Quando abri os olhos parecia que eu tinha dormido por horas. Mas o quarto ainda estava escuro. Eu ainda estava agarrada a Jude, os cabelos dela fazendo cócegas no meu pescoço.
Somente uma luz fraca vinha de algum dos cantos do quarto. Pisquei algumas vezes, virando a cabeça para o lado, em direção ao sofá no canto.
Rain estava sentado ali com as pernas esticadas, vestindo calça de moletom e uma blusa de manga comprida. Um livro estava aberto em suas mãos e a luz fraca vinha do abajur em cima de um móvel pequeno de madeira.
Observei por alguns segundos até ele perceber que eu estava acordada, seus olhos desviaram do livro e encontraram os meus.
- Você deveria estar dormindo - disse baixinho.
- Você também - sussurrei de volta.
- Não consigo.
- Por quê ?
- Por sua causa - disse com sinceridade.
Meu coração afundou quando a discussão de antes veio a tona. Eu o havia esperado para pedir desculpas mas não tive oportunidade.
Com muito cuidado puxei meu braço debaixo de Jude e me sentei na cama, sentindo um arrepio percorrer meu corpo com a temperatura mais baixa do lado de fora das cobertas.
Caminhei até o sofá e sentei-me ao lado de Rain, que encolheu as pernas para me dar espaço.
- Me desculpe - falei, o encarando.
Ele fechou o livro e pousou no colo.
- Eu fiquei bem chateado sim Lis, com a discussão e por você ter pensado mal de mim - confessou, no silencio sua voz não passava mais do que um sussurro. - Mas não é por isso que não consegui dormir.
- Então por quê ?
- Fiquei pensando no seu presente para Jude, e no que ela disse depois.
- O que ela disse também pesou em mim - admiti.
- Eu sei. Ouvi você chorando.
- Não queria que ela tivesse que sentir essas cosias - assumi, um nó gigante na garganta.
- Eu também não. Porém não posso mudar as coisas. Pra nenhuma de vocês. Mas sei de uma coisa, um dia Jude vai lembrar deste dia, e vai ser tudo que irá importar. A forma como você deu a ela algo que significava tanto para você. Por que você sim a ama, mesmo sem precisar você a ama.
Era verdade, eu amava aquela pequena menina. Tinha certeza disso. A forma como nós nos conectávamos era especial. Era diferente de qualquer coisa que eu já havia sentindo por qualquer outra pessoa. E esse sim era um sentimento bom. Que valia a pena.
Meus olhos se voltaram para o pequeno volume em baixo das cobertas que era Jude dormindo, meu peito se encheu de luz viva.
- Eu a amo sim - concordei por fim.
Rain ficou em silencio, ainda segurando o livro, um dos dedos entre as paginas marcando onde ele havia parado.
- Não sabia que você gostava de ler - comentei, apontando para o livro.
- Cada um tem seu refugio. Você gosta de dançar, eu viajo nessas histórias.
- É verdade.
- E como anda o progresso no tango e no jazz ?
- Bem. Eu acho que sou uma dançarina muito qualificada - comentei com um sorriso.
Nas ultimas semanas eu tinha frequentado todas as noites de terça um estúdio de dança que ficava em cima de um bar alguns quarteirões da minha casa. Um local agradável em que as pessoas iam para se divertir e aprender a dançar. Não era nada profissional, nem mesmo eram aulas, apenas pessoas que queriam se divertir e gostava de ouvir musicas boas e dançar. Como eu. Apesar de ser um lugar bem frequentado por dançarinos profissionais ou alunos.
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Flores para Lis
RomanceLis é uma das mais renomadas advogadas de sua cidade, com éticas de trabalho pessoais que conquistou a confiança de seus clientes, junto de seus outros quatro irmãos advogados. Mas alguns deles parecem não mais compartilhar das mesmas opiniões. Uma...