Capítulo Um - Nova Versão!

2.3K 96 12
                                    

[Hall Endres]

Gritos e mais gritos.

Estou no meu quarto e com a porta trancada, as paredes parecem tremer a cada grito deles. Escuto barulho de vidro quebrando e mais gritos, as cobertas já não me fazem sentir seguro como antes, a porta parece fina demais para me proteger, aprendi a lição desde cedo, se intrometer é pior do que ficar escondido. Longos minutos depois os gritos cessaram.

Estão tentando abrir a porta do meu quarto e após alguns minutos tentando e vendo que eu não iria abrir começaram a dar socos na porta, meu coração palpita rapidamente dentro do peito, não consigo pensar direito, minha cabeça só pensa em fugir, para não ser pego de novo. Fecho os olhos. Penso em como seria bom voltar ao dia em que minha mãe... Que meu pai... Ou eu...

— Abre a porra da porta Endres, eu sei que você está aí, moleque!

A bebida faz a fala dele ficar enrolada, mas mesmo assim está alto e claro. Agarro o lençol com força torcendo para que ele vá embora. Mais barulhos de algo que quebrando, a voz da minha mãe também se faz presente.

— Deixa o menino em paz! — Ela grita.

Os escuto discutindo de novo. Limpo os requisitos das minhas lágrimas e depois noto que os cortes em meus braços já sararam. Há alguns dias Nilton viu esses cortes e puxou meu braço para avalia-los, estava tão perto que eu conseguia sentir o hálito dele me sufocando e seu aperto, me mantendo ainda mais próximo, me impossibilitando de fugir. Ele mandou que eu parasse de fazer aquilo. Disse para parar de tentar chamar atenção. Nunca quis obedecê-lo e só o faço para não ter mais brigas. Mas ele não é meu pai. Meu pai morreu. Minha mãe trouxe Nilton para nossas vidas de surpresa, passou apenas uma noite com ele e quando dei por mim, ele estava morando conosco. Desde que chegou, me olhou de um jeito estranho, como se não conseguisse o porquê de eu estar ali, como um animal incomodando.

Sempre existe uma razão para fazer com que uma pessoa queira fugir. Pode ser medo. Pode ser raiva. Pode até ser amor. Esses sentimentos levam as pessoas a tomarem decisões que mudarão suas vidas para sempre, ou pelo menos, por tempo o suficiente para que duas coisas aconteçam: arrependimento ou alívio. — Neste momento, sou movido pelo medo de continuar nessa casa, sou movido pela raiva que sinto da injustiça na minha vida. E espero sentir alívio. Eu quero alívio.

Horas se passaram e os gritos pararam, levantei da cama e peguei minha mochila da faculdade tirando todos os materiais de dentro e colocando algumas roupas e algumas coisas mais necessárias e esperei. Minha mãe deve ter se trancado no quarto e apagado, aquele traste deve ter ido para o outro quarto. Não sabia ao certo se ele saiu ou está no sofá; contando que esteja dormindo, não ligo.

A cada degrau meu coração acelera mais, não duvido que me abandone pela boca. Nunca tentei fugir de casa, a situação desde que Nilton chegou é ruim, mas eu aguentava, tinha de aguentar, porque eu ainda tinha esperanças de que tudo voltaria ao... normal? Não, nada mais é normal, de ponta a outra, tudo está de cabeça para baixo. Tive esperança, na verdade, que eu parasse de me sentir que não valia a pena sair da cama ou sequer, pensar em criar minha rotina. Via minha mãe e desejava que ela percebesse que cometeu um erro, que todos nós cometemos desde que papai morreu e, mesmo assim, eu a ajudaria, poderíamos melhorar. Por isso eu tinha esperança, porque no fundo, sabia que desejava tudo melhor de novo, por isso se chama esperança.

— Onde você pensa que vai? — Ele pergunta pausadamente.

— Nenhum canto.

— Sei o que pretende fazer, não dou à mínima, mas saiba que se sair por aquela porta, não precisa mais voltar.

Você não sabe o quanto desejo isso.

Tentei sair. Ele puxa meu antebraço direito e me faz cair perto dos seus pés, ele segura meus cabelos e fala pausadamente:

Minha Salvação | Série Irmãos Laurent-(Livro 1) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora