Ray custou a me passar o endereço de Jean. Não por lealdade ou qualquer razão nobre, mas porque queria me irritar.
Porque estava se divertindo ao ver meu rosto ficar vermelho enquanto eu exigia que ele me passasse.
- Você já quer infernizar a vida do pobre homem ? - disse ele com um quê de humor na voz.
- Não é da sua maldita conta - vociferei.
- Irmãzinha, você precisa de minha ajuda e mesmo assim não consegue ser um pouco educada ?
Sentei na cadeira em frente sua mesa e cruzei as pernas.
- Tudo bem, se você quer fazer joguinhos, fico aqui até você me passar.
Ele revirou os olhos e anotou algo num papel. Estiquei a mão para pegar mas ele jogou o papel em mim.
- De nada - disse quando eu já havia me levantado e ia em direção à porta.
Respondi com um gesto mal-criado e não fiquei pra ouvir a resposta.
Meu coração estava acelerado enquanto eu guiava o carro pelas ruas da cidade. As boates com fachadas chamativas e luzes pulsantes tinham filas enormes na calçada.
Os barzinho que passei em frente eram mais íntimos porém da mesma forma lotado e animado.
Era onde eu deveria estar. Mas eu precisava que ele me desse uma explicação.
Eu não sabia direito o que queria ouvir. Nada que ele dissesse seria explicação suficiente. Mas eu só precisava olhar na cara dele e ouvir de sua boca como ele mentira aquele tempo todo. Eu queria sentir mais raiva dele. Porque a raiva era melhor do que um monte de nada, vazio e silêncio.
A grande construção se erguia em uma rua afastada do centro da cidade. Encarei por alguns segundos o belo edifício.
Depois de estacionar passei por grandes portas de vidro fume para um saguão espaçoso decorado em cores quentes e dourado. Com sofás de camurça na cor vinho e um enorme balcão dourado com o logotipo do hotel.
- Seu nome, senhora ?- pediu o homem com expressão desinteressada do outro lado do balcão.
- Amarílis Garden - falei com a voz contida. - Quero visitar Jean Smith.
Ele teclou no computador e depois pegou o telefone, meu pé batucava o chão impacientemente enquanto aguardava.
Demorou menos de um minuto para Jean liberar minha subida.
Depois de um agradecimento rápido ao recepcionista caminhei com passos firmes pelo piso de porcelanato brilhoso até o elevador, que me levou a um andar comprido e opulento com paredes das mesma cores do saguão e portas na cor branca.
Cheguei à porta de Jean e ergui a mão no ar pra bater, e ela ficou ali suspensa quando pela primeira vez eu hesitei e me perguntei se era mesmo uma boa ideia ter aquela conversa.
Não tive tempo de tomar nenhuma decisão, porque a porta se abriu e Jean estava ali.
- Lis - disse sorrindo. - Que surpresa.
Olhei para o homem na minha frente que parecia um estranho agora. Parecia que eu nunca o havia visto na vida. Ao mesmo tempo que agora eu o via por completo. O tremendo canalha que ele era.
Jean estava vestido só com o roupão e os cabelos ainda estavam molhado do banho.
- Por favor entre, Lis - ele fez um gesto para dentro do quarto.
Eu deveria ter dado as costas e ido embora.
Mais tarde eu me arrependeria de não ter o feito.
Entrei e ele fechou a porta atrás de nós.
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Flores para Lis
RomanceLis é uma das mais renomadas advogadas de sua cidade, com éticas de trabalho pessoais que conquistou a confiança de seus clientes, junto de seus outros quatro irmãos advogados. Mas alguns deles parecem não mais compartilhar das mesmas opiniões. Uma...