Capítulo Vinte e Um - Nova Versão!

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[Hall Endres]

Levei vinte minutos para me secar e trocar de roupa, isso porque eu queria adiar ao máximo a conversa com minha mãe e Haniel, e só eles dois já que Diego e aquele outro homem saiam, para nos deixarem a sós. Eu sabia que Diego teria sua própria conversa séria em algum lugar da cidade, provavelmente até no carro dele, mas isso não me deixava menos raivoso com ele. Porque foi exatamente assim que fiquei quando ele apareceu á porta do banheiro, ficando ao lado da minha mãe — mais alto que ela, os olhos castanhos ainda mais arregalados também — e trazendo Haniel, que ficou ao seu lado, olhando a cena, tentando entender. Fiquei com raiva por ele ter ido atrás da minha mãe, e fiquei ainda mais puto por ele ter me dito que parecia ser uma boa ideia.

Não pude conversar tanto com ele com o olhar do amigo — se é que eram apenas amigos — dele em cima de mim, pressionando meu corpo, fazendo as palavras rabiscadas nele ferverem como se fossem feitas há poucos segundos. não pude deixar de notar que minha camisa molhada cobria bem as palavras no meu torso, mas não a dos meus braços, que ainda estavam tingidos de vermelho aqui e ali, mas, certo, ninguém comentou sobre. O que foi bom, mas eu percebi o olhar de Haniel sobre mim, e as dúvidas dele na ponta da língua. Acho que nunca pensei que desprezaria uma pessoa tanto assim, mesmo tendo pensamentos racionais e válidos, meus sentimentos não são tão puros assim, não consigo controlar tão bem quando fico lembrando do meu pai, que já não posso descontar a culpa porque morreu, e só me resta esse garoto que é tão parecido com ele. É ciúmes, fúria e a tristeza que não desgruda de mim, todos esses sentimentos me deixaram em um casulo frio e duro, metálico como o cheiro de sangue, e não consigo me livrar dele. Não consigo por mais que tentasse. E quando troquei a camisa molhada por uma limpa, me olhei no espelho do quarto de Diego e desejei ter tido a oportunidade de colocar outra palavra em meu peito, uma maior, uma que me causasse tanta dor que me deixaria zonzo, então eu poderia até escapar de uma longa conversa que não queria ter. Respiro fundo, tento deixar esses pensamentos de lado, porque eles não vão me ajudar agora. Mesmo que eu sinta que mais tarde vou passar a noite acordado, insone, de novo, como nos dias em que estive na rua.

Troco a calça jeans, penteio o cabelo. Meu coração acelera e consigo imaginar a palavra MACHUCADO pulsando, animadamente, como em um pula-pula feito de pele, a minha pele avermelhada.

Antes que eu chegue na sala, escuto uma conversa da minha mãe com Haniel.

— Ele faz isso? — Perguntou ele, e parecia interessado demais para o meu gosto.

Minha mãe não disse uma reposta, talvez tenha balançado a cabeça ao invés disso, não tenho como saber, escondido, colado à parede e prendendo a respiração.

Depois disso, ela trocou de assunto.

— Ele também não conseguia.

"Ele" deve ser o meu... nosso pai.

Não gosto da ideia de dividi-lo.

Não sei qual o assunto deles antes de Haniel perguntar sobre mim. Qual assunto eles teriam falado no carro, com Diego? E antes disso, quando estavam apenas eles dois naquela casa? O que será que Diego pediu que eles falassem e o que não falassem? Não saber dessas coisas me deixava com vontade de me esconder, mas eu não iria fazer isso.

Eu precisava organizar algumas coisas, afinal, eu havia pensado nisso desde que Diego me ajudou a procurar por minha mãe, indo comigo até a casa da minha tia — antes de tudo ruir.

Eu tinha uma nova chance.

Percebo a pilha de papeis amassados ao longe, no quarto, com a porta escancarada. Espero que eu lembre de jogá-los fora.

Apareço na sala. Os dois sofás estão ocupados: um por ele, e outro por ela. Haniel afasta um pouco no sofá de dois lugares para que eu me sente ao lado dele, e, o sorriso dele, o dente torto perto do fim dos lábios... é demais para mim, escolho se sentar ao lado da minha mãe e não olho para ele. Mesmo assim, sento-me distante dela, porque também não quero estar tão próximo para que ela sinta os arrepios que eu estou sentindo nesse momento.

Minha Salvação | Série Irmãos Laurent-(Livro 1) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora