Capítulo 04 🌹

114 17 282
                                    

Cambaleei pro lado e Jean levantou de um pulo para me segurar. Então me levou para a cadeira em que ele ocupava antes.

Levou alguns segundos, ou minutos para a informação se assentar.

- Por que faríamos isso ? - perguntei, enfim recuperando a voz.

Ray hesitou por um momento, e fez um gesto impaciente com a mão de dedos finos.

- Porque precisamos. Podemos expandir muito mais nossos atendimentos e então teremos mais lucros e mais reconhecimento - ele respondeu.

- Reconhecimento ? De quê ? De uma família que defende idiotas que fazem merda ? O que você está pensando Ray ?

Ele cruzou os braços e encostou na cadeira, nem um pouco abalado.

- Lis, simplesmente não é nada demais - cantarolou ele.

E foi então que meu auto-controle foi pro espaço. Quando eu vi já estava gritando.

- Nada demais ? Nada de mais ? Nós juramos defender pessoas inocentes que passaram pelas mãos de pessoas ruins - lembrei a ele.

Ele deu de ombros, a face não revelando nada mais que tédio.

- Juramos onde ? - ele perguntou com uma voz firme. - Quando me formei não me lembro de ter feito nenhuma jura parecida.

Olhei para mesa dele, onde um enfeite com formato ovular descansava e me perguntei quais os dados que isto faria no rosto do meu irmão. Eu estava fervendo.

- Juramos ao nosso pai - gritei. - Isso era para ser suficiente. Nosso pai criou isso aqui para ajudar pessoas. Ele queria que fizéssemos o mesmo.

- Papai não está mais aqui - disse simplesmente.

Isso me feriu, lembrar do meu pai ainda doía. Mesmo depois de cinco anos da sua morte. Ele era tudo de melhor que eu tinha. E então de repente eu não tinha mais.

- Você é um desgraçado - vociferei, ficando de pé.

- Pare de gritar porra - rosnou ele, agora não tentando mais disfarçar a irritação.

- Não - gritei mais uma vez. - O que você tem na cabeça ? Nossa empresa cresceu mais e mais do jeito que é. Do jeito que papai deixou. Por que de repente você decide mudar tudo ?

- Os tempos mudaram Amarílis. As coisas mudam e eu vi uma oportunidade melhor para nós dessa forma. Que mal há nisso ?

- Você sabe que mal há Ray. Você sabe porque nosso pai fez esse juramento. Você sabe porque ele nos ensinou assim. É um puta egoísmo seu desconsiderar tudo isso - bradei, a voz assumindo um tom choroso que eu odiei.

Ray ficou de pé e abotoou o paletó numa calma extremamente irritante.

- O passado fica no passado irmãzinha. Deixe os mortos descansar, nós estamos vivos e nós decidimos o que é melhor diante das situações do agora.

- Você é mesmo um desgraçado - repeti, com raiva.

Meu irmão mais uma vez não se abalou, olhou para as unhas bem feitas e depois voltou o olhar que me baniria do planeta terra.

- Você já disse isso. Mas está feito.

Os olhos castanhos e frios continuavam em mim. Não tinha um pingo de carinho ali. Mas não poderia ser diferente com Ray. Eu não estava surpresa.

Ray e eu nunca nos demos muito bem, mesmo tendo idades muito distantes. Quando eu nasci ele já era adulto e alguns meses depois ele se casou. Anos mais tarde quando eu já era um pouco crescida ele era cruel e dizia que eu era uma menina mal criada e respondona. O que não era mentira, mas ele mal me conhecia. Mal participava da minha vida, e quando ele queria mandar em mim eu simplesmente não aceitava.

Flores para LisOnde histórias criam vida. Descubra agora