I. A serpente

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Azula costumava levar uma vida boa. Ela morava em uma casa grande, com vários funcionários ao seu dispor, e sempre ganhava tudo que queria. Ela era uma menina inteligente — um prodígio, diziam os professores — e estudava em colégios de elite onde sempre se destacava. Mesmo quando a mãe dela foi embora, a vida de Azula só melhorou. A mãe era a única pessoa em sua vida que não dava para ela o tipo de atenção que ela merecia.

A vida de Azula poderia ter continuado um paraíso, mas tudo mudou quando ela estava começando o ensino médio. Ela culpou o pai por ter sido preso num escândalo de corrupção que saiu nas notícias. Azula também culpou o tio por tê-lo denunciado. Por fim, culpou o irmão, simplesmente por ter nascido. Porque seu querido irmão mais velho conseguiu se recuperar do estrago. Porque ele sempre foi o preferido da mãe. Porque ele era feliz e ela não.

Zuko não tinha nada a perder. Ele já havia sido deserdado pelo pai e acolhido pelo tio antes mesmo da sujeira bater no ventilador. Azula perdeu a casa grande, os funcionários e a vaga em colégios de elite. Nenhum local de boa reputação queria oferecer uma bolsa a ela, porque ninguém queria ser associado ao pai dela. O tio se ofereceu como responsável, mas Azula preferiria morrer a morar com ele e com o irmão. Ao invés de aceitar qualquer ajuda, ela sumiu do mapa.

Após largar os estudos, Azula não tinha qualquer perspectiva de futuro. A vida para ela tinha acabado antes mesmo de começar. Antes mesmo de completar dezoito anos.

De alguma forma, no meio da fúria, da dor e do desespero, ela foi encontrando motivos para seguir em frente. Contanto que ela afundasse a raiva em algum lugar secreto do peito, Azula conseguia respirar e viver. Ela precisava de dinheiro, então aprendeu a tatuar. Não demorou para que dominasse a arte — afinal, Azula era um prodígio.

Agora, após retornar para sua cidade natal, Azula passava seus dias trabalhando em um pequeno estúdio de tatuagem com dois sócios numa rua comercial recheada de prédios altos e cinzas. Quando se permitia sentir alguma emoção, Azula ria de escárnio para seus próprios sonhos ultrapassados. Sonhar era uma atividade para tolos, e ela nunca seria tola novamente.

Música: Take me somewhere nice - Mogwai

A Serpente em meu JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora