Quando terminei de contar Rain não fez nenhum comentário. Não disse que eu fora tola. Nem que eu fora burra ou cega. Que eu deveria ter deixado Jean fazia tempo ou nada do tipo.
Ele somente olhou para o mar e ficou calado. Como se absorvendo tudo que eu acabara de dizer.
- Eu sei, é uma situação de merda - murmurei. Dobrei as pernas e as abracei, apoiando o queixo no joelho.
Rain exalou.
- É péssimo mesmo. Muitas pessoas passam por situações parecidas, muito mais do que você pode imaginar - ele disse displicente.
Eu sabia. Sabia também que algumas passavam por coisas ainda piores, cada uma a seu modo. Eu via quase todo dia em minha profissão.
- Não acha que fui tola por demorar tanto tempo para tomar uma atitude?
Ele se virou para mim.
- De modo algum. Por que eu pensaria isso ? Essa é a sua história, eu não poderia dizer tal coisa baseado no que eu penso ser o certo ou o errado - ele olhou para Jude que ainda dormia. - Mas entendo o que você quer dizer, é mais fácil para as pessoas julgar do que entender, se colocar no lugar do outro.
Ele tinha razão. E talvez fosse por esse motivo que eu não queria contar a mais ninguém sobre o que acontecera ontem. Não queria ouvir criticas. E não queria pena também.
E Rain... Rain não estava me julgando e muito menos com pena de mim. Seus olhos e suas palavras tinham apenas compreensão.
- Eu me sinto tão culpada por Simas e Angélica.
- Não deveria. Você não tem culpa, ele é quem escolheu enganá-las - seu tom de voz era incisivo.
Deitei a cabeça no joelho e fiquei olhando Rain, sentado com as penas dobradas, o antebraço apoiado no joelho. Eu o julgara mal. Deveria ter entendido que ele estava passando por um processo difícil. Ele parecia um homem decente, pra dizer o mínimo.
- Eu não sei o que fazer, pra ser sincera - murmurei, minha voz saia baixa e cheia de sentimentos reprimidos. - O que restara ?
- Você é jovem Lis, tem todo o tempo do mundo para se reajustar.
- Mas eu não sei como. Não sei o que restara de mim mesma. Não sei mais o que eu quero - sussurrei. - E a culpa é toda minha.
- Você não tem culpa - argumentou ele.
Uma brisa com cheiro de terra molhada começou a soprar ao nosso redor, balançando os fios soltos de meu cabelo e o jogando em meu rosto. Coloquei a mexa rebelde atrás da orelha.
- Acho que sim porque... - minha voz falhou. - Sabe qual a verdade Rain ? Eu sempre tive medo de ficar sozinha, porque eu passei muito tempo sozinha mesmo com tudo aquilo de irmãos. E ao menor sinal de afeto e carinho, que pareceram sinceros naquele momento, eu me joguei.
A verdade. Era essa a verdade nua e crua. Sem polimento. Rain virou mais um pouco o corpo e pareceu se ajeitar para ficar mais próximo a mim, ouvindo com atenção ao notar a urgência na minha voz.
- E sabe, eu acho que eu sabia - confessei - eu acho que eu sempre soube como ele era. Como seria minha vida. Mas eu convenci a mim mesma de que seria diferente. De que quando nos casássemos ele serie diferente, que eu poderia fazer algo. Eu nem sei porque esperei isso. Eu só não queria ficar sozinha nunca mais.
Rain balançou a cabeça, indicando que estava acompanhando.
- Eu tapei os olhos - continuei com a voz baixa. - Eu vi os sinais, estavam ali o tempo todo, o ciúme excessivo, a falta de empatia, o fato dos sentimentos dele sempre importarem mais que os meus... eu vi tudo isso mas ignorei. E você pode me perguntar, por que eu ignorei ? - um som sem alegria escapou de mim. - Porque eu achava que eram só pequenos defeitos. E o que ele tinha de bom decerto que recompensaria.
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Flores para Lis
RomansaLis é uma das mais renomadas advogadas de sua cidade, com éticas de trabalho pessoais que conquistou a confiança de seus clientes, junto de seus outros quatro irmãos advogados. Mas alguns deles parecem não mais compartilhar das mesmas opiniões. Uma...