Capítulo 22 🌹

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Quando passei pela porta de casa o silêncio e escuridão me recebeu. Como todos os dias. Mas agora não era tão ruim quanto fora nos primeiros dias.

Ainda era ruim. Mas eu conseguia suportar.

Deixando os sapatos em um canto junto com a bolsa, fiz o que todos os dias eu fazia. Fui até a televisão e liguei, eu havia procurado afogar qualquer silencio e tranqüilidade nos últimos meses, e o barulho da televisão tinha se tornado meu companheiro mais leal da luta contra o silencio. Quanto mais idiota o programa em exibição, melhor.

Agora era mais um habito do que qualquer outra coisa, apesar de eu ainda não gostar do silencio.

Acendi as luzes e fui até a cozinha. Na geladeira achei limonada que senhora O'leary deixara e me servi de um copo.

Encostei no balcão enquanto levava o copo aos lábios.
A casa não parecia a mesma de semanas atrás. Mas não tinha nada a ver com Jean. Bem, em partes não tinha.

Depois da conversa com Rain não fora só a ideia do Hacker que me invadira Quando ele disse sobre perspectiva eu soube algo que poderia fazer para ajudar. E no dia seguinte eu fizera senhora O'leary passar o dia comigo no centro da cidade e se espremer para dentro de loja em loja por horas seguidas. Vendo objetos de decorações e outras coisas.

E agora a sala que era simples e com cores neutras estava abarrotada de cores.

- Parece um festival de cores- dissera senhora O'leary com um sorriso no rosto ao final da mudança.

- A intenção é essa - falei, apoiando a mão na cintura e avaliando nosso trabalho.

Novas almofadas de tecido felpudo e colorido foram colocados nos sofás e na poltrona. A cortina em tons pastéis fora substituída por uma vinho texturizada, e um tapete grande e peludo descansava no piso de madeira.

Eu tirei e joguei no lixo os retratos com fotos minhas e de Jean que ficavam em cima da lareira e do suporte da televisão, substituindo por pequenos vasinhos de suculentas ou então enfeites alegres.

Dois quadros de tamanho extravagante também foram colocados na sala na parede acima do sofá. Um era de um lindo buque de Amarílis e outra de um buque de rosas azuis, compradas em uma galeria de pintura. O artista que as desenhara conseguira colocar a alma em cada pincelada.

Depois de colocar o copo na pia segui no corredor, que agora estava vazio onde antes tinha um enorme retrato do dia do meu casamento. Agora na parede tinha um vaso de samambaia, seus ramos caindo como cascatas sobre a borda do vaso até metade da parede.

Entrei no quarto que também estava diferente, com novos lençóis e edredons.

- O que te motivou a mudar a casa toda ? - perguntara senhora O'leary quando entramos na quinta loja seguida.

- Eu preciso de novas memórias desse lugar senhora O'leary - respondi.

- Você sempre gostou das cores neutras. Bem eu prefiro estas - contou ela.

- Na verdade eu gosto das cores. Mas você sabe, Jean sempre foi muito minimalista e disse que não queria um carnaval dentro de casa- dei de ombros como se o comentário não fosse nada demais.

Mas era. De inicio eu queria uma casa colorida, como era a do meu pai. Ele dizia que cores arremetiam a vida e prosperidade. Mas depois de Jean dizer que não gostava muito achamos um meio termo, a maioria das coisas eram em cores crus e tons pastel. E algumas vezes colocávamos cortinas coloridas ou lençóis.

Achei uma boa barganha na época. Hoje eu achava patético.

Por isso fora a primeira coisa que eu mudei. Uma nova perspectiva. Isso eu podia fazer. Esse passo eu podia dar.

Flores para LisOnde histórias criam vida. Descubra agora