XXXV.

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Zuko tentou encontrar paz e tranquilidade na ausência de Azula após o último confronto intenso. Por duas semanas, durante o inverno, não tiveram notícias dela. Depois, sem aviso, Azula apareceu na casa de chá com Ty Lee, mas foi menos hostil do que ele esperava.

Mai deixou escapar a notícia de que Azula e a florista estavam namorando, o que depois tio Iroh confirmou. Zuko achou muito esquisito imaginar a irmã em um relacionamento. Ela não parecia capaz de sentir emoções como uma pessoa normal. Talvez Azula fosse mais humana do que ele pensava.

— Olha, com todo o respeito, mas Ty Lee realmente deve ser a única pessoa do mundo que aturaria a Azula em um relacionamento — disse Sokka, apoiado contra o balcão.

— Sokka! — A namorada dele o censurou — Talvez seja uma coisa boa a Azula estar namorando. O amor deixa as pessoas menos ranzinzas.

— Ou talvez deixe a Ty Lee mais ranzinza — Sokka retrucou.

— Eu não sei. É até fofo saber que mesmo Azula pode encontrar alguém, não acha? — Suki respondeu.

Zuko grunhiu e começou a passar um pano no restante do balcão.

— A Azula não tem qualquer habilidade social — Ele disse. No fundo, estava perplexo que sua irmã demoníaca tinha um relacionamento e ele não.

— Vai ver é de família — Sokka comentou e levou um puxão de orelha da namorada — Ai, ai, ai.

— Zuko, não se preocupa. Você é uma gracinha. Se eu e o Sokka decidirmos ser um trisal um dia, você tá no topo da lista.

O comentário de Suki fez com que Zuko entrasse numa crise de tosse. Ele sentiu o rosto arder até o pescoço. O rumo daquela conversa ainda iria matá-lo. Felizmente, Sokka mudou de assunto primeiro.

— A Katara tá possessa, cara. Ela se recusa a vir aqui pra não esbarrar na Azula. Por causa disso, o Aang também passou a furar com a gente. Ele faz tudo que a namoradinha quer. É nojento.

— Você também faz tudo que eu quero — Suki o relembrou.

— É diferente. Você tá sempre certa. A Katara é apenas mandona — Ele fez uma careta — Não é a mesma coisa se o grupo todo não vem. Precisamos consertar isso.

— Eu não posso proibir a Azula de pisar aqui. Tio Iroh não permitiria — Zuko respondeu.

— Eu sei, não tô propondo banir a Azula, mas... Sei lá. Tem que existir uma forma de tornar a convivência entre elas tolerável.

— Eu sou bem próxima da Ty Lee — Suki comentou — Talvez eu possa me aproximar da Azula e servir de ponte entre elas.

— Você é tão corajosa — Sokka beijou a bochecha dela — E altruísta. Ficar amiga da Azula é um sacrifício e tanto.

— Suki, você não precisa fazer isso — Zuko respondeu, apoiando-se no balcão.

— Vocês falam como se fosse a mesma coisa que nadar com tubarões. Relaxem! Eu e a Azula já lutamos no dojô e eu vivi pra contar a história.

— É mesmo? Achei que ela tivesse parado de lutar — Zuko disse com surpresa.

— Pois ela parecia bem em forma. Talvez voltar a lutar ajudasse a Azula a descontar a raiva de forma mais saudável.

— Duvido. Ela lutava em competições e continuava o anticristo.

— É, vamos pensar melhor antes de colocar logo a Azula pra treinar artes marciais — Sokka tremeu de medo.

— Vocês são dois medrosos — Suki concluiu.

Zuko não se importava tanto com a presença de Azula. Ela já não o insultava com tanta frequência. O que ele realmente gostaria era que ela admitisse os próprios erros e, bem, pedisse desculpas. Era mais fácil o inferno congelar que aquilo acontecer. Zuko não queria continuar insistindo num pé que não daria frutos.

— Com relação à Azula, estou lavando minhas mãos. O que ela fizer já não é mais responsabilidade minha. Eu não vou mais tentar fazer as pazes.

— E se ela quiser se reconciliar? — Perguntou Suki.

— Bom, nesse cenário improvável, talvez eu aceite. Tio Iroh me ensinou a importância do perdão, eu só não sou tão paciente quanto ele. Apesar disso, Azula sempre será minha irmã.

— E... falando em família... — Sokka baixou a vista e brincou com o próprio copo, nervoso — Como vão as coisas com o Ozai?

Zuko inspirou fundo, momentaneamente paralisado. Era o nome mais assustador em seu vocabulário.

— Eu ainda o visito, mas é perda de tempo. Talvez eu devesse parar.

— Deve ser muito difícil — Suki comentou com a testa franzida em preocupação — O que te faz ir lá?

— Sei lá. Talvez eu busque alguma explicação para as ações dele. Talvez seja por causa do tio Iroh. Eu não sei se vale a pena.

Ele cerrou os punhos ao redor do pano de limpeza sem perceber. Sokka e Suki o estudavam com cautela. Zuko não gostava muito que pisassem em ovos com ele só por causa de seu trauma.

— Bom, contanto que não te faça mal, você é uma boa pessoa por visitá-lo — Suki disse, depois de um tempo — Não que ele mereça a sua bondade.

— Ele sabe que Azula voltou?

Zuko negou com a cabeça.

— E se ela já o visitou na cadeia desde então, também não sei. Ozai nunca falou nada. Eu diria que não.

— Você acha que ele gostaria de saber? — Suki perguntou.

— Não sei. Parando pra pensar, eu acho que parte de mim quer... proteger a Azula. Eu sinto que se ela falar com Ozai, ele vai tentar manipulá-la de novo.

— Isso é muito atencioso da sua parte — Ela respondeu.

— Boa sorte, Zuko. Com tudo. Eu vou tentar convencer a Katara a voltar, embora seja o mesmo que falar com a parede. Eu e a Suki precisamos ir agora.

— Tudo bem. Obrigado por virem. Sei que tem sido desconfortável ultimamente.

— Continua sendo nosso local favorito, e você continua sendo nossa pessoa favorita — Suki o assegurou enquanto eles se levantavam.

Zuko corou e sorriu contente. Ele era muito sortudo. Seus amigos estavam dispostos em sua maioria a ignorar Azula apenas para visitá-lo. Quem sabe um dia a irmã dele pudesse ter esse mesmo tipo de apoio. Zuko era uma pessoa melhor por causa deles. Azula também poderia ser, se quisesse.

A Serpente em meu JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora