[Hall Endres]
Minha mãe estava dormindo quando chegamos. Era quase meia-noite e lá estávamos nós, saindo do carro depois de uma viagem de duas horas até a casa onde Haniel mora. Na ligação ele parecia bem aflito, e eu soube que o assunto era minha mãe. Bastou apenas ele dizer:
— Ela bebeu.
E eu entrei em pânico. Ela não é uma das pessoas que bebe e fica agressiva, como Nilton. Ela bebia e ficava deprimida, reclamona e às vezes, alterada, gritando. Mas nunca fez nada de muito perigoso, e era isso que me acalmava enquanto eu estava no carro — por mais que minha perna não parasse de balançar e eu tivesse vontade de roer as unhas até a carne viva dos meus dedos.
Por sorte, Diego não quis mais conversar sobre meu comportamento de horas atrás.
Eu tinha tanto no que pensar... Eu tinha que pensar em... Meu pai, minha mãe, Diego, Haniel, Gerry, a carta, a família Laurent... era coisa demais, eu estava suando apenas por pensar nelas e eu sabia que não durar muito se Diego continuasse a querer me cutucar com os assuntos. Eu tinha que aprender um jeito melhor de controlar minha língua, minha paciência e meus planos. Uma parte de mim conseguia acreditar que eu conseguiria driblar Gerry em algum momento, e talvez a tradução da carta que Billy me ofereceu fosse o momento que eu estava esperando. Eu só vou pensar nisso mais tarde.
Adentrei a casa de Haniel e o encontrei esperando no sofá. Foi então que percebi que ele estava balançando a perna impacientemente e roendo as unhas. Não quis reparar no quanto isso é bizarro. Ele disse que minha mãe estava no quarto, já dormindo depois que aceitou comer alguma coisa, negar tomar banho e aceitar um copo de água.
— Ela fez isso? — Diego apontou para uma coleção grande de vidro quebrado na sala, perto de uma poltrona velha amarela. — O que era isso?
— Ah, só um vaso. Minha mãe nem gostava tanto — qualquer um poderia perceber que Haniel estava mentindo, mas ele era gentil demais para demonstrar tão diretamente. Isso era bom, mas mesmo assim, pedi desculpas.
— Talvez seja melhor ela voltar comigo...?
Quis que ele respondesse. Mas não sabia se queria um sim ou um não. Haniel devia se sentir muito sozinho aqui, tendo uma vizinhança quase deserta em uma casa que carregava tantas lembranças que só podiam ser doloridas. Se ele dissesse que minha mãe poderia ficar então eu me sentiria aliviado, porque seria algo que me preocuparia menos. Ela estaria com ele, e ele é suficiente confiável. Só que hoje foi uma prova de que as coisas podem dar errado mesmo quando estão bem quietas.
— Não. Tudo bem. Quem sabe... Vocês queiram conversam com ela amanhã?
— Sim. A gente... Vamos ficar aqui? — Não queria que minha voz soasse tão interrogativa. Pareceu grosseiro, como se eu não quisesse. Mas não era isso. — Quer dizer... Se pudermos. Diego, você...
— Vou ligar para algumas pessoas. — Ele disse, estendendo o celular. Eu sabia que ele também estava pensando em outras coisas, e que não queria ter que ficar ali. Ele normalmente falaria mais alguma coisa, só que está estranho... desde daquela pergunta mais cedo.
Quando ele saiu pela porta da frente, a fechando, para nos dar privacidade, o silêncio ao redor foi... definitivo. Eu sabia que era o momento. Eu devia falar para ele sobre a ligação que recebi na casa dos pais de Diego. Era o pai dele também, afinal.
— Haniel... — ele se virou na minha direção.
— Acho que a gente devia conversar também — suas palavras vieram atropeladas, inseguras quase —, e acho que se eu não falar agora, não vou falar nunca mais. Hall, olha só... somos irmãos. Não somos?
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Minha Salvação | Série Irmãos Laurent-(Livro 1) (Romance Gay)
RomanceEm uma ponte no centro da Cidade, todos passam mas ninguém tenta impedi-lo para os que vagam ali ele é apenas mais um fazendo drama com a vida. Hall está prestes a cometer suicídio mas parece que no último segundo quando seus pés já estão em posição...