Neste capitulo contem pequenos relatos de abuso sexual.
Os dias passaram, seguida das semanas.
A primeira semana após Jean sair pela porta, fora a pior. As vezes o silencio era tão devastador que eu sentia que não podia respirar. Então eu ligava a televisão no maior volume possível, num programa qualquer só para ter algum som.
Mesmo quando Jean ainda estava aqui, as vezes tinha silencio. As vezes ele mal trocava palavras comigo, porque estava irritado ou chateado com algo que aconteceu no trabalho. E eu só ficava na minha.
E era o mesmo silencio. Mas porque agora parecia diferente ?
A nossa cama ainda era a mesma, mas parecia tão grande agora. Os programas de televisão que víamos juntos agora não apreciam mais interessantes. E as musicas que gostávamos já não soavam mais iguais.
As noites eram as piores, pois eu passava a maior parte em claro, olhando para o teto vazio. As vezes deixava a janela aberta e a luz prateada do luar refletia nas paredes e eu ficava observando repassando os últimos acontecimentos.
Os sentimentos dentro do meu peito pareciam mais conflitantes que nunca.
Eu me sentia tão mal pelo termino. Eu me sentia tão triste por estar tão sozinha. Mas lá no fundo uma pequena voz me dizia que agora palavras que me feriram tanto quanto atitudes durante os anos não me feririam mais.
Mas eu sentia falta dele. E me perguntava como eu podia sentir falta de alguém que era tão péssimo comigo. Mas eu sentia. Por qualquer maldito motivo que fosse eu sentia.
Durante aquela semana eu fiquei em casa. Liguei para Ross e pedi que cancelasse minhas reuniões com os clientes da semana. Por sorte, ou talvez o destino soubesse que aquela semana seria ruim, mas eu não tinha nenhuma audiência marcada.
Eu me senti ainda pior por abandonar o trabalho. Algo que eu sempre fiz de melhor. Algo que me fazia sentir bem. Mas eu não achava que podia encarar Jean.
E no domingo de noite, eu estava ponderando se trabalharia no dia seguinte, ou se daria mais uma desculpa ridícula, quando a campainha tocou.
- Achei que você precisava de mim - disse Eloise, minha amiga, quando abri a porta.
Eu simplesmente desatei a chorar. Eu tinha sido completamente imbecil com ela. Eu era uma péssima amiga e o peso disso desabou completamente em cima de mim. Me esmagando.
- É, você foi mesmo - ela concordou quando eu disse isso a ela, alguns minutos mais tarde. - Mas eu estou tentando te entender. Me conte o que aconteceu.
Eu contei tudo a ela. E ela me escutou. E fez um chá para mim, depois segurou minha mão o tempo todo.
- Você estava certa esse tempo todo - falei, por fim.
Ela abaixou os olhos para nossas mãos juntas e engoliu em seco.
- Você pode não acreditar Lis, mas eu nunca quis estar certa. Eu queria de verdade estar errada.
- Eu sei. Agora sei.
Eu encolhi mais as pernas pra cima do sofá e abracei o joelho com a mão livre.
- Eu juro que nunca quis te ver assim. Mas amiga, estava na cara que ele era um babaca. Sabe, nunca vi ele ser gentil com você, nunca vi ele pegar na sua mão na frente das pessoas ou te olhar como se sentisse algo por você - ela disse, um pouco hesitante. Mas quando ela viu que eu escutava ela continuou: - E você pode me dizer que eu não sabia como era a relação de vocês sozinhos, e eu até poderia acreditar se eu não te conhecesse como eu te conheço.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Flores para Lis
RomansaLis é uma das mais renomadas advogadas de sua cidade, com éticas de trabalho pessoais que conquistou a confiança de seus clientes, junto de seus outros quatro irmãos advogados. Mas alguns deles parecem não mais compartilhar das mesmas opiniões. Uma...