Mais tarde naquele dia chegamos em casa com o cair da tarde. A sala espaçosa estava banhada com luz do por do sol que entrava pela janela aberta, tingindo os sofás branco de couro, as paredes claras e as poltronas em tons de dourado.
Jean estava calado. Mas tinha expressões neutras, fazendo com que eu não tivesse ideia do que ele estava pensando ou sentindo.
Mas certamente a resposta veio mais tarde.
Entrei no quarto e pendurei a bolsa em um ganchinho no closet, enquanto chutava os sapatos para um canto. O quarto não parecia nem o mesmo de mais cedo. Senhora O'leary deixara tudo perfeitamente arrumado e cheiroso. Até mesmo as cortinas ela substituiu por outra, agora na cor vinho combinando com os lençóis.
Ainda sem falar nada meu marido entrou no banheiro e eu escutei o barulho da água um minuto depois.
Tirei o vestido e a meia calça, Jean não protestou quando entrei junto dele no chuveiro. Até mesmo retribuiu o beijo que eu lhe dei, esticando o corpo um pouco para tocar seus lábios.
A primeira coisa concreta que ele disse foi quando estávamos sentados à mesa, terminando de jantar o ensopado que senhora O'leary deixou preparado.
Ele colocou o copo na mesa com calma e ficou passando o dedo indicador na borda.
- Eu gostaria que você se afastasse da Eloise - disse ele com a voz baixa e calma.
O pedido me pegou tão de surpresa que engoli rápido demais o suco e ele desceu apertado pela garganta. Eu arregalei um poucos os olhos.
- Como é ?
- Eu quero que você se afaste da Eloise - ele repetiu com a voz mas firme.
- Por que eu faria isso ? - disparei.
- Porque eu estou pedindo - mandando, foi o que ele não precisou dizer.
Dei um risada sem alegria e balancei a cabeça.
- Isso é ridículo. Eloise é minha amiga desde que éramos apenas duas meninas.
- Nunca é tarde para concertar erros - retorquiu com frieza.
Me virei na cadeira para ficar completamente de frente para ele.
- Minha amizade com Eloise nunca foi um erro. Ela esteve nos momentos em que mais precisei, você sabe bem disso - o que ele estava pensando ?
Jean apertou os lábios e juntou as palmas das mãos.
- Vocês não são mais adolescentes - uma risada sarcástica - certamente Eloise se comporta como uma. Mas você não é. Você é uma mulher adulta e essa amizade só vai prejudicá-la.
Eu o fixei meus olhos nele por alguns momentos.
- Você está falando muita merda - falei cansada, voltando o olhar para o prato vazio na minha frente.
- Eu estou falando merda - repetiu com uma voz mortalmente calma. - O que você sentiria se me visse se engraçando pro lado de outra mulher e meu "amigo" - ele fez aspas com as mãos - tivesse ali dando a maior força.
Eu não soube o que responder de imediato. Eu nem mesmo estava acreditando no que estava ouvindo. Ele só podia estar de brincadeira.
A acusação pairou sobre nós.
- Se engraçando ? Estávamos conversando - falei, um pouco alto demais.
- Você estava faltando só se jogar no pescoço dele. Eu vi, fiquei observando.
- Ai meu Deus - exclamei, incrédula.
- Eu sei que Eloise sempre quis que você ficasse com ele - ele continuou - sei que ela não gosta de mim e que ela ficaria radiante se você me desse um pé na bunda e ficasse com aquele babaca.
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Flores para Lis
RomantikLis é uma das mais renomadas advogadas de sua cidade, com éticas de trabalho pessoais que conquistou a confiança de seus clientes, junto de seus outros quatro irmãos advogados. Mas alguns deles parecem não mais compartilhar das mesmas opiniões. Uma...
