Capítulo Quarenta - Nova Versão!

620 10 2
                                    

[Hall Endres]

Sinto a bile arder até ao que parece atrás dos meus olhos. Dou um passo para trás, o mais longe possível daqueles dois, daquela cena horrenda — os olhos azuis de Valentim estavam na minha mente, o modo como ele conseguia fazer com que eu me sentisse bem-vindo sem sua casa mesmo que me intimidasse um pouco pela sua altura e a cor albina da sua pele — e acabo dando de cara com a sua esposa que ele tanto ama beijando seu inimigo declarado desde que moravam em outro país.

Thiago põe a mão no meu ombro, com força. Para me impedir de escapar ou para me amparar caso o choque resolva me fazer desmaiar, não sei. Ele tosse, chamando a atenção deles.

Foi aí que o alívio percorreu meu corpo. Eu era a panela quente e o alívio era a água corrente na qual fui jogado, causando assim uma calefação de alívio em fumaça que saiu pelo meu nariz. Fiquei grato aos céus por perceber que aquela mulher não era Andressa, e sim algum tipo de sócia, uma mulher extremamente parecida, até mesmo no modo como ficava em pé. Havia um erro, porém, no modo como ela encarava as pessoas; enquanto essa mulher parecia querer agradar a todos ao redor com seu olhar bondoso e seu sorriso de lábios rosados atraentes, a mãe de Diego olhava para todos com total força, até mesmo no dia em que quase me atropelou, além da preocupação comigo, eu percebi como ela estava determinada. A determinação vestia àquela mulher, esta, não.

— Pode ir agora, Cecília, mais tarde conversaremos. Pode ter certeza.

A mulher saiu, dando adeus a todos nós. Encarei Gerry por alguns segundos.

— Achei que não queria outra além de Andressa — cuspi a acusação como se fosse veneno ou facas. Gostaria que fosse, até.

— E quero, mas enquanto não a tenho comigo, tenho que me virar, não tenho?

Sinto nojo dele e por ele. Thiago, ao meu lado, parece mais desconfortável que qualquer coisa.

— Agora, vamos tratar de negócios — ele se senta em sua cadeira e cruza as mãos sobre a barriga —, como você está, Hallberto?

Um sorriso repuxa em meus lábios.

— Estarei melhor quando for embora.

Ele sorriu da minha audácia.

— Pois bem, vamos direto ao ponto, então. Estou planejando algo para a família de Diego, amanhã à noite. Eles vão comemorar o aniversário do filho mais novo.

— Rafael? — Engulo em seco, e corta minha garganta.

— É. Esse mesmo, o mais problemático pelo que eu analisei. Vai ser algo rápido, algo... só para a família.

— Como sabe que eu vou ser convidado?

— Porque você é... amigo do nosso Diego, não é isso?

Ele me olha, duvidando que eu desminta. A entonação certeira na palavra "amigo" fez com que eu sentisse mais raiva do que aparento ter. ao que parecia, foi bom que Diego e eu não fomos mais vistos juntos, as pessoas começariam a desconfiar. Rafael já disse, e agora Gerry... seria terrível para ele.

— O que eu vou fazer? Eles vão notar qualquer movimento meu... Eles não são burros, Gerry.

— Entretanto, nunca pensaram que o coelhinho que puseram para dentro de sua toca fosse um lobo disfarçado. Ah, Hall, existe uma coisa que sempre digo: não existem pessoas burras, existe apenas inteligências diferentes. Você é inteligente porque não se rendeu às drogas ou à loucura, que é o que a maioria dos jovens fazem na sua idade. Foi burro, porém, em se envolver com Diego. Eles estarão de olho em você, é verdade, e você não vai precisar mover um dedo, vai precisar apenas... ser você. Compreende?

— Então você não vai me contar o plano? — Questiono, cruzando os braços para tentar fazer uma barreira contra as palavras dele, que machucam, por mais que tenham sido ditas levianamente. Uma conversa comum.

— Contar a você? Isso não. Veja, agora, eu não sou burro. Você não vai saber nada até a hora, até eu decidir que você deve saber.

Olho para Thiago.

— Diego confiava em você, por que está nisso? Há quanto tempo está nisso?

Ele me olha com o mesmo desprezo que há em meus olhos, consigo sentir a tensão entre nós chamuscar.

— Você não pode falar de confiança, Hall... Está tão nisso quanto eu.

Infelizmente, ele tinha razão.

Fui deixado na praça novamente. Caminhei após dez minutos para me certificar de que estava sozinho mesmo na rua, e não sendo vigiado — e mesmo assim, fui por um caminho mais longo para despistar os olhos que poderiam haver atrás de mim.

A conversa com Gerry deixou meus pelos arrepiados e minha mente emaranhada em pensamentos. Em algum lugar, em algum tempo, alguém disse: Existem dois tipos de pessoas más, aquelas que fazem as maldades e àquelas que observam as maldades e não fazem nada.

Ah... Isso foi em Meninas Malvadas.

Não importa, é verdade. Gerry vai aprontar alguma, ele ficou tempo demais quieto e escondido. Me tinha na mão, tinha informações e tinha Thiago, uma fonte. Sinto como se minha alma estivesse congelando, deixando meus movimentos mais lentos e mais densos, como estar debaixo d'água. É como sentir seu sistema morrendo aos poucos, como uma planta pelo calor. E no fim, você acaba desabando.

Desabei no sofá da casa de Mirella e não consegui segurar o choro por mais que meia hora, e acabei chorando porque sabia que era uma pessoa totalmente horrível.

Quando Mirella chega, a ajudo com as sacolas de compras. O que também me faz ficar um pouco envergonhado por ter chegado sem dinheiro algum. Ela disse para eu não me preocupar com isso.

— Vamos jantar e esquecer algumas coisas.

— Parece ótimo — declaro.

À noite, enquanto assistíamos algum filme bobo da Netflix, alguém bateu à porta.

Duas batidas, com força.

Olhei assustado para Mirella e notei o quanto assustada ela estava também. Seus olhos arregalados e seus ombros tensos. Levantei-me, deixando meu prato no centro, e indo até à porta. Articulei sem som: Não se preocupe.

Abro a porta e dou de cara com Diego.

— Ah, uau — murmuro.

— Oi — vi como ele estava envergonhado.

— Você se barbeou. Parece outra pessoa — sorrio, constrangido.

Nossa última conversa havia sido tão esquisita e agora estamos aqui, falando sobre como ele fica mais lindo sem barba. Mais jovem, atraente e...

Pare. Pare com isso agora mesmo!

— Podemos conversar? Aqui fora?

Não vejo muitas pessoas na rua. Só uma mulher esperando que o cachorro terminasse de mijar numa árvore do outro lado da rua. As luzes das outras casas estavam acesas e o aroma de uma sopa sendo preparada chegou até nós. Inspirei fundo, e foi como se aquele cheiro preenchesse a cratera do meu peito, me enchendo de coragem. Olho para Mirella e digo:

— Volto já, deixe um pouco desse macarrão para mim.

— Está com seu celular? — Ela não parece tão segura quanto deveria estar. Não a culpo, por isso digo que sim.

Sai noite à fora para conversar com Diego.

🎉 Você terminou a leitura de Minha Salvação | Série Irmãos Laurent-(Livro 1) (Romance Gay) 🎉
Minha Salvação | Série Irmãos Laurent-(Livro 1) (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora