Capítulo Trinta e Um - Nova Versão!

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[Hall Endres]

Era a voz do meu pai do outro lado.

Eu tinha certeza assim como certeza que estava ainda no banheiro dos pais de Diego. Minha respiração não havia voltado ao normal, e por que voltaria se eu estou ao ponto de gritar?

— Hall? — Ele chamou meu nome novamente, e estava... cheio de felicidade, de esperança, esperando que eu respondesse. Eu sentia que ele queria que eu respondesse.

Mas a ligação caiu quando eu consegui me concentrar nas palavras que queria dizer. Eu estava preparado para dizê-las, realmente estava e então... aquele barulho de linha muda, quando já não há mais ninguém para nos ouvir do outro lado.

Era impossível, eu sabia.

Impossível, impossível, impossível, impossivelimpossivelimpossivel.

Mas havia uma coisa engraçada sobre as coisas impossíveis: Eram possíveis se achássemos que eram, não importava o que fosse.

E as memorias de quando meu pai foi enterrado de repente não passaram de um sonho que eu demorei muito a acordar, a sonolência foi abandonando meus ossos, saindo dos meus órgãos pelos ouvidos, que ainda escutava a respiração contida dele, como se estivesse com medo de ser descoberto se respirasse alto demais. Como se não quisesse me assustar. Engolir em seco machucou minha garganta, mas isso foi um bom sinal, queria dizer que eu não havia desmaiado em algum canto no caminho ao banheiro, significava que eu não estava sonhando, apesar de achar que estou.

Meu corpo está dormente e frio, não consigo deixar de aproximar mais o celular da orelha, sem medo de me machucar, sem medo de como aquela parte do meu rosto vai ficar suada e vermelha depois. O celular era a corda de esperança que eu esperara por muito tempo, e eu não queria deixá-la ir nem por um segundo.

— Pai? Como você...

— Hall? — Ele não estava me escutando bem.

Quis gritar.

E iria gritar. O que me impediu foi o que eu mais temia: aquela maldita ligação havia sido encerrada. Apenas o som dos toques que significam que aquela conexão fora cortada por agora. Já era.

Meu corpo não moveu um músculo até eu perceber que também não respirava. A falta de ar — a ardência nos pulmões — me trouxe de volta do redemoinho de pensamentos desastrosos e ansioso que eu estava tendo, não foram suficientes para me deixarem desnorteado mais do que eu já estava e, Deus, eu estava com o coração tão acelerado que senti minha garganta pulsando sob meus dedos também. Testei andar. Testei falar.

Eu estava chorando, mas não copiosamente, apenas silenciosamente. Como deveria ser.

Eu precisava me recompor. Logo.

Levei alguns minutos para conseguir. Acabei esquecendo o que queria fazer no banheiro, se é que iria fazer alguma coisa. Na hora de sair, encontrei com alguém no corredor, por pouco não tombamos.

— Desculpe — murmurei, a voz ainda por um fio, minha cabeça abaixada. Eu deveria ser a imagem perfeita e exata de uma criança culpada.

A pessoa ali era Billy.

Eu não estava preparado para aquele momento, mas foi como um interruptor de uma lâmpada sendo ligado. A ideia acendeu na minha cabeça. "Não foi nada" disse ele, mas não de um jeito que alguém consideraria gentil. Não foi nada gentil. Mas não tenho tempo para me importar com gentileza agora.

— Você... está com Davi? —Podia ter sido a pior coisa a se falar. E realmente foi. O rosto dele se fechou em uma expressão descontente, quase raivosa demais para mim. Tentei dizer a mim mesmo que estava tudo bem, o máximo que ele poderia fazer era sair de perto de mim sem responder às perguntas que eu planejo.

— E se eu estiver? O que você diria?

— Não diria nada...

— Foi o que eu pensei

Ele deu um passo em direção ao corredor à esquerda. Talvez quisesse ir até a porta da frente ou sei lá. Só sabia que não podia deixá-lo ir agora. Saquei meu celular e mostrei a foto da carta, torcendo para que fosse apenas imaginação minha que meus dedos estavam tremendo.

— Pode me traduzir isso?

Billy franziu o cenho geneticamente. Eu poderia dizer que a expressão dele podia dizer quase "que porra..." e depois... Não sei. Pareceu mais curioso do que queria demonstrar. Ele passou a ponta da língua nos dentes antes de responder.

— Diz... Oh, que bênção seria não se casar jamais, nem jamais envelhecer, mas passar toda a vida, inocente e indiferentemente, junto as árvores e aos rios que só nos podem manter a calma e como que para sempre crianças em meio aos percalços do mundo! O casamento ou qualquer alegria perturbariam a clareza da visão que ainda possuo. Foi a ideia de perdê-la que gritei no meu íntimo: "Não, nunca hei de deixá-los por um amante ou um marido", pondo-me de imediato a caçar coelhos no mato, com os cachorros e Jeremy. É isso que diz.

Levei mais tempo para processar aquelas palavras do que gostaria de admitir. Eu estava pronto para que a tradução fosse algo substancial e não... Um poema.

— Hã? — Foi tudo o que consegui formular. Minha mente tinha acabado de ficar enevoada. Eram as cinzas dos meus planos indo aos quatro ventos.

Eu tinha ideia do meu papel de idiota agora.

Billy, por outro lado, parecia não se importar. Ele já havia respondido a minha pergunta e parecia estar mais do que ansioso para se livrar de mim. Não o impedi uma segunda vez quando ele foi para o corredor. Fiquei sozinho e a imensa vontade de me esconder do banheiro floresceu, depressa e assustadora. Guardei o celular antes que meus dedos o quebrassem pelo aperto que eu estava fazendo nele.

— • —

O amigo de Diego me fez diversas perguntas que tive que lutar para responder sem parecer estar pouco me importando. Eu estava me importando, e estava realmente grato pelo que eles estavam fazendo. Mas eu não conseguia deixar outras coisas de lado para poder aproveitar aquele momento, aquela oportunidade. Era assim que as coisas começavam a dar errado.

Quando chegamos ao hotel, fui impedido de me isolar.

— O que está acontecendo com você? — Exigiu saber.

— Nada — falei, rápido demais.

Era a maior mentira. Uma das, pelo menos.

Mas não tivemos tempo para discutir. Meu celular tocou no bolso de trás e eu o saquei depressa. Minha pulsação acelerou de repente, e eu soube que ouviria a voz do meu pai novamente, chamando meu nome, e talvez isso me ajudasse a provar para Diego que eu não estava ficando louco, e se estava ficando, então pelo menos tinha motivos para tal.

Mas, ao telefone, não era a voz do meu pai.

Era Haniel, e ele parecia preocupado.

Eu sabia que ele estava tentando me ligar mais cedo. Quando ele falou, eu soube que o problema era sério, e cheguei até a imaginar o que seria.

— É sua mãe, Hall...

Minha Salvação | Série Irmãos Laurent-(Livro 1) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora