Eu estava parada em frente a janela, observando o céu se transformar de um azul brilhante para cinzento, com nuvens cor de chumbo anunciando provavelmente uma tempestade, quando Rain entrou batendo os pés na minha sala.
Eu o aguardava fazia uma hora. Ele estava atrasado.
Quando a porta se abriu eu virei o rosto em sua direção. Ele estava vestindo as habituais roupas escuras, e para a minha surpresa eu gostei das roupas. Eram ousadas comparada as que eu tanto via no meu dia a dia.
Hoje ele estava com calça jeans escura e uma fenda se abria em seu joelho. A jaqueta de couro preta combinava perfeitamente com os coturnos brilhosos. E os cabelos cheios estavam soltos. Me perguntei como um homem podia ter tanto cabelo.
Rain fechou a porta enquanto eu caminhava de volta até minha cadeira e sentava preguiçosamente, tentando não fazer careta para a pontada latejante em minha cabeça.
A dor irritadiça começou depois do almoço e só piorou com a medida que as horas passavam e o trabalho se desenrolava. Eu só queria ir para casa, tomar banho, fazer um balde de pipoca e ver qualquer porcaria na televisão enquanto sentia auto-piedade por mim mesma.
Rain estava atrapalhando meus planos.
- Oi - ele disse, parecendo relutar entre ser educado e deixar seu temperamento vencer. Ele se aproximou e colocou um papel cuidadosamente dobrado na mesa. - Parece que agora sou oficialmente um suspeito.
Ele parecia irritado. Ou talvez aquele fosse o estado de espírito permanente de Rain. Eu não saberia dizer. E não me importava também. Pelo menos ele fora educado.
- Boa tarde senhor Connal. Ou boa noite - olhei para o relógio do computador que marcava mais de seis da tarde.
Indiquei com um gesto delicado a cadeira em frente. Ele se sentou.
- Eu tive um imprevisto - foi tudo o que disse como explicação.
- Você parece preocupado, posso te oferecer alguma coisa ? Um café ? - eu estava tentando ser educada com ele. Prometi a mim mesma que seria. Tentaria.
- Não. Eu estou só com um pouco de pressa, se pudermos começar logo.
- Você parece estar sempre com pressa - ponderei. - Se sempre tivermos que falar as pressas teremos que ter mais encontro que, acho, nós dois gostaríamos.
- É só que eu tenho muito trabalho e tenho outras coisas importantes a fazer - disse com aquele tom afiado de sempre.
Entrelacei os dedos e descansei em cima da superfície lisa da mesa.
- Isto aqui é importante senhor Connal. Se não fizermos direito qual será a chance de você sair disso ? Qual será a chance de você provar que não tem nada a ver com aquelas fotos ?
Ele pareceu trincar o maxilar. Mas eu não sabia dizer ao certo com toda a barba lhe cobrindo o rosto. Preocupação definitivamente brilhava naqueles olhos avelã. Nada da arrogância e do sorrisinho sarcástico.
- Do que precisa ?
- Primeiro deixa eu ver isto - peguei o papel que ele trouxera e dei uma lida. - Isso aqui é só uma convocação formal para você prestar o seu depoimento. Para você contar sua versão dos fatos.
- Você acha que acreditarão em mim ? - a pergunta saiu baixa, preocupada.
E eu senti uma pontada no peito. Eu sabia o que uma acusação como aquela custaria a ele. Já estava começando a custar. Eu andava monitorando o perfil dele na internet, parte porque eu gostava tanto daquelas fotos, embora eu nunca fosse dizer isso em voz alta, e parte porque eu queria ver as conseqüências das acusações. Pessoas xingavam ele nos comentários. Acusavam e dizia que ele não merecia os méritos de seu trabalho.
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Flores para Lis
RomanceLis é uma das mais renomadas advogadas de sua cidade, com éticas de trabalho pessoais que conquistou a confiança de seus clientes, junto de seus outros quatro irmãos advogados. Mas alguns deles parecem não mais compartilhar das mesmas opiniões. Uma...