[Hall Endres]
É incrível como minha capacidade de reconhecer alguém que está próximo de mim sem que a pessoa falasse um A sequer. Eu sabia quem era que estava atrás de mim, forçando meu nariz e minha boca de fazer o que deveriam: respirar e gritar.
Aliás, foi justamente o cheiro daquela palma que despertou minhas memórias. Era cheiro de limão, porém, mais foi que um simples aroma, era ácido e me deixava enjoado.
Meu padrasto havia me machucado na noite em que decidi sair de casa, as digitais dele estão de novo em mim, me machucando de novo.
— Fica quieto — ordena ele em uma baforada que escorre diretamente para meu pescoço, me arrepiando — Fica quieto ou eu vou matar você.
Finalmente havia entendido o porquê das minhas pernas estarem tremendo tanto, do porquê, depois que ele falou isso, eu tinha tentado dizer "não" mesmo sabendo que não seria ouvido. Morrer nunca me assustou como agora.
Quando fiquei suficientemente quieto, andamos em passos iguais e nossos corpos quase colados para bem distante do hotel, das luzes quase cegantes e consequentemente, das pessoas. O barulho do vento e do sangue correndo, das baforadas em minha orelha e das ameaças dele era tudo o que eu ouvia. Escondidos, Nilton finalmente me largou. Mas não me deixou ir muito longe — as mãos dele me agarram bem depressa, muito antes que eu conseguisse entender qual era minha perna esquerda e qual a direita. Eu havia perdido o dom de correr.
Fui colocado contra a parede com agressividade. Senti o interior do meu corpo estremecer com o impacto que começou na nuca e nas omoplatas suadas: o som — oco, ao que parecia — ecoou dentro de mim, fazendo meu estômago embrulhar. Seria ótimo vomitar na cara dele agora, e, somente pelo cheiro de embriaguez dele, me deixa enjoado, mas não ao ponto de querer vomitar.
— O que você quer!?
Ele voltou a tampar minha boca.
— Fica quieto, porra! Eu vou matar você.
Eu não duvidava, mas também queria saber até onde ele chegaria. Eu gostaria de saber — e ter a certeza — se eu teria alguma chance contra ele. Seu estado de embriaguez não é tanta, porém, da para notar que ele está lutando contra a sonolência que o álcool trouxe, e suas pernas ficavam bambas vez ou outra. Isso era vantagem, mas não enquanto eu ainda estava preso contra a parede, com a mão dele na minha boca, descendo para o meu pescoço.
— Onde está?
— O que? — Franzo o cenho. Não consigo respirar direito. Sinto diversos cheiros ruins, é difícil saber qual é qual.
O beco que estamos, noto, é bem iluminado, mas vazio. Os carros que passam por nós já têm seus destinos, não ligam para nós. Ainda.
— O dinheiro, seu idiota! Cadê o dinheiro que você está ganhando com aquele riquinho? Cadê!
Com uma explosão de luz atrás dos meus olhos, percebo do que ele está falando: Diego. Nilton acha que estou com Diego pelo dinheiro, como um... garoto de programa? É isso.
Tento me afastar dele mais uma vez.
— Eu não sei do que você está falando, seu bêbado idiota. Me larga!
Minha voz saia abafada e esganiçada. Eu não tinha um plano, mas sempre podia correr e gritar, e me parecia um bom plano. Mas ele não me dava espaço para isso. Percebo que ele estava se aproximando mais, como se fosse possível, até sua boca e sua barba nojenta estarem bem próximos que eu sentisse o cheiro do que ele havia comido mais cedo. Camarão, talvez. Minha ânsia aumenta.
— Eu vou querer esse dinheiro, Hall, e aí você vai embora. Mas só me dê o dinheiro.
Clic!
Ele estava com um canivete na mão livre.
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Minha Salvação | Série Irmãos Laurent-(Livro 1) (Romance Gay)
Roman d'amourEm uma ponte no centro da Cidade, todos passam mas ninguém tenta impedi-lo para os que vagam ali ele é apenas mais um fazendo drama com a vida. Hall está prestes a cometer suicídio mas parece que no último segundo quando seus pés já estão em posição...