Capítulo Trinta - Nova Versão!

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[Diego Laurent]

Enquanto Davi conversava com nossa mãe — e Billy havia se esgueirado para qualquer que fosse o canto —, fui procurar o meu pai no único lugar que eu sabia que ele estaria antes de jantarmos.

O escritório do meu pai nunca foi um lugar proibido para nenhum dos filhos, entretanto, havia regras sobre ele: não podíamos entrar lá depois das 22h ou se ele estivesse com alguém lá dentro, da família ou não. E meus irmãos e eu seguíamos essa regra até os dias de hoje, por isso bati de leve na porta antes de entrar. O encontrei na cadeira, lendo um livro de capa azul e com a perna cruzada.

— Ler antes de comer me faz ficar mais presente na conversa — diz ele assim que entro.

— Imagino — respondo.

Ele fechou o livro e dedicou sua atenção em mim, aos meus movimentos, e principalmente aos meus olhos. Meu pai gostava de conversar olho a olho, o que nunca foi um problema para mim. Quando ele conversava, quando era preciso, sua atenção ficava em cem por cento da pessoa.

— O que mais sabemos? — Vou direto ao assunto.

Hall ainda está no banheiro e eu não queria demorar aqui. Nenhum de nós poderia demorar, logo minha mãe ficaria impaciente.

— Sabemos o que sabemos — ele cruza as mãos sobre o peito, relaxado até demais —, não há nada novo. Isso é tão bom quanto é ruim. E você?

— O que tem eu?

— O que tem a dizer?

Pareciam que eu mordia palavras na minha boca agora. Mastigava e mastigava as palavras que minha garganta tinha posto na minha língua até elas virarem pó. Então dei de ombros. Eu não tinha nada a dizer, apenas sentia o medo dos meus pais no rosto deles. Gerry já foi problema demais quando eu e meus irmãos éramos apenas crianças, não podíamos ter um lar decente por muito tempo sem que algo acontecesse, mesmo que parecesse apenas um acidente corriqueiro. Meu pai gostava de ser precavido e havia nos ensinado a ser também, na maior parte do tempo.

Não saber o que dizer e não saber qual era o próximo passo era terrível. Dançar na escuridão era terrível.

Deixei que o silêncio entre nós aumentasse.

Até que ele o quebrou.

— Sua mãe está tentando deixar as coisas menos... tensas. Ficou preocupada quando você pediu que ela não fosse ontem até o hotel.

Aquele assunto ainda me deixava com raiva. Mas aquele era meu pai, eu sabia que podia contar com ele, sobre muitas coisas.

— O padrasto de Hall o perturbou, tentou machucá-lo no beco. Apareci lá e o ajudei, tive que ajudá-lo depois também.

— Sim — meu pai olha para a janela que há atrás de mim, como se pudesse ver alguém dali, mesmo estando sentado e reclinado —, eu notei o hematoma nele. O que se resolveu?

Dou de ombros novamente.

— Diego...

— Só apontei uma arma para ele.

— Alguém viu?

— Não.

Meu pai sussurrou algo apenas para si, em espanhol.

Quando se voltou para mim de novo, acabou sorrindo.

— Seus irmãos não vêm hoje. Kevin disse que tinha compromissos inadiáveis e Rafael... Viajando, como você sabe. Com bastante pressa.

Seria bom não ter eles aqui, mas não disse isso em voz alta apesar do meu pai suspeitar dos meus pensamentos inquilinos. Kevin e Rafael poderiam ser uma boa dupla se não se odiassem, e podiam sim ser parceiros para me atormentar. Infelizmente, nós quatro sempre tivemos conflitos, pouca coisa ou grande coisa, sempre preferíamos nós mesmos aos outros.

Minha Salvação | Série Irmãos Laurent-(Livro 1) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora