II. O jardim

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Ty Lee gostava da vida rural que levava. Ela gostava de acordar cedo e de olhar as paisagens montanhosas e enevoadas que rodeavam sua casa. Gostava dos animais e especialmente das flores. Gostava um pouco menos da rotina barulhenta com meia dúzia de irmãs, mas ainda amava a família. Ty Lee teria ficado lá para sempre, se não fosse sua inquietação inata que implorava para conhecer o mundo.

O primeiro passo foi ser aceita em uma universidade na cidade grande. Na verdade, o primeiro passo havia sido fugir com o circo quando ela tinha onze anos e percorrer o país com eles até os quinze. Durante quatro anos, Ty Lee se dedicou a ser uma hábil acrobata. Ela amava dar piruetas e andar sobre a corda bamba, mas uma hora até mesmo aquilo ficou repetitivo. Então, Ty Lee continuou caçando aquela adrenalina e intensidade em outros lugares.

Para ir morar na cidade grande, Ty Lee precisou se planejar. Suas únicas habilidades bem desenvolvidas eram as circenses, e não havia muitas oportunidades para monetizá-las na cidade. Então, Ty Lee escolheu focar em sua única outra habilidade notável — seu talento com plantas. Abrir uma floricultura permitiria que ela tivesse uma renda suplementar além do dinheiro que os pais enviavam para ajudá-la. Ty Lee se sentia suficientemente mal que eles pagassem por suas despesas, considerando sua fuga passada e suas seis irmãs. Mesmo assim, eles não permitiriam que ela rejeitasse o apoio financeiro, ou então sequer deixariam que a filha morasse sozinha na cidade.

Desconsiderando o arranjo financeiro, Ty Lee estava se ajustando bem ao novo cenário urbano. Ela gostava do barulho, das luzes que coloriam as ruas durante a noite e dos prédios que encostavam no céu. A cidade nunca dormia, e Ty Lee também não. Era como seu habitat natural, sempre com algo de interessante para fazer, ou alguém interessante para conhecer. O problema era que as pessoas da cidade não estavam muito interessadas em conhecer ninguém. Mesmo que ela não admitisse, Ty Lee se sentia mais solitária do que nunca.

Ela não fazia muita questão de conhecer alguém que não quisesse conhecê-la. Exceto talvez a moça misteriosa do estúdio de tatuagem que ficava oposto à floricultura dela. Ty Lee acenava todos os dias para a jovem mulher com uma tatuagem de serpente no antebraço e, todos os dias, era ignorada.

Ty Lee sonhava que um dia ela acenaria para a moça serpente e a moça serpente acenaria de volta. No fundo, ela sabia que era apenas uma tolice.

Música: Flowers - In love with a ghost, Nori

A Serpente em meu JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora