Lis é uma das mais renomadas advogadas de sua cidade, com éticas de trabalho pessoais que conquistou a confiança de seus clientes, junto de seus outros quatro irmãos advogados. Mas alguns deles parecem não mais compartilhar das mesmas opiniões. Uma...
Eu estava bem desperta antes do amanhecer, por um tempo continuei encarando o teto liso, a única coisa decorativa era a lâmpada branca em formato de gota, observando a luz que vinha de fora, provavelmente da uma junção da lua com os postes de luz da rua, saboreando a suavidade do colchão. Mas em certo momento os cobertores ao meu redor começaram a me sufocar.
Então, enrolando um roupão macio ao redor do corpo, e com uma xícara de chocolate quente nas mãos, subi as escadas circulares até o terraço de casa.
Caminhei, com pés calçados em pantufas, até o sofá baixo de pallet, uma ideia minha para deixar o ambiente mais aconchegante e ser mais pratico para guardar nos dias de chuva, e me joguei em meio a almofadas macias.
Tirei as pantufas e as deixei no chão revestido de grama sintética.
Este era o meu lugar preferido da casa. Onde eu tive a liberdade de decorar sozinha, sem as opiniões de Jean, pois ele não subia muito ali.
Então enchi o local de vasinhos de plantas, suculentas, violetas e até mesmo alguns lírios. E sob as vigas eu estendi luzes decorativas que pareciam uma cortina de estrelas olhando de baixo.
Girando a xícara nas mãos eu apoiei a cabeça no encosto almofadado e observei o céu que agora passava de um azul escuro intenso e aveludado para um cinza metálico e frio. Em seguida, muito lentamente para um rosa salpicado de ouro com os primeiros raios de sol.
O sol continuava se erguendo e se pondo todos dias, totalmente alheio aos meus dias difíceis.
Faziam exatas oito semanas desde o fim do meu casamento. E eu ainda não sabia bem como lidar com isso. Certamente a cada dia se tornava mais fácil.
Eu ainda estava extremamente confusa com meus sentimentos. Agora eu até mesmo sentia alivio. Mas também sentia saudade.
Alivio sim, porque agora eu falava o que queria sem medo que isso chegasse aos ouvidos dele e o aborrecesse. Agora eu podia simplesmente chegar a hora que eu queria em casa. E podia sair com Eloise para encher a cara, apesar de não fazer. Eu sempre optava por descanso depois de um dia agitado.
Mas eu sabia que podia. E isso era uma sensação boa. Antes minha maior alegria era a liberdade. Fazer as coisas que me agradavam. Dançar ou simplesmente ver um filme. Mas o que eu quisesse, não porque alguém quis assim. E eu ainda me perguntava em que momento isso deixou de ser parte de mim. Em que momento eu passei a deixar de lado as coisas que eu gostava para fazer as coisas de que outra pessoa achava mais prudente.
Mas tinha dias que havia a saudade. Dos momentos que eram bons. Dos momentos em que eu sorria para ele com admiração. Porque esse momento existiu, seja lá por qualquer motivo que fosse.
Teve os momentos que Jean fora bom. No começo do namoro. No inicio do casamento. Em dias ou semanas especificas. Ele me abraçava com força e me beijava enquanto sorria.
Eu não podia dizer que sentia falta da conversa, porque Jean as vezes era calado e recluso. Quando eu começava a tagarelar demais ele ficava impaciente. Quando eu comentava sobre um programa de TV ou filme ele dizia que eu deveria prestar mais atenção no filme e falar menos.
Mas talvez não fosse bem dele que eu sentia falta. Talvez fosse de alguém que eu imaginei que ele fosse.
Era tão confuso as vezes.
Ou talvez eu sentisse falta de mim mesma. Eu sabia que estava quebrada, de tantas formas que eu não sabia como consertar.
E talvez fosse disso que eu sentisse saudade afinal, de ser inteira novamente.
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