Duas semanas se passara e os dias começaram a parecer todos iguais. Na verdade eles eram iguais. Sempre a mesma rotina de trabalhar e ir para casa. Distinguindo apenas dos clientes e das conversas que eu tinha com as pessoas no escritório.
Eloise não passava um dia sequer sem ir na minha sala para conversarmos. E eu sempre alternava entre almoçar com ela, com meu irmão ou Jasmine. Violet as vezes se juntava a mim e a minha outra irmã e compartilhávamos o raro momento para fofocar um pouco sobre alguns parentes distantes ou sobre qualquer outras coisas.
Sim, tínhamos esses momentos de distrações. E eles eram maravilhosos.
Eu estava tentando seguir minha vida normalmente. Decidira que eu pelo menos não deixaria Jean saber que a maioria dos meus dias eram estranhos e vazios, principalmente quando eu estava fora daquele escritório.
Então eu voltara a me arrumar como antes, apesar das minhas olheiras as vezes me denunciar. Mas eu as cobria com maquiagem.
Eu não deixava transparecer que tudo que me restara era o trabalho. E talvez fosse por isso que eu relutava tanto em defender a única coisa que eu ainda podia fazer certo. Que eu podia ter algum controle.
Quanto a isso, Ray esbarrara comigo no corredor dois dias antes e havia me falado em tom debochado que logo marcaria a reunião, só precisava resolver questões pendentes. Ele não marcara a reunião para ter a sensação de que ele estivesse no controle de tudo. Que a reunião seria feita quando ele decidisse. E eu andava tão exausta que não queria arrumar briga por isso. Ainda mais quando Jasmine me pedia para não fazê-lo
E então eu passava os dias assim. Fingindo estar bem para todos. As vezes até para mim. E tinha dias que eu até chegava acreditar que talvez eu realmente estivesse bem. E esses dias eram bons.
E naquele dia, era uma sexta-feira e eu acordara especialmente disposta, até decidira que falaria com Eloise e a convidaria para ir a um barzinho tomar uma bebida.
E então uma batida soou à porta, imaginando que fosse minha amiga pedi que entrasse. Eu estava de costas, vasculhando o armário de arquivos em busca de uma pasta.
- Olá Lis - disse uma voz cantarolada. Fechei os olhos e bati a porta do armário com força.
- O quê ? - disparei, me virando.
- É assim que você me trata agora ? - perguntou Jean, caminhando com passos felinos até o meio da sala. - Nem mais um bom dia você acha que eu mereço ?
- Você não merece nada que venha que de mim - falei com determinação.
Algo dançou naqueles olhos cor de bronze. Ele estava vestido como sempre num terno de alfaiataria, hoje na cor cinza claro. Tedioso. Por algum motivo agora eu achava todos aqueles ternos tediosos.
- Queria saber o que de tão mal eu fiz a você - disse ele.
Dei um riso de escárnio.
- Nunca fui ruim para você - continuou. - Nunca fui um mal marido. Sempre dei o que você quis. E agora você simplesmente me odeia sem nenhum motivo.
Uma risada veio das costas de Jean, que o fez virar. Eu me inclinei para olhar por cima do ombro dele.
Eloise tinha entrado e fechado a porta. Ela estava agora parada com as costas apoiadas na porta de madeira.
- Não sabe bater ? - rosnou Jean.
Eloise olhou em volta franzindo a testa.
- Achei que esta fosse a sala da minha amiga.
- Ela poderia estar com um cliente. Você não pode sair entrando assim.
A expressão entediada de Eloise não se alterou.
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Flores para Lis
RomantikLis é uma das mais renomadas advogadas de sua cidade, com éticas de trabalho pessoais que conquistou a confiança de seus clientes, junto de seus outros quatro irmãos advogados. Mas alguns deles parecem não mais compartilhar das mesmas opiniões. Uma...