Os primeiros raios amanteigados da aurora surgiram no horizonte sobre a imensidão do mar. Fiquei observando quando as estrelas deram lugar as cores magníficas de dourado e rosa e laranja.
Eu ficara a noite toda sentada na areia fofa da praia ouvindo as ondas se balançarem e quebrar na arrebentação.
O verão chegaria ao fim dentro de pouquíssimos dias, e o clima trazia agora noites frias e dias amenos. Mas eu não me importei com o arrepio que percorria meu corpo cada vez que um brisa gélida beijava minha pele.
Nem quando meu queixo tremeu um pouco durante o ponto mais alto da madrugada. Eu me sentia vazia por dentro.
Eu não estava chorando mais. Fazia horas. Eu sentia mais como se tivesse anestesiada. Meus sentimentos estavam dormentes. Ou talvez não tivesse sobrado nenhum. Não tivesse sobrado mais nada com o que lutar.
O primeiro raio de sol atingiu meu rosto e eu ergui o queixo para absorve-lo.
Com a primeira luz do dia também veio as pessoas. Observei quando três mulheres passaram, correndo, pela areia. Todas vestidas com calças legging coloridas e tops combinando.
- Bom dia senhora - disse um homem animado quando passou por mim, também correndo.
Ao que parecia bastante pessoas gostavam de acordar bem cedo para fazer exercícios. Me deixei distrair por elas, desviando os pensamentos da porra dos meus problemas. Observei pra suas roupas de ginásticas, decidindo qual era a mulher ou o homem mais bonito ali. Ou qual vestia a roupa mais chamativa e mais colorida.
Quando o dia estava totalmente claro eu ainda não tinha me movido. A praia ficava mais barulhenta e movimentada a cada hora.
E eu só fiquei encarando o mar. Aquele som era como musica para mim. Eu ainda lembrava de quando era muito moça e tinha um dia extremamente ruim, eu ia na praia mais próxima. Sentava na areia, como agora, e escutava a melodia doce do mar. As vezes eu mergulhava nas águas claras e esquecia de tudo enquanto a água salgada invadia meus poros e parecia que eu pertencia ao mar e ele a mim.
Algumas pessoas passavam por mim e me olhava com as testas franzidas, provavelmente por causa da calça do terninho azul e da camisa social que eu estava vestida desde o dia anterior.
Ou pro meu cabelo que se soltara do coque bem feito e devia estar uma confusão de cachos e nós.
Não me importei.
- Posso te oferecer uma água de coco ? - disse uma voz ao meu lado, me dando um pequeno susto.
Virei a cabeça, para onde uma moça segurava um coco verde nas mãos. Ela vestia o uniforme do quiosque mais próximo e tinha os cabelos dourados preso com uma touca de redinha.
- Eu não trouxe dinheiro - falei, e era verdade. Eu tinha deixado tudo no carro.
- É um presente - insistiu com um sorriso gentil.
- Por quê ? - perguntei, estranhando o gesto.
Ela deu de ombros.
- Eu cheguei quando ainda não tinha clareado o dia e vi você ai sentada. Parece que está aqui há bastante tempo, achei que poderia ajudar - ela explicou, ainda com aquele sorriso bonito.
- Obrigada - falei.
Ela abriu o coco ali na hora, enfiou o canudo no buraquinho e entregou em minhas mãos.
- Posso te oferecer mais alguma coisa ?
- Você já fez muito. Obrigada mais uma vez.
Com mais um sorriso ela se foi. E eu não percebi o quanto precisava daquilo até eu colocar o canudo entre os lábios e o liquido encher minha boca.
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Flores para Lis
RomanceLis é uma das mais renomadas advogadas de sua cidade, com éticas de trabalho pessoais que conquistou a confiança de seus clientes, junto de seus outros quatro irmãos advogados. Mas alguns deles parecem não mais compartilhar das mesmas opiniões. Uma...
