A semana seguinte, que Jude passara comigo, fora a melhor que eu tive em anos.
A leveza daqueles dias eu não poderia explicar nem em um milhão de vidas.
A menina era adorável. Educada e brincalhona. Adorava colorir, fazer desenhos próprios e assistir filmes na televisão. O que eu também adorava, mas antes eu estava tão dispersa e sem interesse que a TV ficava ligada somente para ser um condutor de som para o ambiente.
Eu sentiria falta dela, afinal de contas. Sentiria falta da companhia da pequenina, da tagarelice sem parar. E também sentiria falta de buscá-la na escola e ouvi-la falar sobre o que aprendera naquele dia. Jude era uma menina inteligente e já sabia todas as cores. Sabia todas as letras do alfabeto e até mesmo sabia qual era as cores das lixeiras de recicláveis e as funções de cada uma. As vezes nem eu lembrava bem.
Além de ser um armazenamento natural de musiquinhas bonitinhas. Ela sempre ia cantando durante o percurso até em casa, no final da semana eu já sabia a maioria de cor, então fazia coro a ela com as canções.
Ao chegar em casa Jude devorava os lanchinhos naturais com peito de peru ou de frango que senhora O'leary deixava feito junto com frutas picadas ou legumes salteados.
Ela adorou a presença de Jude tanto quanto eu. Adorava fazer as comidas que a menina gostava. Até mesmo ficava até um pouquinho depois do seu horário para ver Jude um pouquinho.
- Ela adora frutas, legumes e verduras. Come tomates como se fossem maças - informara Rain no dia que a entregara para mim.
Então eu havia pedido que senhora O'leary fosse ao mercado e comprasse as coisas que ela gostava.
Todas as noites depois de ajudá-la com o banho, e pentear os cabelos cheios com um penteado diferente a cada dia, que ela mesmo escolhia, nos aconchegávamos no sofá.
- O que você quer ver hoje Jude ? - eu sempre perguntava.
- Princesas - ela dizia. Ou então: - Heróis.
Esses eram os mais pedidos, me peguei surpresa ao constatar como eram bons aqueles filmes de heróis.
Das princesas eu conhecia a maioria.
Nós assistíamos, Jude literalmente deitada em cima de mim, as vezes a cabeça apoiada no meu pescoço, ou então as bochechas gorduchas contra minha barriga.
Quando ela se cansava de assistir deitávamos de bruços no chão com tapete macio e Jude fazia desenhos para mim. Eu tentava, e fracassava, fazer alguns também, com ela dando dicas das cores que mais gostava.
Antes de dormir, nós duas vestidas com pijamas, emboladas na cama com cobertores fofinhos, ligávamos para Rain como eu havia prometido.
- Uau, vocês estão mais linda cada vez que me ligam - ele sempre dizia. Jude dava risadas com alegria, e eu apenas escondia meu sorriso de satisfação.
Ela sempre começava a tagarelar sem parar fazendo perguntas ao pai, que as respondia com paciência e humor sempre, as vezes puxando o celular da minha mão ela aproximava demais do rosto, de modo que ficava apenas visível partes do olho, do nariz ou da boca. Eu olhava a cena com o maior carinho.
- Você está se comportando meu amor ? - as vezes Rain perguntava a filha.
- Siiim - ela dizia. O que não era mentira.
Rain me lançava um olhar pedindo confirmação.
- Jude é um amor - eu falava, porque era verdade.
Era imperativa como qualquer criança, e estava na fase dos porquês, então estava sempre falando e perguntando. Mas isso era completamente comum entre as crianças da idade dela, além do mais não me incomodava nem um pouco das perguntas e de ter que responde-las, apesar de algumas vezes eu simplesmente não saber as respostas e entrar um pouco em pânico.
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Flores para Lis
RomanceLis é uma das mais renomadas advogadas de sua cidade, com éticas de trabalho pessoais que conquistou a confiança de seus clientes, junto de seus outros quatro irmãos advogados. Mas alguns deles parecem não mais compartilhar das mesmas opiniões. Uma...
