Há muito que o sol havia raiado sob a cidade quando o som agudo e terrivelmente irritante do despertador soou, me acordando de um sonho esquisito. Gemi baixinho enquanto apalpava a mesinha de cabeceira em busca da origem daquele som incomodo. Com um tapa nada sutil o aparelho ficou mudo.
Enfiei a cabeça debaixo do travesseiro desejando poder ficar somente mais um pouco na cama. Mesmo depois de anos acordando consideravelmente cedo todos os dias, eu ainda não tinha me acostumado. Era de conhecimento público que eu odiava as primeiras horas do dia, quando eu tinha que acordar e me aprontar para o trabalho.
Mas então eu lembrei que dia era hoje e procurei me animar um pouco. Ainda com a cabeça enfiada embaixo do travesseiro estiquei o braço para o outro lado da cama, e encontrei somente os lençóis macios e frios.
Afastei o travesseiro dos olhos e percebi que eu estava sozinha na cama. Sentei tão rápido que os cabelos caíram no meu rosto, tirei dos olhos com um gesto rápido, olhando ao redor do quarto. Estava quase totalmente escuro e apenas uma nesga de luz entrava através da cortina longa e pesada. A pequena quantidade de ar que entrava por ali foi o suficiente para arrepiar minha pele nua que ficara exposta quando o cobertor deslizou até minha cintura ao me sentar. Mesmo com o início do verão as manhãs costumavam soprar uma brisa gélida.
- Jean ? - chamei pela pessoa que deveria estar na cama comigo. Sem resposta nenhuma.
Chutei as cobertas para longe e enfiei os pés em pantufas macias e quentinha. O ruído do chuveiro chamou minha atenção e eu atravessei o quarto espaçoso, até a porta que ficava do outro lado.
- Aí está você- falei com um sorrisinho.
O homem em baixo do chuveiro se virou, os cabelos estavam cheio de espumas de shampoo.
- Estava me procurando ?
- Sim. Você não estava na cama.
- Acordei um pouco mais cedo hoje. Preciso sair em alguns minutos.
Ele me deu uma olhada, através do boxe um pouco embaçado, dos pés a cabeça e então notei que eu ainda estava nua. Meus cabelos compridos cobriam parte dos meus seios.
- Pensei que tomaríamos café da manhã juntos - falei numa voz contida.
Jean encolheu os ombros levemente.
- Me desculpe meu bem, mas eu tenho um cliente.
- Você não pode cancelar ?
- Não, infelizmente.
- Mas... Certo - falei desanimada e sai do banheiro.
Parei de frente a mesinha de cabeceira e no relógio de ainda era 7h40. Teríamos que estar no trabalho em mais de 1 hora. Voltei para o banheiro.
- Porque marcou um cliente tão cedo ?
Jean já estava saindo do boxe, algumas gotinhas de água pingaram no chão quando ele esticou braço e pegou a toalha que estava pendurada no suporte perto e secou os cabelos.
- Esse cliente precisou fazer uma viagem de emergência e precisamos ajustar alguns detalhes do processo antes que ele vá.
- Entendo - clientes costumavam ser imprevisíveis as vezes. E isso era irritante. - Você vai atende-lo no escritório?
Encostei no batente da porta e fiquei observando enquanto ele deslizava a toalha pelos braços e depois pelo abdômen.
- Tantas perguntas hoje - ele sorriu, se próximo e me beijou nos lábios. - Não. Ele pediu que eu o encontrasse em uma cafeteria próxima ao aeroporto.
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Flores para Lis
RomanceLis é uma das mais renomadas advogadas de sua cidade, com éticas de trabalho pessoais que conquistou a confiança de seus clientes, junto de seus outros quatro irmãos advogados. Mas alguns deles parecem não mais compartilhar das mesmas opiniões. Uma...