[Hall Endres]
Eu sei quantas vezes ele me chamou: dez.
Eu sei quantas dessas vezes eu respondi: zero.
Diego estava andando até a sala e voltando para ficar de frente à porta do banheiro, tentando decidir se deveria bater ou voltar para o sofá e me esperar. Não consigo deixar de me sentir ainda mais péssimo pelo que estou fazendo com ele, o deixando tão aflito.
Pego a toalha. Enxugo meu corpo lentamente e visto as mesmas roupas. Penteio os cabelos com os dedos até eles ficarem arrumadinhos, então vou para a sala, e o encontro no celular. Não faço ideia com quem ele está falando, mas Diego encerra a ligação quando me vê. Não sorrio, não consigo deixar de reparar nas linhas de preocupação em sua testa, ao redor da sua boca naquele sorriso amarelo. Percebo seu desconforto de longe.
— Você quer conversar agora? — Incrivelmente, eu quem pergunto isso.
— Se você puder, sim. Eu gostaria muito.
Mesmo que eu me esforçasse, não iria conseguir driblar aquela conversa. Não tinha como ser engraçado, não tinha como levar aquilo na esportiva, sequer havia uma maneira de contornar a situação e brincar: Ei, aquilo foi só brincadeira, uma atuação, eu estou legal, você quer ir tomar alguma coisa no bar do hotel? Sou maior de idade, pode acreditar.
Diego não deixaria passar.
Ele se tornou a imagem perfeita de um homem de negócios prestes a encarar uma reunião com um novo projeto, sua mente deveria estar afiada como a de um advogado.
— Comece pelo que aconteceu quando eu saí — manda. Pediu. Ordenou. Não sei. Sua voz está sem expressão, o que me deixa duvidando que ele vá acreditar em mim.
O que aconteceu foi: Quando Diego foi embora, minha tia chegou em mim, perguntou o que tinha acontecido. Ela estava mesmo voltando da igreja. Então contei que minha mãe tinha ido para algum lugar depois que eu fugi de casa, e agora meu padrasto estava atrás dela, mas eu não sabia onde ela estava — todas essas coisas, ele já sabia, eu estava apenas enrolando.
Depois que entrei na casa da minha tia, nós comemos. Ela pediu que eu contasse tudo do começo, de como havia acontecido depois que fugi de casa, mas eu menti em algumas partes, eu não podia dizer a ela que não aguentava mais ficar dentro de casa, ela diria algo moralista, ela usaria argumentos genéricos sobre Deus e não tem nada que eu odeie mais. Mas minha tia não era burra, ela sabia que eu estava escondendo algumas coisas, conhece a irmã que tem e por isso disse que eu poderia ficar, porque acima de tudo ela era minha tia, mas teríamos que tentar falar com minha mãe, achar ela.
Concordei com isso, eu não poderia negar, era exatamente o que eu queria, afinal.
Na primeira noite, minha tia e eu jantamos depois de fazer uma oração, ela pediu a Deus que colocasse juízo na minha cabeça e na cabeça da minha mãe, mas, o que notei, foi que ela não mencionou o nome do meu padrasto, como se não precisasse, como se não se importasse. Não sei se achei aquilo uma boa coisa, eu queria que ela notasse que a maior parte dos nossos problemas era por causa daquele homem, e não por mim, não por minha mãe.
Nilton não era um bom homem. Ele era violento, ele era muito chantagista e sabia fazer você ficar com medo, escolhia as palavras certas. Eu tinha medo dele, tinha medo dele como se fosse o próprio diabo. Mas, claro, eu não poderia dizer isso para ela. Acabamos jantando, ela tinha roupas para mim, que eram para a feira de doação na igreja que frequenta.
— Você pode usar — foi o que disse. Estava na cara que ela queria que eu caísse aos seus pés e agradecesse.
Mas eu só sorri e disse:
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Minha Salvação | Série Irmãos Laurent-(Livro 1) (Romance Gay)
RomanceEm uma ponte no centro da Cidade, todos passam mas ninguém tenta impedi-lo para os que vagam ali ele é apenas mais um fazendo drama com a vida. Hall está prestes a cometer suicídio mas parece que no último segundo quando seus pés já estão em posição...