[Diego Laurent]
A ansiedade estava nele como uma segunda pele. O fazia balançar a perna e parar subitamente, quando percebia. O mesmo com a unha levada à boca, mordia por um segundo ou dois a pele até levá-la de volta ao colo, onde fazia punhos até suas veias ficarem destacadas pela força que usava. Em meia hora, as cutículas deles foram arrancadas e aqueles espaços mordidos ficaram vermelhos e sangrando.
Eu estava em um conflito interno: não sabia se deveria tentar iniciar uma conversa para distrai-o ou continuar quieto, ficando apenas com meus pensamentos e deixar Hall com os dele. Parecia ser a coisa mais certa a se fazer, essa segunda opção. Até eu não conseguir mais me segurar ao vê-lo daquela maneira.
— Estou pensando em diversas maneiras de acalmar você — confesso, sentindo meus dedos apertando o volante com mais força a cada segundo —, mas não consigo, não quero piorar as coisas. Devo parar de falar?
— Não — ele me surpreende com a resposta —, não pare. Minha ansiedade faz eu me guardar, mas eu consigo prestar atenção em você, Diego.
Quando ele diz meu nome, meu coração bate mais forte.
Quando ele diz meu nome sorrindo, meu oração parece que vai explodir de felicidade. O sorriso dele é exatamente o que se espera que seja: o de um jovem, inocente em muitos ângulos, um sorriso sincero juvenil. Eu adoro o sorriso dele e, se eu não estivesse dirigindo acabaria por me deixar prestar ainda mais atenção nele. Em seu rosto, por completo.
Eu o beijaria.
— Então, bem, eu... — balbuciei, um segundo depois —que tal você me dizer algo sobre você que ainda não sei?
— Você sabe tudo sobre mim. O que a mídia fala de você é tudo verdade?
Franzo o cenho e consigo perceber, pelo retrovisor, como as rugas ficam fundas em minha testa e ao redor dos olhos. Olho desconfiado para Hall, ao meu lado. Confiro se ele está usando o cinto de segurança antes de perguntar:
— Como assim?
A mídia era uma das coisas que eu mais odiava na minha vida. A mídia era invasiva, e eu não me esforçava tanto para ter algum apreço por eles. Havia dias em que eu era cercado por pessoas com câmeras e elas disparavam suas perguntas, suas opiniões, apontavam seus microfones ou seus dedos na minha cara em busca de algo que eu não ia dar: respostas. Eles queriam tudo, se eu abrisse um espaço, mesmo que por acidente, eles me rasgariam em pedaços.
As perguntas podiam e eram, em sua maioria, ofensivas. Ácidas.
Diego você está quase chegando aos 45, quando vai se casar? Você acha que pode acabar sozinho?
Diego o que aconteceu com sua ex-namorada? Ela te largou? O que você fez?
Diego e os seus irmãos? Vocês ainda estão brigados? Você os odeia?
Comente sobre sua idade e o que você espera do futuro?
Diego como vai sua saúde? Você já tem alguém para cuidar de você além da sua mãe? Conte! Queremos saber! Diego, Diego!
Afasto a cacofonia de vozes da minha cabeça.
Relaxo os ombros.
— Ah, você sabe, eles vivem dizendo que a cada semana você vive com uma modelo diferente. Eu só... achei... Ah, nada. Não sei por que eu perguntei.
Eu ri. Um riso que borbulhou meu estômago e chegou a minha garganta de modo rouco.com os vidros fechados, minha risada ricocheteou e pareceu voltar para mim. Ao ver a cara dele, ri um pouco mais.
Será que ele estava me testando?
Será que ele não percebia esse meu nervosismo? Ou o fato de que eu sorria mais quando estou perto dele, como agora, só nós dois nesse carro e estou quase parando no acostamento para lhe implorar um beijo? Hall não percebia nada disso? Desde que o beijei na cozinha da minha mãe, eu o desejo a todo o momento, não consigo parar de pensar nele quando saio para trabalhar, quando evito conversar com Thiago porque me sinto culpado o suficiente para ser um idiota.
Continuo dirigindo, o momento do nosso primeiro beijo incendiando meu corpo.
— Não me relaciono com muitas pessoas — conto —, justamente para evitar chamar atenção. Mas quando acontece, a mídia aumenta tudo, fazem história demais, para vender mais. As mulheres com quem me relacionem são bem conhecidas, às vezes não passava de uma única noite.
— E os homens? — O ouvi sussurrar.
Parecia estar curioso e, ao mesmo tempo, tenso.
Senti vontade de rir de novo, mas me segurei.
— Com homens sempre foi uma coisa escondidas. Em eventos de gala eu me encontrava com um homem que tinha tanto a perder quanto eu, assim, o segredo estava a salvo. Sempre. Mas... — as palavras ficaram emboladas na minha garganta, eu não consegui pensar em dizer a ele o que realmente estava pensando: que estava pensando que eu e ele...
Talvez...
Acabo tossindo.
As palavras somem como se nunca tivessem lá.
— Caso eu encontre alguém por quem vale a pena revelar isso, eu o faria — acrescentei, e foi o melhor jeito que consegui. Eu esperava que ele houvesse entendido.
— Sei — foi tudo o que ele respondeu.
Voltamos ao desconfortável silêncio.
A perna dele voltou a balançar.
As unhas foram mordidas um pouco mais.
Eu pisei no acelerador.
O último lugar que a mãe de Hall usou o cartão de crédito fora em um bar. O cheiro que vinha de lá era abafado, poeira flutuava à luz do sol e as manchas nas paredes eram duvidosas. Eu olhei ao redor, tendo em mente a descrição que Hall fez da mãe dele: cabelos castanhos, quase louros banhados pelo sol, rosto anguloso, queixo projetado, pele branca e lábios delicados, o inferior menor que o superior.
Não havia ninguém ali assim. Apenas homens que discutiam na mesa de sinuca, mulheres no balcão e uma senhora conversando com um homem sorridente. Pelo que parecia, aquela mulher estava compartilhando segredos com ele, sorrindo, oferecida, e o cara, concordava, sendo gentil, mas posso apostar que queria sair dali — quando trocamos olhares, foi quase o que consegui perceber.
Volto para o carro.
— Ela estava lá? — Ele me perguntou assim que bati a porta e nos tranquei de novo.
Nego com a cabeça.
— E agora?
Penso.
— Podemos perguntar ao dono do bar se você quiser, mas dificilmente eu acho que ele pode nos dizer aonde ela foi. Quer tentar ligar para ela pelo meu telefone?
Hall diz que sim. Entrego o aparelho para ele.
Enquanto disca, percebo suas mãos trêmulas. Quando leva o celular à orelha, ele engole em seco: os toques, um após o outro, o deixa mais aflito. Até que seus olhos se arregalam e eu percebo: a mãe dele atendeu.
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Minha Salvação | Série Irmãos Laurent-(Livro 1) (Romance Gay)
RomanceEm uma ponte no centro da Cidade, todos passam mas ninguém tenta impedi-lo para os que vagam ali ele é apenas mais um fazendo drama com a vida. Hall está prestes a cometer suicídio mas parece que no último segundo quando seus pés já estão em posição...