios ainda sentindo o formigamento. Não ouvi os sons dos sapatos de Stefano sobre o piso e me contorci olhando sobre a fresta da porta. Ele ainda estava ali. 

Voltei a me sentar com o coração batendo cada vez mais rápido e ouvi seus passos se afastando pelo corredor e pelas escadas. Levantei, fechei a porta da varanda e apaguei as luzes. Acendi a luminária de ambiente do quarto de Bia e fui para o meu. 

- Respira, Carina - falei para o meu reflexo no espelho do banheiro - Respira. 

Como era possível meus lábios ainda estarem formigando?

Retirei minha roupa e entrei sob os jatos de água do chuveiro. Alguns minutos depois, banho tomado e já deitada na cama, eu só conseguia pensar no homem dormindo no apartamento abaixo. 

A noite seria longa. 

Stefano

Eu a beijei. 

Foi no impulso e apenas um tocar de lábios, mas a beijei. Seus lábios eram macios e saboreavam a morangos, provavelmente por causa do batom que usava. Não pensei e apenas agi por instinto ao tocar nossos lábios. Carina poderia muito bem chutar as minhas bolas amanhã por causa disso. 

Levantei a correntinha de ouro entre meus dedos, como o bem mais precioso que eu tinha. São Jorge Guerreiro, o protetor. O pingente era redondo e tinha a gravura do santo na frente e uma inscrição atrás. Puxei o abajur aceso da mesa de cabeceira e aproximei o pingente para ler.

"Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, facas e lanças se quebrem sem o meu corpo tocar, cordas e correntes se arrebentem sem o meu corpo amarrar". 

- É uma oração de proteção - falei e olhei para cima sorrindo. 

Carina se preocupava comigo. Isso era bom, não? Mesmo sabendo que ela não precisava, eu fiquei tocado pelo presente. Desliguei o abajur e me recostei sobre os travesseiros. 

Dormi com um sorriso no rosto. 





[Série: Rendidos 01] SubestimadaOnde histórias criam vida. Descubra agora