XLVI.

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Ty Lee estava empolgada para sua primeira ação comunitária com as meninas do dojô. Suki iria liderá-las em demonstrações de defesa pessoal para grupos minoritários, especialmente mulheres que haviam sofrido algum tipo de violência. Azula havia aceitado acompanhá-la até o dojô naquela tarde.

Quando chegaram ao local, Suki as recepcionou com um sorriso amigável.

— Fico feliz que veio, Ty Lee. Vão aprender muito com você, especialmente com suas habilidades acrobáticas.

— Eu tô tão ansiosa que mal preguei o olho ontem — Ela respondeu, segurando as mãos de Suki.

Azula cruzou os braços, esperando a deixa para se despedir da namorada e ir embora.

— E você, Azula? Por que não fica para ajudar? — Suki sugeriu de repente.

— Eu? — Ela franziu as sobrancelhas em resposta.

— Sim, você é uma lutadora excelente. Por que não ensina algumas das suas habilidades para essas mulheres?

— Hã... — Azula olhou para Ty Lee, incerta.

Ty Lee a encarou com os olhos brilhando. Ela queria mais do que tudo outra oportunidade de ver Azula lutando. Além disso, a tatuadora estaria prestando um favor para a comunidade fazendo algo que tanto gostava. Talvez ela curtisse a experiência e acompanhasse Ty Lee mais vezes.

Azula suspirou quando viu a expressão no rosto da florista.

— Tudo bem.

Suki bateu palmas por tê-la convencido a ajudar, mesmo que o melhor argumento tivesse sido o olhar pidão de Ty Lee.

— Vem, vamos procurar um uniforme do seu tamanho.

— Eu tenho mesmo que...? — Azula começou a reclamar, mas Suki já estava puxando ela até o vestiário.

Suki começou a passar a pintura facial das guerreiras em Azula, explicando o significado da base branca e dos olhos vermelhos. O mais importante era que o uniforme as unia e que juntas elas eram mais fortes. Azula ainda não estava acostumada com trabalho em equipe. Ty Lee ajudou com os toques finais, passando as listras pretas nas sobrancelhas da tatuadora.

Não demorou para a turma de defesa pessoal chegar no dojô. As meninas se dividiram em grupos que Suki supervisionava enquanto elas davam as instruções de luta. Azula era... um pouco criativa.

— E é nessa posição que você gira as bolas dele com toda a sua força e daí...

Suki tossiu para chamar a atenção dela.

— Tudo bem por aqui, Azula?

Ela suspirou e revirou os olhos.

— Tudo ótimo. Como eu estava dizendo...

Azula prosseguiu com seus métodos que, embora violentos, eram bastante eficazes. Suki não tornou a censurá-la, contanto que os conselhos não escalassem para o que seria classificado como um crime.

Ty Lee se divertiu, pois sua seção era focada em escapar de amarras e outras formas de restrição usando suas habilidades circenses. Ela percebeu que podia aliviar o trauma daquelas pessoas demonstrando suas habilidades para entretê-las. Logo, todo mundo queria aprender um pouco. Não só para se protegerem, mas apenas por parecer divertido também.

— Você foi muito bem hoje — Suki a elogiou quando a aula terminou.

Ty Lee a abraçou em agradecimento. Em um banco próximo, Azula começou a remover a maquiagem que fazia parte do uniforme com um lenço umedecido.

— Você também, Azula. Fico feliz que tenha nos ajudado hoje — Suki emendou.

Azula levantou o rosto, ainda borrado pelos resquícios da pintura.

— Bom, até que foi divertido — Ela respondeu.

Suki sorriu contente.

— Você pode ajudar mais vezes, se quiser. Pareceram gostar bastante dos seus golpes.

O comentário fez Azula sorrir de orgulho. Ela realmente amava lutar. Ty Lee se perguntou porque Azula havia se privado de tantas coisas que gostava nos últimos anos. Tanto os estudos quanto as artes marciais.

— Vou pensar nisso — Azula prometeu.

As duas saíram do dojô de mãos dadas pouco depois. Ty Lee considerou o dia um sucesso. Azula parecia revigorada. Sentir-se útil a fazia bem. Elas só precisavam redirecionar todo o perfeccionismo de Azula para o bem.

— Eu tenho muito orgulho de você — Ty Lee comentou e plantou um beijo na bochecha da namorada.

Azula revirou os olhos, mas sorriu exibindo os dentes.

— Eu sei, eu sou a melhor lutadora que você já viu. Mas pode repetir se quiser.

Ty Lee riu.

— Você é a melhor lutadora que eu já vi.

— E a melhor tatuadora também?

— E a melhor tatuadora também — Ela concordou.

— E a melhor trans-

— Azula! — Ty Lee a cortou antes que concluísse a pergunta e corou como um tomate — Isso também.

Azula riu também e a empurrou de leve com o ombro.

— Gosto quando você massageia meu ego. Talvez eu continue com as boas ações só por isso.

— Perfeito. Temos um trato.

Ty Lee continuaria apoiando e motivando Azula o quanto fosse preciso, desde que ela a permitisse. A cada dia, Azula dava mais um passo na direção certa. Embora Ty Lee soubesse que ainda existiriam retrocessos, nenhuma cura é linear. Paciência era uma virtude que ela valorizava mais e mais a cada dia. Os frutos já começavam a aparecer.

A Serpente em meu JardimOnde histórias criam vida. Descubra agora