Grata, e com as bochechas provavelmente cor de rosa, eu peguei a bolsa que eu havia colocado ao lado da cadeira e fiquei de pé. Rain fez o mesmo com agilidade.
Com passos ruidosos no piso de porcelanato caminhamos os dois em silencio para fora da sala.
Quando chegamos no meio do saguão Jasmine vinha vindo, com seus cabelos aloirados oscilando a cada passo que dava. O vestido cor de safira não era nada menos que elegante, assim como ela. Minha irmã transpirava elegância e finésse em cada gesto e palavra, tão naturalmente que as vezes eu perguntava se ela algum dia ela teria feito aulas de etiqueta, elegância, moda ou qualquer coisa do tipo.
Suas roupas eram sempre chiques e no equilíbrio exato entre bonito e adequado.
Ela sorriu de leve ao me ver. Mas meus olhos pousaram na moça ao seu lado, com longos cabelos negros preso num rabo de cavalo firme. Os olhos castanhos do mesmo tom de sua pele marrom-claro se iluminaram. Minha sobrinha Ísis era a cara de seu pai negligente, mas os gestos, o olhar e até mesmo a forma de andar e se vestir, com certeza pertenciam a minha irmã.
- Tia - disse ela alegremente, apressando os passos em minha direção.
- Ah meu amor - falei enquanto a abraçava forte.
- Que saudade que eu estava- ela disse, segurando minhas mãos entre os dedos compridos.
- Eu também estava - acariciei seu rosto.
Ísis estava há um ano fora, na Florida, desde que terminara o colégio e começada a faculdade de teatro.
Ela sonhava em estrelar nos palcos do mundo todo. Ela queria ser atriz, mas não de TV.
E com a beleza, simpatia e talento da minha sobrinha eu não duvidava nem por um instante de que ela conseguiria.
- O que faz aqui ? Achei que te veria somente no Natal - falei.
Ela se afastou e lançou um olhar para Rain ,que esperava alguns passos distantes, antes de responder.
- As aulas retomam na semana que vem. Então decidi deixar meu pai um pouco antes e ficar essa semana aqui - ela explicou com um sorriso bonito.
Então ela olhou mais uma vez para Rain, seus olhos analisando cada detalhe e depois olhou pra mim de forma questionadora.
Balancei a cabeça indicando que isso era história pra outra hora.
- Estava tão ruim assim lá? - perguntei em tom zombeteiro.
- Meu pai é um homem agradável e faz o possível para me deixar feliz, mas aquela mulher dele - ela revirou os olhos.
Eu tinha me encontrado com Letícia, a madrasta, apenas uma vez. Mas a cara dela não me apeteceu. O nariz empinado e franzido como se tivesse um constante mal cheiro ali embaixo.
Minha irmã, que estava anormalmente quieta, só ficou nos observando com os braços cruzados e um dos pés batucando o chão.
- Ísis, almoçamos amanhã? Temos muito o que conversar.
- Com certeza tia. Me manda uma mensagem com a hora e o lugar.
Ela me abraçou forte mais uma vez, deixando em meu nariz seu perfume doce e então se afastou, indo em direção da sala de Jasmine com o rabo de cavalo oscilando as costas.
Minha irmã ficou para trás.
Ela não me abraçou, ou sequer disse oi. Mas esse era o jeito dela. Apesar de nos darmos bem na maioria do tempo, não tinha essa coisas de abraços ou carinho. Jasmine era assim. Eu estava acostumada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Flores para Lis
RomanceLis é uma das mais renomadas advogadas de sua cidade, com éticas de trabalho pessoais que conquistou a confiança de seus clientes, junto de seus outros quatro irmãos advogados. Mas alguns deles parecem não mais compartilhar das mesmas opiniões. Uma...