XVII. Crisântemos

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As duas se aproximaram bastante depois do mini drama. Azula permitia que Ty Lee matasse o tempo em seu apartamento, onde elas ouviam música e conversavam. Ty Lee gostava especialmente de fazer Azula rir. Ela era tão séria normalmente. Quando Azula ria, ela perdia a postura de menina rica e soltava sons constrangedores pelo nariz. Ty Lee achava adorável.

— Você desistiu da tatuagem? — Azula perguntou, eventualmente.

Ty Lee havia guardado a ideia em uma gaveta por um bom tempo enquanto elas se resolviam. Por causa disso, ela sequer tinha decidido quais flores tatuar. Azula traçou a clavícula dela com o dedo indicador.

— Que pena. Você parece incompleta sem uma.

O rosto de Ty Lee ardeu e ela o enfiou dentro da revista que estava lendo.

— Eu ainda quero fazer, só sou muito indecisa.

— Não tinha mesmo nenhum flash no meu álbum que você gostou? — Azula fez um beiço magoado.

— Não é isso. Todos são incríveis! É por isso mesmo que não consigo escolher.

— Eu poderia fazer um desenho só pra você também, sabia?

A oferta era tentadora. Ty Lee imaginou se Azula se referia ao stencil à mão livre que June explicou para ela uma vez. O rosto dela ardeu mais ainda com a ideia de Azula desenhando flores em sua clavícula. Talvez ela devesse escolher outro local.

— É mesmo? Isso mudaria o preço?

Azula balançou a cabeça em negação.

— Mas ainda preciso que você escolha as flores antes.

— Vou tentar decidir logo — Ty Lee prometeu.

Azula deu uma risada, daquelas que Ty Lee achava adoráveis e barulhentas.

— Sua palavra não vale de nada — a tatuadora respondeu.

Ty Lee se juntou a ela na risada.

Mais tarde, Azula a acompanhou até a floricultura e a observou montar arranjos. Ela até trouxe o caderno de rascunhos para registrar as flores da loja e talvez transformá-las em tatuagens. Uma delas poderia ser a de Ty Lee.

— Essas são tão simples — Azula apontou desinteressada para as flores que Ty Lee estava segurando.

— São margaridas. A simplicidade é o que as torna perfeitas coadjuvantes num arranjo. Elas ajudam a destacar a beleza da flor principal — Ty Lee sorriu enquanto enfiava margaridas no buquê.

— Hum... Até que faz sentido. Mesmo assim, deve ser uma droga ser coadjuvante.

— Eu gosto de margaridas. Você pode não dar muito por elas de cara, mas, se olhar direito, vai perceber a beleza delas. Não concorda?

Azula olhou com atenção para as flores e começou a rabiscá-las.

— Suponho que sim — ela respondeu.

Ty Lee sorriu e continuou seu trabalho com perfeccionismo. O olhar atento de Azula a deixava tímida, o que ela não vivenciava com frequência. Ty Lee buscou agir com naturalidade.

— Naquele dia que você me deu os jacintos, você disse que eles tinham um significado — Azula cortou o silêncio outra vez — Todas as flores têm significado?

Ty Lee assentiu.

— A maioria têm mais de um significado, e pode variar de cultura para cultura. Mesmo assim, é bom ter uma noção das flores mais adequadas pra cada situação — ela respondeu.

— Hum...

Azula olhou com atenção para as outras flores da loja, tocando delicadamente em algumas delas. A sensibilidade do gesto era incomum para ela. Ty Lee ficou admirada.

— Qual flor combina comigo? — Azula perguntou.

Ty Lee associava ela a várias flores com vários significados. Mesmo assim, seu primeiro instinto foi retirar um crisântemo vermelho para entregar a ela. Era uma de suas flores favoritas.

— O que essa aqui significa?

A pergunta fez Ty Lee corar profundamente e tossir de forma exagerada. Ela torceu para não parecer uma boba, mas sabia que era pedir demais.

— Ah, tem vários. Tipo os genéricos de felicidade, prosperidade e tudo mais — Ela abanou o rosto.

Azula girou a flor e sorriu. Talvez a tivesse achado bonita. Era difícil não achar crisântemos bonitos. Ela voltou a desenhar em seu caderno.

Ty Lee terminou o buquê em que estava trabalhando e o colocou de lado. Ela pegou um punhado de crisântemos amarelos e suspirou. Um símbolo do amor desdenhado. Não à toa também eram consideradas flores fúnebres. Tão lindas quanto eram tristes.

A Serpente em meu JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora