A segunda feira chegou como tempestade de verão. De repente e caótica.
As semanas andavam passando incrivelmente depressa.
- Talvez o fato de você estar trabalhando mais do que o normal esteja contribuindo- disse senhora O'leary quando comentei isso com ela mais cedo, em tom de reprovação.
Mas o que eu podia fazer ? Me restara poucas coisas que valiam a pena ocupar meu tempo ou me preocupar. E o trabalho era a maior e a mais importante.
E a única coisa que eu sentia que tinha um pouco de controle. Porque minha vida ultimamente parecia muito com um trem desgovernado, eu nunca sabia para onde ela seguiria.
Eu tinha acabado de sentar na minha mesa quando a porta da minha sala se abriu.
Levantei os olhos da bolsa, que eu procurava a chave do meu armário, para o homem que entrou e fechou a porta atrás de si.
- Acho que eu não dei permissão para que você entrasse - falei tentando manter o tom de voz desinteressado.
Mesmo quando meu coração bateu num ritmo mais forte e meus sentimentos viraram uma bagunça.
- Eu não precisava pedir antes - comentou Jean, usando um tom aveludado, como se aquela situação fosse completamente normal.
Parecendo que não fazia semanas que mal trocávamos bom dia.
- O que quer ?
- Você poderia ser mais agradável- disse, mantendo o tom.
- Estou sem tempo pra joguinhos, sinto muito - achei a chave e fui até o armário.
Com os dedos um pouco trêmulos abri a fechadura e atirei a bolsa lá dentro.
Porque eu me sentia tão ansiosa ? Não é como se eu nunca tivesse estado na presença do meu ex marido antes.
Bem, depois que nos separamos não estivemos mais sozinhos. Eu não permitia que ele chegasse perto da minha casa. Nem de mim.
Jean ainda não tinha ido pegar o restante das coisas dele, o que parando para pensar era bem estranho. Nem mesmo seus relógios caros ele tinha pedido que eu entregasse ou enviasse para algum endereço.
Pensando bem eu nem mesmo sabia onde ele estava ficando. Não tinha o porquê perguntar. Eu só queria manter o máximo de distância possível.
- Quero falar com você - disse ele.
- Estou escutando.
Sentei na cadeira e cruzei as pernas.
Bom trabalho Lis, desinteressada.
Jean se aproximou mais da mesa, tirou do meu porta canetas, uma caneta fina e elegante e a girou entre os dedos.
- Preciso saber se você já parou de fazer charme.
- Do que você está falando? - indaguei, mesmo suspeitando o que ele queria dizer.
- Essa história de separação. Já passou bastante tempo, e eu cansei de esperar - disse calmo.
Cruzei os braços.
- E o que exatamente você está esperando?
- Eu te dei um tempo pra se acalmar e pensar melhor. Mas não tenho todo o tempo do mundo. Eu quero voltar pra casa.
- Então foi por isso que você não pediu suas coisas - deduzi.
- Óbvio. Eu disse que te daria tempo para pensar, e dei. Você queria me dar um gelo, pois bem, recado dado.
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Flores para Lis
RomanceLis é uma das mais renomadas advogadas de sua cidade, com éticas de trabalho pessoais que conquistou a confiança de seus clientes, junto de seus outros quatro irmãos advogados. Mas alguns deles parecem não mais compartilhar das mesmas opiniões. Uma...