Azula estranhou a ausência de Ty Lee. Repentinamente, elas passaram a se ver apenas quando Azula ia trabalhar, mas até o aceno de Ty Lee havia mudado. Era quase como se a florista a evitasse.
Apesar de tentar se convencer de que não se importava, Azula estava incomodada. Ela nunca fez questão da presença de Ty Lee. A garota quem insistiu em se aproximar. Então como ousava sumir assim? Por acaso não havia gostado do que encontrou? Azula deveria ter previsto.
— Seu último cliente foi há duas horas. Você tem alguém marcado para agora? — perguntou June.
Azula negou com a cabeça.
— Você pode ir embora se quiser. Sabe disso, não sabe?
Azula continuou sentada, voltada para o apoio da cadeira, onde ela havia encostado o queixo. Ela encarava a porta de vidro da entrada com determinação, quase sem piscar.
— Eu não acho que ela venha hoje — disse June.
— Quem?
Ela sabia de quem June estava falando, e June sabia que ela sabia.
— Vocês duas brigaram?
Azula suspirou e revirou os olhos.
— Não, e não importa se ela vem ou não. Nós não somos amigas e eu não ligo.
— Ok.
— É só que... É rude ignorar alguém assim.
June a encarou, segurando um ar de riso com a fala hipócrita. Mesmo assim, ficou em silêncio, porque queria saber até onde aquilo iria.
— E no fim das contas ela sequer agendou aquela tatuagem. Eu queria o dinheiro. Mas tudo bem, melhor assim. Aquela garota me dava nos nervos.
— Se quiser falar com ela, é só atravessar a rua. Ou você se esqueceu que ela trabalha do outro lado da rua?
— Eu não me esqueci, eu só não quero ir. Não tenho nada pra falar com ela.
— Ok.
— Mas talvez eu fale com ela se ela vier me pedir desculpas.
Dessa vez, June não conteve o riso.
— Desculpas pelo quê?
Azula a encarou irritada. Ela segurou no encosto da cadeira com mais força.
— Por me tratar feito lixo do nada.
— E você já pediu desculpas por isso?
— Oi?
June revirou os olhos quando Azula levantou a cabeça em surpresa. Ela não gostava de ter que soletrar as coisas para ninguém, e Azula era grandinha demais para ser tão ignorante aos próprios defeitos.
— Você já pediu desculpas por tratar ela feito lixo o tempo inteiro?
Azula abriu a boca, progressivamente mais ofendida. June não se importava. Ela não teria paciência para aturar um chilique. Se Azula enchesse o saco, ela iria embora para casa. Não era como se Azula pudesse demiti-la.
— Eu... Ugh.
Para o agrado de June, Azula desistiu de discutir. Ao invés disso, cerrou os dentes e se levantou da cadeira com raiva.
— Azula, você...
— Eu não vou falar com ela.
— Ok — June sorriu — Você pode me confirmar mais tarde se posso fechar o estúdio quando eu sair?
— Tanto faz.
Azula pegou sua bolsa e saiu pela porta da frente de cabeça quente. Ela olhou para o outro lado da rua num impulso. A floricultura tinha uma vidraça que permitia aos transeuntes um vislumbre do interior. Apesar disso, as plantas, tanto do lado de fora, quanto do lado de dentro, quase engoliam completamente a figura de Ty Lee. Azula observou que ela parecia triste e distraída, mal trabalhando em seu arranjo floral.
Decidida a não engolir o orgulho e falar com a florista, Azula continuou descendo a rua. Ela estava quase no fim quando percebeu que seu apartamento ficava na outra direção. A meia volta não poderia ter sido mais humilhante.
Azula passou novamente na frente da floricultura. Ty Lee havia parado completamente de organizar o arranjo.
A porta da loja se abriu de forma ruidosa.
— O que há de errado com você? — esbravejou Azula.
Ty Lee levantou o rosto, apenas ligeiramente surpresa. A luz dourada atravessava a vidraça e iluminava todo o interior da loja, incluindo a garota. Ela estava rodeada por flores de todos os lados. Era uma visão bonita e etérea. Ty Lee sorriu.
— Olá, Azula. Seja bem-vinda.
Azula piscou, sentindo-se estúpida por ter entrado e pela maneira que falou. Agora era tarde demais para voltar atrás.
— É só isso que tem a dizer?
Ty Lee olhou para o arranjo em suas mãos e deixou ele de lado. Ela cruzou as mãos e se apoiou no balcão em direção à Azula.
— Você nunca veio na minha loja antes. Posso ajudar em alguma coisa?
— Você está me ignorando.
Azula se sentia patética. Ela estava com raiva de Ty Lee por colocá-la naquela situação humilhante. A florista a encarou com uma pontada de culpa e tristeza.
— Eu sei. Me desculpa.
A honestidade pegou Azula de surpresa e ela deu um passo para trás. Talvez June tivesse razão. Talvez Azula fosse o problema. Talvez Ty Lee estivesse farta.
— Eu fiz alguma coisa?
— Ah... — Ty Lee desviou o olhar — Não é... Azula, eu sei que te irrito bastante, mas eu queria que você confiasse em mim.
— Do que você tá falando?
— Você sempre parece estar evitando alguém. Eu percebi isso nas vezes que saímos, mas não entendia ainda — Ela continuou — Acho que você já sabia que eu iria descobrir um dia.
Azula engoliu a seco. É verdade, ela esperava que Ty Lee soubesse alguma hora, só não esperava que fosse tão cedo.
— Eu não sabia como abordar o tópico, por isso acho que te ignorei. Não era bem a minha intenção, mas eu não queria te irritar.
Ty Lee a encarou com cautela, mas Azula permaneceu calada, como se estivesse em choque.
— Eu não deveria ter dito nada, me desculpa. Eu realmente não me importo com esse tipo de coisa — Ty Lee insistiu, nervosa — Eu sei que você não é o seu pai.
A florista saiu de trás do balcão e tentou alcançá-la, mas Azula recuperou o domínio das pernas e saiu correndo. Ela sentiu os olhos pinicarem. Chorar na frente de Ty Lee seria humilhante demais. Azula queria correr o suficiente para se transformar em fumaça e sumir. Aparentemente, seu passado iria sempre persegui-la. Ela teria que desabar outra hora, em outro local. Por isso, Azula fugiu.
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A Serpente em meu Jardim
Storie d'amore[CAPÍTULOS SEGUNDA, QUARTA E SEXTA] Uma energética florista se muda para a cidade grande e se encanta com a fria e atraente tatuadora com tatuagem de serpente que trabalha do outro lado da rua. Cafeterias, casas de chá e flores por todos os lados cr...