Cambaleei pro lado e Jean levantou de um pulo para me segurar. Então me levou para a cadeira em que ele ocupava antes.
Levou alguns segundos, ou minutos para a informação se assentar.
- Por que faríamos isso ? - perguntei, enfim recuperando a voz.
Ray hesitou por um momento, e fez um gesto impaciente com a mão de dedos finos.
- Porque precisamos. Podemos expandir muito mais nossos atendimentos e então teremos mais lucros e mais reconhecimento - ele respondeu.
- Reconhecimento ? De quê ? De uma família que defende idiotas que fazem merda ? O que você está pensando Ray ?
Ele cruzou os braços e encostou na cadeira, nem um pouco abalado.
- Lis, simplesmente não é nada demais - cantarolou ele.
E foi então que meu auto-controle foi pro espaço. Quando eu vi já estava gritando.
- Nada demais ? Nada de mais ? Nós juramos defender pessoas inocentes que passaram pelas mãos de pessoas ruins - lembrei a ele.
Ele deu de ombros, a face não revelando nada mais que tédio.
- Juramos onde ? - ele perguntou com uma voz firme. - Quando me formei não me lembro de ter feito nenhuma jura parecida.
Olhei para mesa dele, onde um enfeite com formato ovular descansava e me perguntei quais os dados que isto faria no rosto do meu irmão. Eu estava fervendo.
- Juramos ao nosso pai - gritei. - Isso era para ser suficiente. Nosso pai criou isso aqui para ajudar pessoas. Ele queria que fizéssemos o mesmo.
- Papai não está mais aqui - disse simplesmente.
Isso me feriu, lembrar do meu pai ainda doía. Mesmo depois de cinco anos da sua morte. Ele era tudo de melhor que eu tinha. E então de repente eu não tinha mais.
- Você é um desgraçado - vociferei, ficando de pé.
- Pare de gritar porra - rosnou ele, agora não tentando mais disfarçar a irritação.
- Não - gritei mais uma vez. - O que você tem na cabeça ? Nossa empresa cresceu mais e mais do jeito que é. Do jeito que papai deixou. Por que de repente você decide mudar tudo ?
- Os tempos mudaram Amarílis. As coisas mudam e eu vi uma oportunidade melhor para nós dessa forma. Que mal há nisso ?
- Você sabe que mal há Ray. Você sabe porque nosso pai fez esse juramento. Você sabe porque ele nos ensinou assim. É um puta egoísmo seu desconsiderar tudo isso - bradei, a voz assumindo um tom choroso que eu odiei.
Ray ficou de pé e abotoou o paletó numa calma extremamente irritante.
- O passado fica no passado irmãzinha. Deixe os mortos descansar, nós estamos vivos e nós decidimos o que é melhor diante das situações do agora.
- Você é mesmo um desgraçado - repeti, com raiva.
Meu irmão mais uma vez não se abalou, olhou para as unhas bem feitas e depois voltou o olhar que me baniria do planeta terra.
- Você já disse isso. Mas está feito.
Os olhos castanhos e frios continuavam em mim. Não tinha um pingo de carinho ali. Mas não poderia ser diferente com Ray. Eu não estava surpresa.
Ray e eu nunca nos demos muito bem, mesmo tendo idades muito distantes. Quando eu nasci ele já era adulto e alguns meses depois ele se casou. Anos mais tarde quando eu já era um pouco crescida ele era cruel e dizia que eu era uma menina mal criada e respondona. O que não era mentira, mas ele mal me conhecia. Mal participava da minha vida, e quando ele queria mandar em mim eu simplesmente não aceitava.
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Flores para Lis
RomanceLis é uma das mais renomadas advogadas de sua cidade, com éticas de trabalho pessoais que conquistou a confiança de seus clientes, junto de seus outros quatro irmãos advogados. Mas alguns deles parecem não mais compartilhar das mesmas opiniões. Uma...