Há exatamente um ano eu esperava ansiosamente pelo dia 20 de junho. O dia que marcara minha vida para sempre. O dia em que eu nunca mais seria eu mesma. O dia que, naquele momento não sabia, mas me transformaria em alguém pior do que eu jamais fora. O dia em que Jean e eu nos casamos.
Dia em que eu jurara amor e fidelidade para sempre. E que ele fizera o mesmo. Jurara me amar e me respeitar. Ele nunca o fizera no entanto. Mentiu na frente do padre que alegremente abençoava a nossa união, e na frente de todos aqueles convidados que testemunhavam o dia que julguei ser o mais importante de toda a minha vida.
Tudo uma grande, viscosa e suja mentira.
Mas hoje, dia anterior em que completaríamos mais um ano de casados caso eu não tivesse tomado uma atitude por fim e mudado realmente, dessa vez para melhor, minha vida, eu estava ironicamente ansiosa pelo dia seguinte também. Mas dessa vez não tinha nada a ver com Jean. Não tinha absolutamente nada a ver com expectativas bobas para um dia que poderia ser mais um fracasso como o do ano interior.
- Você tem certeza que não quer minha ajuda menina ? - perguntou senhora O'leary na manhã do dia 19.
- Sim. Sim. Eu queria fazer isso sozinha. Quero tentar. Rain tem me ensinado algumas coisas na cozinha e quero fazer algo sozinha por eles - falei empolgada.
- Tudo bem, mas se precisar de ajuda é só me pedir. Você vai fazer o quê ?
Me acomodei no banco de três pernas, segurando a xícara de café em uma das mãos enquanto na outra segurava um pão com queijo mordido.
- Acho que cornish, é um prato típico da Inglaterra. Acho que Rain vai gostar.
- Você tem certeza Lis ? - insistiu ela preocupada.
- Poxa, muito obrigada pela confiança - falei, falsamente ofendida.
Terminei de comer o pão e peguei alguns morangos vermelhos e suculentos.
- Não é isso. É que a massa pode ser um pouquinho difícil de fazer.
- Tudo bem. Não quero estragar o jantar, então a senhora deixa a massa pronta e eu faço o restante. O que acha ?
Ela pareceu sutilmente aliviada.
Era verdade que Rain havia me ensinado algumas coisas durante aqueles meses. Ele sempre cozinhava quando eu estava em sua casa ou até mesmo quando estávamos na minha. Ele não se importava. Até gostava. E dado certo momento fiquei observando como ele fazia parecer simples. Então ele perguntou se eu queria que ele ensinasse. Aceitei.
Tinha aprendido muitas coisas como fazer panquecas, risoto que era bem fácil e saladas deliciosas que ele e Jude adoravam.
Até aprendi a gostar de fazer essas coisas. Com Rain era tudo mais divertido aprender. Ele nunca me julgava ou se aborrecia quando eu tinha dificuldades. Só dizia para tentar que confiava que eu conseguiria. Isso era motivador.
- Ok, isso é um ótimo meio termo - disse senhora O'leary.
Terminei o café e segui para o trabalho.
- Tenha um bom dia hoje meu bem - desejou ela quando sai apressada.
No dia seguinte faria duas semanas que eu não via Rain e Jude. O primeiro tinha recebido uma proposta de trabalho em outro estado. Era para fotografar um evento de lançamento de um filme que estrearia em alguns meses, junto com fotos de bastidores e fotos para os pôsteres oficias. Como Jude tinha acabado de entrar de férias na escola ele resolvera levá-la. E para falar a verdade eu estava morrendo de saudades.
Nos quatro meses que se seguiram após Rain ser inocentado as coisas de fato tinham melhorado. A vida finalmente voltara a fluir bem no trabalho e no dia a dia. Que depois do alvoroço dos primeiros dias se acalmarem, ele pôde voltar a seus trabalhos com clientes querendo retomar os contratos, aos quais ele selecionou qual queria e qual não valia a pena a segunda chance.
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Flores para Lis
Roman d'amourLis é uma das mais renomadas advogadas de sua cidade, com éticas de trabalho pessoais que conquistou a confiança de seus clientes, junto de seus outros quatro irmãos advogados. Mas alguns deles parecem não mais compartilhar das mesmas opiniões. Uma...