[Hall Endres]
Escutei tudo o que ele estava fazendo enquanto fingia dormir. Agora era o seguinte: eu fingia dormir, fingia estar bem. Diego preparou alguma coisa na cozinha, ou tentou, ele havia pedido de serviço e devia estar arrumando a mesa. Estou tentando não contar os segundos para o momento em que ele vai ter que me acordar, e eu vou ter que fingir acordar de um sono. Se eu tiver que sorrir vou acabar querendo gritar.
Ainda eram oito da noite. Eu mandei uma mensagem para minha mãe avisando que estava com Diego, ela havia respondido apenas com um "tá" e depois, nada. Eu entendia que ela ainda não conseguia se aproximar tanto de mim pelo que aconteceu, pelo que nós dois fizemos. Era uma rachadura sem tamanho e nenhum de nós sabia como consertar ou se havia mesmo um jeito de consertar. Com Haniel a história era um pouco parecida, a única diferença era que a rachadura em nossa conexão só havia uma palavra: pai.
Não conseguimos encontrar um meio para melhorar.
Ou melhor dizendo, eu não queria um meio. Haniel me deixava desconfortável.
Meu celular vibrou duas vezes debaixo do travesseiro, mas não atendi nenhuma dessas vezes, com medo do que eu poderia encontrar. Gerry não havia mentido quando disse que poderia colocar culpa em meus ombros, eu já havia até imaginado como seria, mas não consegui concluí o pensamento, era sombrio demais.
Era estranho pensar que eu estou metido nisso. Eu havia feito uma pesquisa profunda sobre Gerry, mas o que descobri sobre ele é basicamente besteira. Empresário, rico, não é casado (afinal ele ainda está atrás da mulher que se apaixonou quando era jovem) e quase sempre está certo em suas decisões. Ele conseguia investir em projetos que eram um sucesso instantaneamente; as pessoas o queriam por perto em diversos eventos. Gerry também não saia muito de casa, havia dado uma entrevista para uma coluna chamada Him e afirmou que seu prazer estava nos livros, no conforto da sua mansão.
Aquele filho da mãe se diverte manipulando as pessoas como fantoche, isso sim.
Apaguei o histórico de busca.
Fingi que não sabia sobre o assunto quando Diego apareceu no quarto usando apenas calção. A camisa dele sumiu, e o físico dele estava ali. Parecia impossível que ele fosse tão bonito assim. Ele... Diego era magnífico que me deixava receoso de estar perto dele. Era uma sensação que eu conhecia desde criança, a de não querer estar tão perto de alguém para que eu não possa contaminar aquela pessoa. Sinto o sentimento com pitadas generosas de nostalgia e amargura, me forço a engolir tudo de uma vez, como um remédio ruim. Pronto. Pronto.
— Dormiu bem?
— Dormi.
— Está com fome?
— Morrendo. — Dessa vez, sorri foi mais fácil. Foi quase... natural.
Levantei da cama, mas antes que eu pudesse ir para a cozinha, Diego se aproximou de mim, sua sombra me cobriu inteiramente, embora o calor tenha vindo do seu corpo ao me envolver em um apertado abraço. Logo depois, sua boca procurou a minha a qualquer custo. Beijá-lo foi reavivar meu coração entediante e deixar que minhas veias experimentassem da adrenalina fumegante da excitação. Poder saborear os lábios dele de novo era ser convidado de novo para o paraíso, mesmo para mim, que respiro pecados.
— Quis fazer isso desde que estávamos no restaurante. — Confessa.
— Eu andei pensando... Não estou tão confortável estando com minha mãe e Haniel. Você sabe... No dia da ponte...
— Vamos fazer isso comendo.
Concordei.
Andamos até à mesa.
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Minha Salvação | Série Irmãos Laurent-(Livro 1) (Romance Gay)
RomanceEm uma ponte no centro da Cidade, todos passam mas ninguém tenta impedi-lo para os que vagam ali ele é apenas mais um fazendo drama com a vida. Hall está prestes a cometer suicídio mas parece que no último segundo quando seus pés já estão em posição...